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DO SERINGAL AO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA CLIMÁTICA

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Rudá Capriles | Eco21 |

Marina Silva tem uma história digna de um filme. Em sua infância na floresta do Seringal Bagaço no Acre, trabalhou na roça, cortando seringueiras e colhendo castanhas com sua família. Seu pai fez questão de lhe ensinar matemática para não ser vítima dos comerciantes que se aproveitavam da falta de estudo da população local para tirar proveito nas transações na hora de trocar a borracha em mercadorias e outras transações.  

Na adolescência mudou-se para a capital, Rio Branco, onde foi alfabetizada. Concluiu o ensino médio e posteriormente graduou-se em história pela Universidade Federal do Acre. Católica, era frequentadora da Igreja e almejava ter uma vida de freira, até que um dia aos 17 anos ela leu um cartaz em sua paróquia que mudou sua vida. O cartaz convidava pessoas para um curso de Liderança Sindical Rural com a presença de Chico Mendes e o padre Clodovis Boff. Marina se inscreveu. Isso lhe abriu a mente em relação a seu papel de liderança diante da sociedade. Nascia ali a sua relação de amizade e ativismo ambiental com Chico Mendes, nessa época despertou o seu interesse pelos movimentos sociais, sendo presente tanto na cidade como ouvindo as necessidades das comunidades da floresta, esse é somente o começo da sua trajetória política.

Nos anos 80 começou a consolidar a sua carreira política.  Ao lado de Chico Mendes fundou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre, em 1985, da qual foi vice-coordenadora. Em 1986, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e candidatou-se pela primeira vez à deputada federal, mas Marina Silva e Chico Mendes não foram eleitos naquela eleição.  Na tentativa seguinte, em 1988, Marina Silva foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, sendo a única representante da esquerda na câmara municipal.

Nos anos 90 candidatou-se à deputada estadual e obteve a maior votação e foi eleita novamente.Logo no início de seu mandato, Marina Silva, sentiu na pele  as consequências de ter vivido a infância na floresta dominada por grileiros que não tinham pudor em contaminar o meio ambiente. Ficou doente devido a contaminação por metais pesados, mercúrio, por exemplo, além de contrair três hepatites e cinco malárias. Lutou pela vida e venceu!

Em 1994 foi eleita senadora da República e novamente obteve a maior votação com o adendo de ser a pessoa mais jovem a ocupar o cargo até então.

Em 2002 foi reeleita senadora e destacou-se na defesa dos povos indígenas, na demarcação de terras e na criação do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal.

Em 2008 retornou ao Senado e dessa vez teve papel fundamental em fazer o governo assumir metas na redução das emissões dos gases do efeito estufa (GEE) e foi uma voz dentro do Governo e do Congresso na luta pela criação de um  Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

Marina Silva – Foto: Wilson Dias – ABr – 2003

MARINA SILVA NO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2003)

   Segundo editor da Revista Eco21 René Capriles (1945-2021), “Tão importante quanto a volta para o Brasil de exemplares da arara azul engaiolados no exterior ou das exitosas campanhas de preservação das tartarugas marinhas, do boto cor-de-rosa ou do peixe-boi e das investidas contra os especuladores do mogno, é a nomeação da Senadora Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente e dos seus segundos no comando, Cláudio Langone como Secretário-Executivo do MMA e de Marcus Barroso Barros para a presidência do IBAMA.

Os três serão os responsáveis pela implementação de uma nova política ambiental baseada nos princípios definidos no documento “Meio Ambiente e Qualidade de Vida no Brasil”, elaborado pelo Partido dos Trabalhadores ainda na etapa da campanha eleitoral, onde se afirma, entre outras, assertivas, que “O principal compromisso do governo Lula na busca de um desenvolvimento ecologicamente sustentável, socialmente justo e economicamente viável para o Brasil será trabalhar incansavelmente pela melhoria da qualidade de vida e por um ambiente saudável para todos. É o mesmo compromisso manifesto na Agenda 21, que ainda não foi devidamente implementada no Brasil”.

Em 2003, Lula anunciou o nome de Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente, seu nome representava um avanço para causas ambientais, era a oportunidade para se desenvolver uma política ambiental séria e comprometida realmente com as inúmeras questões que eram ignoradas pelos governos anteriores. Sua proposta era uma agenda de trabalho implementada juntamente com os ministros de Minas e Energia, da Agricultura, da Integração Nacional, da Secretaria de Pesca, algo que não é simples de se fazer e com o passar do tempo e muita batalha pela causa ambiental o desgaste político foi inevitável. Após cinco anos e quatro meses no cargo de ministra, houve a demissão da então ministra Marina Silva, fato que revelou ao Brasil a sua frágil política ambiental dominante. O Brasil perdeu uma ministra compromissada que se viu obrigada a entrar em “choque” com a estrutura do poder vigente e foi afastada. Vale a pena relembrar o embate entre Marina Silva e a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo licenciamento ambiental das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que discordavam. Na época Marina Silva falou: “Jogaram o bagre no colo do presidente. O que eu tenho com isso? Tem que ter uma solução”, referindo-se a população de bagres da região que estaria ameaçada com a construção das usinas. Porém a gota d’água foi quando Marina Silva levou a público os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelando que o Governo estava regredindo na missão de conter o desmatamento da Amazônia, fato que não deve ser escondido, mas a divulgação não alegrou a cúpula do Governo. Sua demissão acabou simbolizando a fragilidade do Governo diante das políticas ambientais na época.

Ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva

DE VOLTA AO MINISTÉRIO, AGORA MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E DA MUDANÇA DO CLIMA

O anúncio de Marina Silva para o ministério do meio ambiente do governo Lula foi feito no dia 29 de dezembro de 2022, mas a sua posse se concretizou nesta quarta-feira, 4 de janeiro de 2023. “Agradeço a confiança depositada pelo Lula para, juntos com a nossa mobilizada sociedade, enfrentarmos o grande desafio de resgatar e atualizar a agenda socioambiental perdida”, publicou Marina Silva.

Após o Brasil ter um Governo mais preocupado com o agronegócio e a passar a boiada, Marina disse: “O que vimos nesses anos que se passaram foi um completo desrespeito pelo patrimônio socioambiental brasileiro. Povos indígenas, quilombolas, sofreram a invasão de suas terras e territórios, nossas unidades de conservação foram atacadas por pessoas que se sentiam autorizadas pelo mais alto escalão do governo. Boiadas passaram no lugar onde deveriam passar apenas políticas de proteção ambiental. O estrago só não foi maior porque as organizações da sociedade, os servidores públicos, vários parlamentares, o Ministério Público e a Alta Corte do poder judiciário se somaram em defesa do meio ambiente”. Marina Silva retorna como uma imponente liderança no comprometimento de atender as políticas socioambientais cruciais para o futuro do nosso planeta e já anunciou a criação de novas secretarias como: do Controle do Desmatamento e Ordenamento Territorial, da Bioeconomia, da Gestão Ambiental Urbana e Qualidade Ambiental, e dos Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável.

Sua nova agenda também terá ênfase no combate às mudanças climáticas e prometeu a criação da Autoridade Nacional de Segurança Climática. Durante seu discurso de posse Marina Silva também falou sobre a mudança do nome do ministério “Entre as medidas tomadas, está o acréscimo ao nome do Ministério, que agora se chama Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, permanecendo a mesma sigla: MMA. Esse aumento nominal tem uma razão que não é retórica: a emergência climática se impõe. Queremos destacar a devida prioridade daquele que é, talvez, o maior desafio global vivido presentemente pela humanidade… A política de mudança do clima foi completamente esvaziada, a ponto de que o Brasil, que antes era um expoente ator na esfera global, passou a ser visto como um pária”.

A volta de Marina Silva é a chama da esperança de um futuro mais resiliente para o Brasil, valorizando os povos originários, mas sem esquecer da bioeconomia, um Brasil que tem potencial de ser, e será referência positiva em termos socioambientais para o resto do mundo, um País que estimula a economia verde e circular, que não espera acontecer, a hora de decidir e agir é agora! 

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