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Natureza  e alimentos: Amazônia e Cerrado

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Arthur Soffiati |

As florestas tanto se beneficiam dos rios quanto estes delas. A umidade dos rios favorece o desenvolvimento de plantas arbóreas, arbustivas e herbáceas. Estas, por sua vez, retêm a água e regulam o regime hídrico dos rios. No âmbito do território brasileiro, encontram-se dois biomas florestais: a Amazônia e a Mata Atlântica. A segunda foi quase totalmente dizimada para o fornecimento de lenha, madeira e abertura de espaço para a agricultura, a pecuária e as cidades. A Amazônia dentro do território brasileiro e de países vizinhos vem sendo pouco a pouco derrubada, queimada e substituída por pastos principalmente, mas também pela expansão urbana. Esse processo se acentuou drasticamente nos últimos quatro anos, em função de estímulos governamentais.

Várzea do rio Solimões – Foto Eduardo G. Neves

Onde há floresta não há pobreza, contrariamente a declarações de representantes  que já se afastaram de cargos de comando. Mas a destruição ficou. Só existe pobreza quando a população perde o contato com seu meio e quando ele é empobrecido. No mais, estudos recentes vêm demonstrando que a Amazônia abrigou uma população com cerca de dez milhões de habitantes. Ela manejava a floresta e a combinava com a agricultura, a caça e pesca, como mostra Eduardo Góes Neves (“Sob os tempos do equinócio”. São Paulo: Edusp/Ubu, 2022). Daí ser estarrecedor ver comunidades indígenas e ribeirinhas acometidas pela fome e pela desnutrição nos dias de hoje.

Eduardo Góes Neves – Sob os tempos do equinócio

O esquecido livro “A alimentação sertaneja e do interior da Amazônia” mostra a infinidade de recursos alimentares fornecidos pela floresta em termos de vegetais e animais (SAMPAIO, Alberto José de. “A alimentação sertaneja e do interior da Amazônia”. Série Brasiliana vol. 238. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936). As frutas e os peixes entram de forma abundante na alimentação amazônida (KZAM, Camila e MARTINS, Paulo. “Culinária paraense”. Belém: Instituto de Educação e Cultura da Amazônia, 2005).

Cupuaçu também conhecido como “cupuacivis”.

O Cerrado é considerado a savana mais rica do mundo em termos de biodiversidade, pois abriga diversos ecossistemas e, sobretudo, as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata. A posição central do Cerrado no território do Brasil transforma-o num bioma de transição entre os demais biomas. Ele está no centro dos biomas Atlântico, Amazônico, Caatinga, Pantanal e mesmo Campos dos Sul. Várias espécies vegetais e animais do Cerrado integram outros biomas. O lobo-guará, por exemplo, tem aparecido no bioma costeiro e, com frequência, é atropelado ou abatido. Mas há também espécies que só ocorrem nesse grande bioma. A biodiversidade é grande. Calcula-se que existe cerca de 320.000 espécies animais no bioma.

Alberto José de Sampaio – “A Alimentação Sertaneja e do Interior da Amazônia”

As principais ameaças para os animais que vivem no cerrado são decorrentes da destruição de seus habitats, desde desmatamento, queimadas, crescimento urbano desenfreado, tráfico de animais, expansão das fronteiras agrícolas, pecuárias e de monoculturas, exploração de madeira para a produção de carvão, dentre outros. O Cerrado, originalmente, não precisava importar nenhum alimento ou ingrediente. O sal era encontrado nas barreiras salgadas, fonte de salinidade para os humanos e outros animais. O açúcar era fornecido pela grande diversidade de frutas e pelo mel produzido por grande variedade de abelhas nativas. No entanto, o Cerrado perde biodiversidade progressivamente com o avanço do agronegócio e com o desmatamento geralmente por queimadas. O poeta goiano Gilberto Mendonça Teles, num poema-processo, retratou bem o empobrecimento do Cerrado.

Mesmo assim, o livro “Gastronomia do Cerrado” mostra que ainda os alimentos do bioma são a base de rica gastronomia (MEDEIROS, Rita. “Gastronomia do Cerrado”. Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2011).
Alguns dos animais que correm o risco de extinção são: a onça-pintada, a jaguatirica, o tatu-canastra, o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, a águia-cinzenta, o gato-maracajá, o gato-do-mato pequeno, o cachorro-do-mato-vinagre, dentre outros. O bioma, abrange 11% do território nacional, ocupando uma área de 844.453 Km². Apresenta clima semiárido e possui vegetação com poucas folhas e adaptadas para os períodos de secas, além de grande biodiversidade. Ele poderia ser considerado a savana da América do Sul. 

Pequi do Cerrado

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