por Jorge Pontes *
A Ministra do Meio Ambiente Marina Silva pode até sair derrotada na queda de braço que trava com o Ministério das Minas e Energia pela exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, mas a razão está 100% do seu lado. Aliás, ela cumpre à risca o seu papel de titular da pasta ambiental, que é de priorizar a defesa e a preservação do meio ambiente sobre quaisquer outros aspectos.
Em uma audiência na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal na última quarta-feira 23, Marina acertou na mosca quando disse que não existe “conciliação para questões técnicas”. Fica de fato muito difícil rebater o argumento da ministra sem subverter a ordem das coisas. Enfim, como acochambrar com uma afirmação que está calçada na ciência?
Questões e aspectos políticos não podem nem devem influenciar decisões técnicas, sob o risco de corrompê-las. A propósito, é exatamente o oposto que deve ser aplicado, isto é, decisões políticas devem ser tomadas à luz e com base nas premissas e conclusões técnicas.
Incrível como os que defendem a exploração da região a qualquer custo — contra as recomendações do Ibama — parecem não considerar que estamos vivendo os estertores da era dos combustíveis fósseis. Essa realidade nos impõe, sobretudo, colocarmos nossa atenção e esforços na busca por novas matrizes energéticas.
Isso sem falar na ameaça das mudanças climáticas (aquecimento global), e na deterioração galopante de extensas áreas da Região Amazônica, flagelos que se entrelaçam em relação de causa e efeito.
A prospecção, exploração e utilização de combustíveis fósseis estão com os dias contados no mundo, principalmente por conta do esgotamento de suas reservas. A humanidade já vislumbra um planeta que, queiramos ou não, funcionará sem a combustão de petróleo e seus derivados. A bem da verdade não suportaríamos a continuidade da era do petróleo.
Por outro lado, a Amazônia, cuja integridade é vital para o equilíbrio do clima da Terra, pode estar chegando ao estágio que os cientistas denominam ponto de não retorno, que ocorre quando a sua cobertura florestal perde a capacidade de se autorregenerar, em função do desmatamento, da degradação e do próprio aquecimento global, esse último aprofundado, em grande parte, pela queima desenfreada de combustíveis fósseis.
A forma como os países vêm se arrastando para a tomada de medidas sérias e eficazes para a contenção desses processos de mudanças climáticas nos mostra, além de uma invencível incapacidade do homem de reagir transcendendo a sua própria existência, a desoladora ausência de verdadeiros estadistas à frente da comunidade das nações.
As nossas autoridades também deveriam, nessa contenda da Foz do Amazonas, considerar o custo-benefício da empreitada: se vale a pena colocar em perigo delicados ecossistemas costeiros da nossa já ameaçada Região Amazônica, por um derradeiro ciclo de exploração de combustível fóssil.
Enfim, a descoberta desse petróleo na Amazônia nos coloca em uma grande encruzilhada, que temos de decidir olhando para o alto e para frente, e, principalmente, pensando no futuro.
Jorge Pontes | Delegado da Polícia Federal que idealizou e instalou a unidade de repressão aos crimes ambientais na instituição. É autor do livro Guerreiros da Natureza – A História do Combate aos Crimes Ambientais na Polícia Federal