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Mico-leão-preto vira selo dos Correios

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Paula Piccin || Jornalista

A espécie símbolo do Estado de São Paulo, o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) agora é parte de uma coleção especial de selos dos Correios. Junto com outras espécies – as larvas do besouro (Pyrearinnus termitilluminans), que proporcionam o fenômeno conhecido como Cupinzeiro Luminoso, e a Preguiça-de-Coleira (Bradypus torquatus Ill), a imagem do mico agora é opção para envio de correspondências. O selo estará disponível a partir do dia 23 de Setembro, nas principais agências dos Correios.

A fotografia que estampa o selo é da bióloga Gabriela Cabral Rezende, pesquisadora do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, organização brasileira que realiza estudos sobre a espécie há 35 anos, no Pontal do Paranapanema (SP), por meio do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, trabalho reconhecido nacional e internacionalmente por meio de vários prêmios.

“Nós, brasileiros, precisamos conhecer mais a biodiversidade rica que nosso país possui. Só assim compreenderemos o real valor das nossas florestas e animais. O mico-leão-preto, por exemplo, já foi considerado extinto da natureza e só existe no Brasil e numa pequena porção de Mata Atlântica de São Paulo. Sua conservação é fundamental para a vida da floresta – já que ele é um excelente dispersor de sementes, por exemplo, e consequentemente, a nossa vida, já que todos dependem da floresta para ter água, qualidade de clima e alimentos”, explica Gabriela.

Mico-leão-preto Foto: Gabriela Cabral Rezende

Curiosidades sobre o Mico-leão-preto

As quatro espécies de micos-leões só existem no Brasil. O mico-leão-dourado (mais popular e vive nas matas do Rio de Janeiro), o mico-leão-da-cara-dourada (vive em território baiano), o mico-leão-de-cara-preta (que ocorre apenas no litoral Sul de São Paulo e Norte do Paraná) e o mico-leão-preto (que vive exclusivamente na Mata Atlântica de interior do Estado de São Paulo, especialmente a Oeste do Estado).

O mico-leão-preto tem como nome científico Leontopithecus chrysopygus. É reconhecida como a espécie símbolo do Estado de São Paulo. Isso porque existe apenas nesse Estado, nas porções Oeste e Sudeste, em remanescentes de Mata Atlântica de Interior e matas ciliares. Devido à intensa devastação dessa floresta e fragmentação de seu hábitat, a espécie sofreu uma redução significativa da população a aproximadamente 1500 indivíduos. Para se ter uma ideia, o mico-leão-preto foi considerado extinto por 65 anos, devido à ausência de registros na natureza, até sua redescoberta em 1970.

Os micos-leões-pretos são pequenos primatas que pesam cerca de 600 gramas quando adultos. Têm o corpo coberto por uma pelagem longa, predominantemente preta, com exceção da região do quadril que apresenta coloração alaranjada. Recebem esse nome por conta da pelagem da cabeça que, se assemelha a uma juba de leão. Vivem em grupos familiares de 2 a 8 indivíduos. Como são animais territorialistas, cada grupo defende e utiliza uma área própria, que pode variar de 40 a 400 hectares. Eles realizam suas atividades durante o dia, e à noite se abrigam em ocos de árvores para dormir. Geralmente, quando os pesquisadores precisam fazer estudos de observação, precisam estar atentos aos ocos onde os micos dormiram na noite anterior e acompanhá-los logo pela manhã. Eles não saem do oco durante a noite.

Se alimentam majoritariamente de frutos, mas também de pequenos animais, como insetos, lagartixas e pererecas, exsudatos das árvores (goma) e flores. Seus principais predadores são as aves de rapina, serpentes, iraras e pequenos felinos.

Atualmente, o mico-leão-preto é classificado na categoria “Em Perigo” nas listas de espécies ameaçadas internacional, brasileira e estadual, sendo os principais fatores de ameaça a perda e fragmentação de seu habitat. Especialmente no Oeste de São Paulo, a Mata Atlântica encontra-se fragmentada em pequenos pedaços de mata. Isso faz com que os grupos de micos (assim como outras espécies) fiquem isolados, com pouca disponibilidade de alimento e pouca chance de encontrar parceiros para reprodução. O isolamento faz com que eles comecem a se reproduzir entre os membros da própria família, gerando problemas genéticos e a consequente redução do número de indivíduos na população.

Sobre o Programa Mico-Leão-Preto

O IPÊ comemora em 2019 os 35 anos do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, criado e implementado pelo Instituto na Mata Atlântica de São Paulo. O trabalho começou a ser desenvolvido ainda antes da fundação da organização. A partir dele, aliás, é que o IPÊ criou suas bases para desenvolver toda uma metodologia de conservação da biodiversidade inovadora, pautada em: pesquisa científica, educação ambiental, envolvimento comunitário em negócios sustentáveis, restauração da vegetação na paisagem e apoio a políticas públicas.

Na pesquisa científica que completa 35 anos, o IPÊ tem como objetivo de longo prazo garantir ao menos duas populações viáveis e autossustentáveis da espécie, vivendo em um hábitat mais amplo, protegido e conectado. Os pesquisadores do Instituto desenvolvem uma série de estudos e experimentos inovadores que ajudam a compreender o comportamento da espécie nessa paisagem em constante mudança, e a delinear os caminhos para sua conservação. Um desses experimentos é a utilização do radio-colar com GPS para a espécie, usado pela primeira vez no Brasil em animais desse porte. Além disso, os dados do programa são utilizados para a produção de planos de ação de conservação de primatas no Brasil e no mundo.

Ao longo do tempo, o programa foi se combinando a projetos que, integrados, passaram a produzir mudanças sensíveis na paisagem da Mata Atlântica de interior. Diversas estratégias traçadas por estes projetos do IPÊ complementam de forma importante as ações de pesquisa científica, como a elaboração do mapa de áreas prioritárias para restauração florestal do Pontal do Paranapanema, hoje adotado para plantio de Reservas Legais em assentamentos rurais e grandes fazendas. Outra estratégia foi a implementação do maior corredor verde já restaurado no Brasil, com 26 quilômetros de extensão e mais de 2,7 milhões de árvores plantadas. O corredor conecta duas grandes manchas florestais, as Unidades de Conservação Estação Ecológica Mico-Leão-Preto e o Parque Estadual Morro do Diabo, ajudando no deslocamento, alimentação e abrigo de vários animais dependentes das florestas, como o mico. O corredor já é usado por algumas espécies e, em breve, os micos também estarão circulando por ali.

Outro meio de conservar o hábitat do mico é envolver a comunidade em ações de geração de renda. Atualmente, na região, mais de 60 famílias se beneficiam com projetos como a produção de café agroecológico, sistemas agroflorestais e viveiros comunitários, que contribuem significativamente com a renda de assentados rurais. Ao capacitar o pequeno produtor em modelos de produção mais sustentáveis e apoiá-lo com infraestrutura, o IPÊ implementa um modelo mais equilibrado de produção, com diversidade de alimentos e de árvores da Mata Atlântica, que traz benefícios para a floresta e para o produtor.

A combinação dessas estratégias do IPÊ, junto ao trabalho de diversas organizações da sociedade civil, governamentais e do setor privado levaram a conquistas importantes em prol dessa espécie:

– A criação de uma Unidade de Conservação para a proteção da espécie, a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto;

– A retirada do mico-leão-preto da lista internacional das espécies criticamente ameaçadas, passando a ser classificado pela como espécie em perigo, devido ao aumento do número de animais em vida livre, na floresta;

– A definição do mico-leão-preto como espécie símbolo do Estado de São Paulo e patrimônio ambiental do Estado.

O IPÊ também trabalhou na aprovação do tema Educação Ambiental na grade no currículo escolar do município de Teodoro Sampaio, onde a maior parte das ações do Instituto ocorre, junto a assentamentos rurais e ao Parque Estadual, que abriga a maior população de micos-leões-pretos do Brasil.

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