O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil e berço das principais nascentes do país, enfrenta uma crise ambiental sem precedentes. Grande parte dessa devastação está associada ao fato de que mais de 55% das terras no Cerrado são de propriedade privada. Ao contrário da Amazônia, onde a legislação exige que até 80% da área seja conservada, o Código Florestal determina que no Cerrado apenas 20% das terras precisam ser mantidas com vegetação nativa. A baixa exigência de conservação, somada à ausência de fiscalização eficaz em terras privadas, têm acelerado o desmatamento e as queimadas na região.
De acordo com dados do MapBiomas, o Cerrado foi o bioma mais desmatado em 2023, com perda de 1.110.326 hectares de vegetação nativa, uma área do tamanho de dois Distritos Federais. Essa devastação é amplamente associada à expansão do agronegócio e à falta de controle sobre o que ocorre dentro das propriedades particulares. “O problema não é apenas o percentual limitado de conservação exigido por lei, mas a falta de fiscalização eficiente nas áreas privadas. Sem um controle rigoroso, muitos proprietários ignoram suas responsabilidades ambientais”, alerta Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados.
Estudos recentes indicam que, além da perda da biodiversidade, a destruição do Cerrado compromete seriamente o regime hídrico brasileiro. A falta de vegetação afeta a recarga dos aquíferos e o abastecimento dos rios que nascem no Cerrado, essencial para a agricultura e o consumo humano em diversas regiões do Brasil. Com isso, uma crise ambiental no Cerrado tem impactos diretos não apenas no meio ambiente, mas também na economia e na vida de milhões de brasileiros.
“A proteção do Cerrado deve ser prioridade nacional. Sem fiscalização e políticas públicas adequadas, continuaremos a perder esse bioma. É fundamental que o governo e os proprietários da terra se unam para garantir a conservação do que ainda resta”, reforça Yuri.