Desde o dia 9 deste mês (Setembro), em pleno período de seca, um incêndio originado numa fazenda vizinha já destruiu cerca de 60% do Refúgio Ecológico Caiman, em Miranda (MS). O local, que abriga uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), sedia os trabalhos de campo do Projeto Arara Azul, comandado pela bióloga Neiva Guedes, que vem alcançando importantes resultados para essa espécie, ameaçada de extinção até 2014. Em 2019, a ação completa 30 anos de atividades com o apoio da Fundação Toyota do Brasil.
Por causa do clima extremamente seco e sem chuva, a estação reprodutiva encontrava-se bastante atrasada; mesmo assim o Projeto registrou cerca de 30 ninhos ativos com ovos e filhotes. Neiva, que não vê um quadro otimista de melhora na reprodução da espécie neste ano, afirma que a equipe do Projeto Arara Azul está atuando junto às equipes do Refúgio Ecológico Caiman e auxiliando o trabalho de mais de 150 profissionais, entre funcionários, vizinhos, bombeiros e demais órgãos ambientais, para combater o fogo, durante 24 horas por dia. “Neste momento, o mais importante é conseguir conter o fogo, para que não destrua a RPPN Aracy Klabin, com ambientes naturais protegidos há mais de 20 anos”, salienta a bióloga, que acredita ser necessária uma avaliação mais crítica do impacto ambiental após o término do incêndio.
“Na madrugada com temperaturas mais amenas o fogo tende a se alastrar menos. No entanto, à medida que o dia avança e a temperatura aumenta, pequenas rajadas de vento são suficientes para reiniciar o fogo e espalhar rapidamente”, explica Neiva. Especialistas preveem chuva apenas no final de Setembro, o que pode contribuir para a contenção dos focos de incêndio.
Consequências para o Projeto Arara Azul
No momento, não é possível mensurar o número de mortes de espécies da fauna do Pantanal. No caso da arara-azul, que está em período reprodutivo, a equipe de biólogos está avaliando diariamente as condições. A boa notícia é que, até o momento, os incêndios não destruíram muitos ninhos, diretamente. No entanto, já houve uma perda de um filhote por calor e desidratação, e um por predação. Porém, sabe-se que em situações semelhantes, deverá aumentar a competição e predação.
De acordo com avaliações prévias, uma grande área natural foi destruída, o que diminui a oferta de abrigo e alimento para os animais, aumentando a concorrência para os que continuam vivos. E a informação é de que diversos mamíferos e aves conseguiram migrar para outras áreas. Porém, cobras, jacarés e tatus são alguns dos animais que se tornaram vítimas do fogo. Assim que o fogo for contido será realizado de um censo envolvendo os dois projetos: “Arara Azul” e “Onçafari”, junto com pesquisadores da Embrapa Pantanal e algumas universidades. O censo servirá para avaliar os impactos na fauna, bem como estabelecer um projeto de longo prazo para acompanhar a recuperação da região.
Ainda segundo Neiva, esse desastre afetará drasticamente a reprodução das espécies do Pantanal nos anos seguintes, principalmente, a arara-azul considerando que tem baixa taxa reprodutiva. “Filhotes que nasceriam esse ano, estariam aptos a reproduzir apenas daqui 7 ou 8 anos, para ter um, no máximo, dois filhotes. Já os casais aptos nesse e nos próximos anos, sofrerão para encontrar cavidades adequadas para reprodução. Portanto, nosso trabalho de pesquisa e conservação terá que ser ainda mais focado e fortalecido para seguirmos com o equilíbrio do meio ambiente”, finaliza Neiva.
“É, justamente, para reverter essa situação, e dar vida à biodiversidade do Pantanal brasileiro, que a Fundação Toyota permanece firme no combate aos danos que afetam o ciclo reprodutivo da espécie”, afirma Saori Yano, Diretora-Executiva da Fundação.
Nacionalmente, além do Projeto Arara Azul, desde 2011, a Fundação Toyota do Brasil patrocina o Projeto Toyota APA Costa dos Corais, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O projeto prioriza a conservação dos recifes de corais e ecossistemas associados ao peixe-boi marinho em uma área de 406 mil hectares nos Estados de Alagoas e Pernambuco.