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AMAZÔNIA EM CHAMAS

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Por Elisa Homem de Mello | Redação Eco21 |

Há um alerta importante que foi acionado na Amazônia, consumida em chamas, nos últimos dias. Seriam infindáveis os motivos para convencermos quem quer que fosse a investir (no sentido mais amplo da palavra) nestas terras, pois todas as soluções ecológicas e sustentáveis para o mundo passam pela Amazônia. Mas o alerta soou quando somaram-se a esse cenário de absurda falta de oportunidades, o aumento da temperatura ambiental global e o fenômeno climático El Niño, ou seja, a carga está pesada e impedindo a prosperidade na região. Entenda por que!

Em 2018, escrevi um artigo falando que a importância da Amazônia para o mundo era proporcional à sua extensão. Conheço o Norte do país desde 1998, trata-se de região complexa, cujas fronteiras não respeitam limites, que, por si só, se extrapolam.

E ainda que fosse para justificar o óbvio, se tivéssemos de pontuar os motivos pelos quais investir na Amazônia é lucro certo, enfatizaríamos o suprimento de água e a melhora na qualidade do ar que respiramos, visto que a região concentra 20% de toda água doce do Planeta e que os processos de evaporação e transpiração desta Floresta ajudam a manter o equilíbrio climático. Poderíamos lembrar ainda do fornecimento de medicamentos e matérias primas para os mais variados segmentos da indústria. Sem falar dos alimentos: a Amazônia é a última fronteira gustativa da Terra, é o local onde estão os sabores que o mundo desenvolvido ainda não experimentou e talvez o único lugar onde eles ainda existam. Aí também está 1 de cada 5 espécies de seres vivos do Planeta, contendo, portanto, a genética que proverá soluções para muitas das espécies atualmente em extinção e para as novas fontes de energia, já prevendo o fim do ciclo do petróleo.

Desde que escrevi este artigo até os dias de hoje, a região só presenciou descalabro, desmatamento em larga escala, explorações insustentáveis, assassinatos e muito, muito fogo!

Seriam infindáveis os motivos para convencermos quem quer que fosse a investir nestas terras, pois todas as soluções ecológicas e sustentáveis para o mundo passam pela Amazônia.

Com tanto potencial, fica fácil compreender que a Amazônia não precisa de ajuda, mas sim de oportunidades. Então, o que falta nesta região de tanta visibilidade e com tantos atributos desejados para que o empreendedorismo não seja apenas um ato de muita fé? O que falta para que as políticas públicas acolham com seriedade o cuidado com o meio ambiente e a responsabilidade social?

CARGA PESADA

Some-se a isso o aumento da temperatura ambiental global e o fenômeno climático El Niño e a carga que impede a prosperidade da região se eleva a potência gigante.

Segundo dados da ONU Clima e Meio Ambiente, de maio deste ano, as probabilidades da média anual de aquecimento ultrapassar 1,5°C entre 2023 e 2027 é de 66%! Pelo menos 1 dentre os próximos 5 anos será o mais quente desde o início dos registros. Além disso, a organização prevê que o fenômeno climático El Niño irá continuar durante o primeiro semestre de 2024. Esperam-se chuvas intensas e anormais para toda a América Latina, com impacto significativo no setor agrícola. Há alertas também para as contínuas condições de seca no Brasil, na Guiana e no Suriname, isto porque, durante o El Niño, rola um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Já no La Niña, acontece o oposto: as águas do Pacífico ficam mais frias do que a média. Ambos os fenômenos têm influência significativa nos padrões climáticos globais.

OUROBOROS

Assim como o símbolo do Ouroboros (do grego, “serpente que come a cauda”) ilustra inúmeros manuscritos alquímicos na Grécia antiga, parece ilustrar bem o Antropoceno também. Tanto o aumento da temperatura global quanto o fenômeno climático do El Nino estão se retroalimentando.

É aí onde mora o perigo!

Pesquisa conduzida por cientistas dos EUA e da Austrália analisou a atmosfera da Terra nos últimos 800 anos e concluiu que o aquecimento global pode deixar o El Niño mais longo.

Esta é a deixa para eu te lembrar de quais as principais consequências do El Niño hoje:

  1. Alteração da vida marinha na costa Oeste dos EUA e do Canadá e no litoral do Peru;
  2. Aumento de chuvas no Sul da América do Sul e Sudeste dos EUA;
  3. Secas no Nordeste brasileiro, no Centro da África e no Sudeste asiático e centro-americano;
  4. Tempestades tropicais no Centro do Pacífico.

Misture tudo muito bem, leve ao fogo e… BUM!!! No caso das secas no Brasil, não apenas o Nordeste do país foi afetado, mas agora também o Norte. A Amazônia já enfrenta os efeitos das mudanças climáticas, especificamente do aquecimento do Oceano Atlântico Norte. Períodos mais secos aumentam a chance de fumaças de incêndio em todo país. As fumaças de incêndio se caracterizam pela presença excessiva do monóxido de carbono (CO), gás produzido em muitos incêndios e que, quando inalado, impede que o sangue transporte oxigênio (O) pelo corpo. O Jornal da USP informou, recentemente, que ciclones e tempestades no Sul do país também já estão sendo relacionados ao El Niño, que além de provocar a redução significativa das chuvas no Norte e Nordeste do país, causa um aumento pluviométrico significativo nas regiões Sul e Sudeste, onde 25% das chuvas já são em decorrência da Floresta Amazônica. Para os especialistas, até o momento, “o fenômeno se encontra dentro dos parâmetros normais, embora esteja evoluindo possivelmente (se alguém conseguir traduzir isso para mim, escreva-me, por favor!) para aquilo que é chamado de Super El Niño, já observado entre 2015 e 2016″.

MENOS É MAIS

Menos Amazônia é igual a Mais calor intenso, a rios Mais secos, com Menos peixes e um DÉFICIT na biodiversidade e na indústria pesqueira de água doce da região de cerca de 50%. É o tipo de investimento que pontua em dobro, só que para baixo, como a Poupança, talvez.

Não dá mais para ignorar que somos TODOS muito sensíveis a qualquer mudança de curso do nosso planeta. Afeta a mim, afeta a você, afeta o boto-cor-de-rosa, uma espécie já ameaçada de extinção, devido à pesca predatória, “apesar do boto constituir grupo consensualmente (acordado entre certos tipos de humanóides do mal, claro, que certamente se esqueceram de combinar com os russos!) evitado para consumo”. Pasmem! Às vezes, nós jornalistas escutamos estas respostas. Não se deixem abalar e nem enganar!

Neste período de seca dos rios e de águas com temperaturas acima do normal foram encontrados centenas de botos mortos. Segundo apuração da Folha de SP, a seca na AM paralisou quase todas as formas de vida e está interrompendo os negócios e colocando em risco os moradores da região. O turismo sustentável, p.ex., existente no Encontro das Águas entre o Rio Negro e o Rio Solimões (só quem já foi sabe como é emocionante ver isto ao vivo), não tem sido possível por impossibilidade de navegação. Ambos os Rios não viam uma seca tão severa em 55 anos. E, em 13, é a segunda seca com alto grau de severidade.

De novo, minha deixa para eu te contar que alto grau de severidade quer dizer que os números estão batendo no ponto de não retorno, ou seja, na incapacidade, cada vez mais evidente, que a Floresta, e o Planeta consequentemente, tem de se regenerar sem ajuda humana.

Ironias à parte, minha gente!

O COMBATE AO FOGO

Há 30 metros de leitos secos e os drones identificam muitos focos de incêndio. O chefe da Divisão de Monitoramento e Combate ao Fogo (PREVFOGO), Lawrence Nóbrega de Oliveira, conta que, só no Estado da Amazônia já estão presentes 134 brigadistas com treinamento especializado oferecido pelo Canadá. Segundo ele, com as mudanças climáticas, tem-se percebido que “o fogo começa a andar em locais onde antes não andava. A população terá de se preocupar mais com isso, que deve vir junto com forte educação e readaptação das comunidades e sociedades para enfrentar os incêndios florestais no Brasil”, sugere Oliveira.

As fumaças de incêndio vêm de vários locais: Pará, Peru, Bolívia e África. E ela se espalha pelo Brasil, pois infelizmente (mas quero crer que felizmente) este é um problema global. Só dentro da região metropolitana amazonense foram quase 2 mil focos de calor, registrados em 2023. Conforme dados da Defesa Civil da região, até a 3ª semana de outubro, o Amazonas tinha 59/62 municípios em estado de emergência, pouco depois do Inmet registrar temperatura recorde de 39,7oC, na região, com mais de 600 mil pessoas afetadas, à época. Os registros do MapBiomas, de 2019 a 2022, mostram um aumento de 117,18% no desmatamento na Floresta Amazônica causado por incêndios. Enquanto o WRI nos dá uma dimensão das causas da perda de Floresta Primária no Brasil, desde 2002.

No dia 13/10, o Governo havia reforçado as forças de combate às queimadas na Amazônia. Dentre as medidas informadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) estavam os reforços no número de brigadistas, o envio de equipamentos, a disponibilização de recursos financeiros e o apoio à fauna. A Marinha do Brasil, por meio do Navio de Assistência Hospitalar Soares de Meirelles, em ação conjunta com o Exército e autoridades locais, distribuiu mais de 6 mil cestas básicas e 1,1 mil caixas de água mineral em municípios da região do Alto Solimões.

VAI FALTAR ÁGUA!

Segundo Ana Paula Cunha, pesquisadora especializada em seca no CEMADEN, se as águas do Atlântico Norte continuarem aquecendo (hoje o valor do aumento da temperatura já é de 1oC), os impactos na região podem ser intensificados. O Rio Negro (7º maior do mundo em volume de água doce) está em seu nivel mais baixo, desde 1902, e deve continuar descendo. Em outubro, atingiu a cota de 13,19m, considerada histórica na região, para o período. Em tempos de chuva e cheia, entre novembro e maio, a cota chega a mais de 30m e, pelo visto, foram poucas as vezes em que o nível caiu mais que a metade. O abastecimento de Manaus com a população estimada de dois milhões de pessoas, capta água diretamente no Rio Negro e a transporta por 5 km em uma tubulação gigantesca até o local de tratamento, de onde sai pronta para o consumo. ​​Os cinco municípios do Estado com maior densidade populacional, além de Manaus, são Iranduba, Parintins, Tabatinga e Manacapuru.

O desafio do Governo agora é evitar que a população que ficou isolada sofra com o desabastecimento de água e de alimentos. É providenciar a locomoção e o deslocamento da população, com meios de transportes seguros e capazes de dirigir em rios e “dunas” (tipo os anfíbios do MadMax). E rezar com fé pela chuva, que deve estar chegando agora, em novembro.

Em meio à estiagem, onde o nível do Rio Negro está apenas 66cm acima da seca histórica de 2010, a concessionária Águas de Manaus afirma que o sistema de abastecimento de água tratada da capital opera dentro da normalidade e que, com as projeções atuais, não há risco de desabastecimento ou racionamento na capital. A concessionária afirma também que Manaus irá garantir o abastecimento de água à sua população.

A gente está de olho!

SOBRE A AUTORA

Elisa Homem de Mello

Elisa Homem de Mello, Fundadora da EBVB e é correspondente da Eco21

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