Samyra Crespo |
Mais um Carnaval se foi. Uns vão descansar da folia, outros continuarão de férias, uma imensa maioria retornará ao trabalho e à rotina.
Para mim que fiquei “engaiolada” com meu gato no meu apartamento, e vendo mais televisão do que devia, vai ser o Carnaval das tragédias.
Tirando aquelas que estão distantes – e que se tornaram crônicas como a guerra da Rússia contra a Ucrânia, o foco foi nas tragédias bem aqui, no nosso próprio quintal.
O que se viu no litoral Paulista- mais de 600 milímetros de chuva em poucas horas, numa mesma região ou localidade – vai se tornando, como já era previsto, uma repetição.
Há muitos verões que colecionamos desastres.
O Rio em 2008, Friburgo em 2011, Petrópolis há pouco tempo, fora as ‘enchentes’ que flagelam os bairros pobres, carregando tudo na lama: pertences, sacrifícios financeiros, familiares, às vezes vidas de entes queridos.
Dizer que tudo isso se agravou em função das mudanças climáticas é verdade há muito anunciada e também muito negligenciada – ignorada por agentes públicos e privados.
Mas culpar a ‘natureza’ ou o ‘clima’ não obscurece o fato de que os governos – estaduais e municipais sobretudo, têm uma responsabilidade que não tem sido devidamente caracterizada nem passível de punição.
Assistindo ao Jornal da TV Cultura dias atrás, pude ver tanto a fala de um dos maiores climatologistas do país, Carlos Nobre, quanto os comentários do advogado, ex parlamentar ambientalista Fábio Feldmann.
Em duas linhas, Carlos Nobre alerta para um horizonte sombrio: o cenário das chuvas, tormentas e furacões vai piorar.
A Serra do Mar é vulnerável e a população que ocupa indevidamente as encostas (e não são somente pobres) estão em risco de cor vermelha.
As medidas para socorrer as pessoas e municípios flagelados pelas chuvas são necessárias, mas estão longe de ir ao âmago da questão, que é prevenção, adaptação e mitigação.
Fábio Feldmann por sua vez, enfatizou a necessidade de responsabilização dos agentes públicos e privados nestes sucessivos casos em que a nossa comoção – e até nossa solidariedade – não diminui o sofrimento dos atingidos.
A sociedade tem que acordar deste sentimento de luto e impotência. Há muito o que fazer.
No varejo podemos contabilizar muitas ações emergenciais, no atacado pouco se verifica evolução em políticas públicas efetivas.
Ao contrário, a ocupação de áreas de mata, de encostas e de margens de rios, lagoas e mares tem sido crescente. A invasão de áreas protegidas conta com a omissão e às vezes até do conluio dos poderes locais.
Essa tendência é mórbida e trágica.
Mostra que só aprendemos por meio da pedagogia da dor. A um custo muito alto e talvez fatal.