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Destacando as origens dos produtos florestais indígenas do Brasil

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Existem aproximadamente 305 etnias indígenas no Brasil, que falam mais de 270 línguas, além de centenas de comunidades extrativistas e quilombolas que dependem diretamente das florestas e outros ecossistemas nativos para a sua sobrevivência.

Esses povos possuem relações intrínsecas com a floresta, e seus sistemas tradicionais de manejo geralmente está associado ao uso de múltiplos produtos, reduzindo a pressão sob espécies, além de serem realizados em escala e intensidade com baixo impacto à floresta e sua biodiversidade.

Essas populações vêm ainda contribuindo, ao longo de gerações com o processo de seleção e melhoramento vegetal, acumulando um vasto conhecimento sobre manejo, reprodução e utilização dos ativos da biodiversidade de forma sustentável. Alguns destes ativos são bastante conhecidos dentro e fora do Brasil, e dependem diretamente da floresta em pé e da forma de vida e manejo realizado por essas populações. É o caso da castanha do Brasil, produto coletado manualmente pelos povos da floresta. E do açaí, que ganhou o mundo por suas características antioxidantes, se firmando como um produto de grande relevância econômica para os estados produtores do norte do país, como  é o caso do Pará por exemplo. E há ainda muitos outros, menos conhecidos como os óleos de copaíba e andiroba, utilizados largamente na indústria de cosméticos: e a semente de cumaru, responsável pelo aroma que se assemelha ao da baunilha, utilizado na alta gastronomia e também na indústria de perfumaria. Esses são apenas alguns dos exemplos de como o extrativismo destes produtos e manejados por estas populações contribuem no desenvolvimento de uma nova economia que alia a geração de renda e conservação florestal.

Contudo, consumidores no mundo todo praticamente desconhecem a origem destes produtos florestais, bem como as formas de manejo e coleta. Na maioria dos casos as cadeias de valor de produtos da floresta são informais, com participação de diversos intermediários, que geralmente remuneram muito mal os coletores. Esse desconhecimento e a ausência de mecanismos de rastreabilidade, transparência e origem da produção, colocam essas populações na escuridão, bem como suas histórias, formas de vida e manejo que passam a não são ser reconhecidas e tampouco valorizadas pelos consumidores.

Aliado a esse desafio, outro fator preocupante é o aumento contínuo da pressão e desmatamento na Amazônia especialmente em terras indígenas e Unidades de Conservação, ameaçando as populações tradicionais e indígenas, seu modo de vida e a biodiversidade brasileira. Então como conectar a população urbana com os povos da floresta de forma a reconhecer e valorizar o papel fundamental desses povos para a conservação da biodiversidade e manutenção da floresta em pé?

Por meio de iniciativas e redes multisetoriais como o Origens Brasil, (www.origensbrasil.org.br) que é uma rede de articulação (formada por populações tradicionais, povos indígenas, organizações da sociedade civil, empresas e consumidores), lançada em 2016 pelo Imaflora e ISA, que defende caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia a partir da valorização das atividades econômicas das populações tradicionais e povos indígenas, suas culturas e modo de vida. Os pilares do Origens Brasil são a articulação em rede, tecnologia e comunicação – aproximando o produtor de empresas e do mercado consumidor, que por meio de um qr-code, que é a própria logomarca do Origens Brasil, provoca uma viagem do consumidor ao território de origem do produto, as histórias dos coletores, sua culturas e muito mais. Uma conexão necessária de quem compra e consome na cidade com quem produz e conserva na floresta.

Neste ano o Origens Brasil recebeu o prêmio da FAO/ONU como inovação para alimentação e agricultura sustentáveis, (veja em: www.youtube.com/watch?v=3erhkjUyz). A iniciativa possui mais de 1.500 produtores membros, de 40 diferentes etnias indígenas, além de quilombolas e extrativistas, em aproximadamente 90 milhões de hectares, comercializando de forma ética com 15 empresas e impactando positivamente aproximadamente esses produtores e suas famílias.

Esse é apenas um dos muitos exemplos de iniciativas na Amazônia que tem o potencial de olhar de forma estratégica para os povos da floresta e para nossa biodiversidade e ajudar na construção de uma nova economia descarbonizada, mais inclusiva e justa, que gera riqueza e conserva, ajudando a manter de pé um dos nossos maiores patrimônios da humanidade, nossa Amazônia.

Patrícia Cota Gomes || Engenheira florestal e mestre em manejo de florestas tropicais. Gerente no Imaflora onde coordena a iniciativa Origens Brasil

Luiz Brasi Filho || Gestor ambiental e MBA em gestão de negócios socioambientais. Coordenador de Mercado no Imaflora/Origens Brasil

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