Sérgio Trindade foi um extraordinário colaborador da revista ECO 21, desde 2001.
Publicamos a seguir, um texto de 2017 sobre os dez anos do Prêmio Nobel da Paz ao IPCC. Juntamente com o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, Sérgio Trindade foi um dos cientistas premiados pelo Nobel por fazer parte do grupo de expertos do IPCC.
A notícia de sua morte por causa do Coronavírus ou COVID-19 deixou-nos órfãos na Revista ECO•21.
Um grande amigo, incentivador que nos prestigiou com seus relevantes artigos, especialmente sobre energia renovável.
Nossos profundos sentimentos, especialmente à família.
Lúcia Chayb
Diretora da ECO 21
Sergio C. Trindade nasceu em Ipanema, Rio de Janeiro, em 14 de Dezembro de 1940 e morreu em Scarsdale, Nova Iorque, em 18 de Março de 2020.
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25 anos de Agenda 21 e 10 anos do Nobel da Paz para o IPCC
2017 é Ano de Celebrações Especiais para o Clima e o Meio Ambiente
Sergio C. Trindade | Consultor global de negócios sustentáveis sediado em New York. Contribuiu para o Prêmio Nobel da Paz de 2007 concedido ao IPCC. PhD. ChE e MSc. em Engenharia Química pelo MIT e BSc pela UFRJ. Ex-Secretário Adjunto das Nações Unidas para Ciência e Tecnologia. Autor dos capítulos 34 e 37 da Agenda 21 aprovada na RIO-92
Há 25 anos era assinada no Rio, na Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a RIO-92, entre outros entendimentos internacionais, a Agenda de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI, a Agenda 21.
Em Outubro de 1991, fui contratado pela Secretaria da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Genebra, para ajudar a conceber e elaborar os capítulos 34 (transferência de tecnologia) e 37 (capacitação) da Agenda 21, um documento de 40 capítulos.
Em comemoração desse memorável evento ocorrido há um quarto de século no Rio, e por sugestão de Aspásia Camargo, ex-Secretária Executiva do Ministério do Meio Ambiente, e atualmente Subsecretária de Planejamento da cidade do Rio de Janeiro, fui convidado pelo Museu do Amanhã a participar da celebração do aniversário de prata da Conferência durante a semana de 5-9 de Junho de 2017, chamada “Ecos da Agenda 21”. O Museu do Amanhã, presidido por Ricardo Piquet, é uma magnífica iniciativa do Governo do Rio, um verdadeiro museu para o amanhã, focado no futuro sustentável da Terra.
Abri a reunião “Ecos da Agenda 21”, em 6 de Junho de 2017, com uma apresentação sobre as raízes da Agenda 21 e suas conquistas, contratempos e desafios futuros.
A cronologia de eventos pré e pós-Agenda 21 registra os seguintes marcos:
1972 – Declaração da Conferência ONU sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia: 26 Princípios foram formulados.
1987 – Relatório Brundtland, ex-Primeira Ministra da Noruega, sobre “Nosso Futuro Comum” em que o Desenvolvimento Sustentável atende às necessidades presentes sem comprometer as gerações futuras.
1992 – Cúpula da Terra sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO-92) aprova quatro documentos importantes:
– Agenda 21: Programa de Ação para o Desenvolvimento Sustentável,
– Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
– Declaração de Princípios para a Gestão Sustentável de Florestas, e
– A Convenção Quadro sobre Mudança Climática, UNFCCC.
1994 – Cairo Programa de Ação da Conferência ONU sobre População e Desenvolvimento.
1995 – Beijing Plataforma de Ação (problemas relativos a Gênero)
1997 – RIO+5, no Rio, revendo os progressos alcançados desde a RIO-92
2002 – RIO+10 em Johannesburg, África do Sul, discutindo a evolução do desenvolvimento sustentável dez anos após a RIO-92
2012 – RIO+20 no Rio, Conferência ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, debatendo a trajetória do desenvolvimento sustentável no mundo
2015 – “Transformando nosso Mundo: Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, recalibrando os compromissos com o desenvolvimento sustentável.
Comentei acerca do lento avanço da sustentabilidade no mundo desde a formulação inicial do Relatório Brundtland até os dias de hoje.
Assinalei que daqui para frente, seria útil concordar com uma definição operacional do desenvolvimento sustentável. Também muito desejável seria a promoção de processos participativos engajando “stakeholders” relevantes para definir prioridades de ação e meios de implementá-las. O desdobramento natural seria o estabelecimento de quadros institucionais e políticos adequados para o desenvolvimento sustentável em todos os níveis, incluindo os Planos Nacionais de Desenvolvimento Sustentável PNDS e outros. Mencionei a importância da “localização” do desenvolvimento sustentável conectando esforços locais e nacionais e mobilizando recursos múltiplos para promover e deslanchar programas de desenvolvimento sustentável. No dia anterior, fiz uma apresentação sobre energia limpa e renovável para os funcionários do Museu.
Foi uma ocasião esplêndida para lembrar as dificuldades da Agenda 21 e os desafios futuros, especialmente os impactos das mudanças climáticas, para prosseguir um caminho de desenvolvimento sustentável na Terra no futuro. Eu gostei muito de visitar minha cidade natal e seu novo e icônico Museu do Amanhã!
Décimo aniversário do Nobel da Paz do IPCC:
Com a flagrante exceção dos EUA, todos os países do mundo acreditam na Mudança Climática, suas causas e seus nefastos impactos na vida na Terra, como a conhecemos ao longo de nossa vida. O Acordo de Paris, de 2015, do qual os EUA se retiraram, homologou essas crenças. Felizmente, os EUA são um verdadeiro país federado onde vilas, pequenas e grandes cidades, municípios e estados podem tomar suas próprias iniciativas independentes dentro do pacto federativo. Assim, as iniciativas nesses níveis para combater as mudanças climáticas continuarão e se expandirão no país, não obstante a desastrada decisão em nível federal da presente Administração Trump.
Outubro de 2017 marcará dez anos que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – o IPCC compartilhou o Prêmio Nobel da Paz 2007 com o ex-vice-Presidente dos EUA, Al Gore, “por seus esforços para construir e disseminar maior conhecimento sobre mudanças climáticas feitas pelo homem e para estabelecer as bases das medidas necessárias para neutralizar essas mudanças”.
Entre muitos outros, eu tive o privilégio e a honra de participar dos esforços do IPCC que levaram a essa distinção.
Na euforia do momento, os co-Presidentes do Grupo de Trabalho III do IPCC, do qual eu era membro, emitiram uma carta em 15 de Outubro de 2007 aos seus membros, dizendo: “Vocês já devem ter ouvido falar sobre o Prêmio Nobel da Paz ao atribuído ao IPCC, em conjunto com Al Gore dos EUA. Isso faz de vocês um prêmio Nobel e nós, como co-Presidentes, queremos parabenizá-los de todo o coração com esse reconhecimento excepcional”.
O Grupo de Trabalho III emitiu relatórios especiais sobre muitos tópicos. “Além da contribuição para o Quarto Relatório de Avaliação (Clima), produziu Relatórios Especiais sobre Aviação, Cenários de Emissão, Transferência de Tecnologia, Ozônio e Clima, Captura e Armazenamento de CO2, bem como o Terceiro Relatório de Avaliação (Clima). O conjunto desse trabalho forneceu a base para o reconhecimento atual do IPCC como uma voz autorizada sobre o sistema climático, os impactos das mudanças climáticas e maneiras de evitá-los. Vocês podem se orgulhar desta conquista”.
Minha contribuição específica foi como o Autor Líder Coordenador do Primeiro Capítulo, “Gestão da Mudança Tecnológica em Apoio à Convenção sobre Mudanças Climáticas: Um Quadro para a Tomada de Decisão”, abrindo o relatório “Questões Metodológicas e Tecnológicas na Transferência de Tecnologia”, que foi publicado em livro pela Cambridge University Press no ano 2000.
Em 2012, a liderança do IPCC concordou em apresentar certificados personalizados “pela contribuição para que o IPCC recebesse o Prêmio Nobel da Paz 2007, para cientistas que contribuíram substancialmente para a elaboração dos relatórios do IPCC”.
Meu certificado personalizado é mostrado abaixo: