Lúcia Chayb e René Capriles || Revista ECO21
Uma revolta global de estudantes está em andamento; jovens de todo o mundo exigem que os adultos enfrentem a crise climática. Eles precisam ter uma base sólida e fazer uma parceria com os mais velhos e, assim, encarar os desafios futuros. Hoje essa é uma opinião generalizada, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, quando se trata de entender o novo fenômeno da rebelião ambiental que movimenta as ruas das grandes cidades do mundo industrializado.
A escritora Barbara Cecil, especialista em analisar os limites da vida, disse: “jovens talentosos, motivados, brilhantes e dedicados entraram em colapso na pouco exigente atmosfera que lhes oferecemos: as expectativas dos pais e da escola ficaram para trás pelo imediatismo da crise climática”. Uma aluna e ativista climática nos EUA, Laurie Chan, escreveu: “Ser capaz de fazer uma pausa e realmente pensar é tão raro e difícil nesta vida acelerada. A ideia de que somos mais produtivos se estivermos constantemente em movimento não é verdade e esquecemos quem somos, quais são nossos valores, quem queremos ser e para onde queremos ir”.
Rupert Read, professor de Filosofia na Universidade de East Anglia analisou a questão desta forma: “Uma onda mundial de greves escolares em luta pela crise climática foi iniciada pela notável Greta Thunberg. Alguns críticos afirmam que esses alunos-ativistas estão simplesmente perdendo tempo, mas eu discordo”. Falando tanto como defensor da luta contra a crise do clima quanto como filósofo, ele acredita que as greves das escolas são moral e politicamente justificáveis. Ele disse: “A filosofia pode nos ajudar a abordar a questão para saber se essa ação é garantida pela Teoria da Desobediência Civil. Isso afirma que, numa sociedade democrática, a pessoa é justificada em desobedecer a Lei somente quando outras alternativas foram esgotadas e a injustiça que está sendo denunciada é grave. No caso das greves da escola pelo clima, sem dúvida, é uma injustiça; a ameaça, é grave. Não há nada mais sério para eles”.
É possível afirmar que as outras alternativas já foram esgotadas. As pessoas, organizadas em ONGs, grupos e outras entidades da sociedade civil, têm tentado por décadas acordar os governos para lutar contra a ameaça climática. Felizmente nem tudo está perdido; muito recentemente o Reino Unido e a Irlanda declararam oficialmente estado de urgência climática. Portugal deve ser o próximo. Quem defende a proposta é o Bloco de Esquerda no Parlamento português. “Não temos muito mais tempo. Não há Planeta B”, diz o projeto de resolução que recomenda ao governo que “aja em conformidade, assumindo o compromisso com a máxima proteção às pessoas, economias, espécies e ecossistemas, e com a restauração de condições de segurança e justiça climáticas” e antecipa a meta de neutralidade carbônica de 2050 para 2030. Já no Brasil, a realidade é outra. Os jovens ainda não foram sensibilizados pelas questões ambientais; as recentes passeatas estão ligadas mais ao fator econômico e curricular.
Os dois Ministros da Educação do Governo Bolsonaro ignoraram a importância do meio ambiente na formação profissional. Já os oito ex-Ministros do Meio Ambiente que ocuparam o cargo desde 1993 até 2018 lançaram uma severa advertência sobre o desconstrução ambiental que se instalou no atual executivo. Na Europa e nos EUA os jovens protestam e processam os seus governos; no Brasil, por enquanto, os mais velhos são os que estão lutando para evitar a catástrofe. Os jovens estão mais preocupados com a incerteza de ter um trabalho no futuro imediato do que com a preservação da biodiversidade, mesmo que um milhão de espécies possam desaparecer nas próximas décadas.
Com os agrotóxicos dizimando os polinizadores e o desmatamento avançando como um tsunami, a previsão é que o Brasil vire um imenso Brumadinho. Em pouco tempo a lama contida pelas barragens invadirá as nossas cidades. A Europa sabe disso e o tema foi colocado pelos políticos verdes, em algumas campanhas políticas, tanto na França quanto na Alemanha.
A atual política ambiental brasileira é considerada como uma prioridade para o futuro Parlamento Europeu e, certamente, terá influência num eventual acordo com o Mercosul. Não seria surpreendente que os jovens europeus fossem os salvadores do Brasil da destruição ambiental.