23 C
Rio de Janeiro
spot_img
spot_img

SÃO PAULO OCEAN WEEK 2023 – sob as bênçãos de Iemanjá

Mais lidas

eco21
eco21https://eco21.eco.br
Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

por Elisa Homem de Mello

Durante 5 dias, a cidade de São Paulo deu as boas vindas à Primavera, celebrando o Oceano. Por toda parte, o Memorial da América Latina foi banhado de cultura oceânica, ou, como vem sendo dito, ocean literacy (alfabetização oceânica). A intensa programação gratuita, voltada para o público em geral, contou com seminários, painéis, exposições, shows e espetáculos artísticos, mostras de cinema, workshops de ONGs de conservação marinha, gastronomia sustentável e encontros com grandes personalidades do mar. 

O modus operandis da vida moderna sobrecarrega o planeta e, sobretudo, o oceano. A 4ª edição da antiga SP Marina Week veio com força para atingir o objetivo de fazer com que todos compreendam que o oceano tem máxima importância climática, ambiental, econômica, política e social e que nossas vidas influenciam o oceano e o oceano influencia nossas vidas. 

Trata-se do maior ecossistema do mundo, que cobre 70% da superfície terrestre, fornece 50% do oxigênio que respiramos e é o maior depósito natural de carbono. Para implementar o ODS 14 (Vida na Água) e melhorar a compreensão da inter-relação entre o homem e o mar, a Unesco elegeu como uma das estratégias da Década do Oceano o fortalecimento da ocean literacy nas escolas, isto é, a introdução de conteúdos sobre o oceano nas grades curriculares, visando criar uma melhor compreensão do papel do oceano nas nossas vidas, bem como uma geração azul, formada por jovens conscientes e engajados na causa da preservação do oceano. Engajar cada vez mais pessoas na defesa ativa de mares limpos, seguros, produtivos e sustentáveis, agora e sempre, é como o SP Ocean Week atua para o cumprimento do ODS 14 de “conservar e usar de forma sustentável o oceano, os mares e os recursos marinhos e implementar as políticas oceânicas globais necessárias para sustentar ecossistemas oceânicos saudáveis”. 

A sua conservação e proteção ainda tem um longo caminho a percorrer em áreas como a luta contra a pesca predatória, a destruição do habitat e as alterações climáticas. Por isso, difundir a cultura oceânica e ações de letramento oceânico são o cerne do SP Ocean Week, precisamente para informar, encantar e engajar os mais variados públicos, principalmente o escolar, dos mais diferentes níveis de ensino. 

INDICADORES DE POLUIÇÃO MARINHA – mas pode chamar também de indicador da tristeza extrema!

Um estudo encomendado pelo Blue Keepers, projeto ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, aponta que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16kg de plásticos por ano. Em números absolutos, quase 3,5 milhões toneladas de resíduos plásticos têm risco real de ir parar no oceano.

Os rejeitos sólidos encontrados no meio ambiente, sobretudo o lixo plástico no oceano, decorrem não apenas de conceitos como o da “Obsolescência Planejada”, mas também o da “Economia Linear”. De fato, produzimos atualmente cerca de 150 bilhões de quilos de plástico todo ano, e a maioria é plástico descartável, mais conhecido como one use only, ou seja, já produzimos cerca de 8,3 bilhões toneladas, desde 1950, dos quais 6,3 bilhões toneladas já viraram lixo. A qualidade da gestão dos resíduos gerados está comprometida por dois fatores intrinsecamente proporcionais: nossos hábitos de consumo e uso inadequados do plástico, que geram uma produção em larga escala de resíduos sólidos; além da falta de disposição final adequada deste material. Boa parte do polímero está afundando e gerando impactos climáticos, como o agravamento do aquecimento global. “Precisamos racionalizar o uso desse material para que possamos utilizar o que ele traz de melhor, sem necessariamente gerar malefícios para o ambiente”, afirma o professor do Instituto Oceanográfico (IOUSP), Alexander Turra, idealizador do SP Ocean Week, ao lado de Alfredo Nastari, do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). 

Segundo Turra, a 3,4 mil metros de profundidade no oceano, é possível encontrar indícios da atividade humana, não só pela presença de plástico, mas de outros elementos derivados de nossas atividades. Além do SP Ocean Week, está sendo criado um Tratado Mundial pela Organização das Nações Unidas para combater a poluição ambiental pelo plástico O Tratado deve ser finalizado em 2024 e assinado em 2025. “É importante entender que não é um tratado contra o plástico, é um tratado a favor de um uso racional do plástico. Isso é muito importante de ser dito, porque não podemos ‘vilanizar’ esse produto tão importante para a sociedade. O plástico precisa ser usado com sabedoria”, pontua o professor.

DÉCADA DO OCEANO  – a hora é agora!

Para tentar reverter o cenário de iminente colapso do oceano, a Assembleia Geral das Nações Unidas nomeou a década de 2021-2030 como a Década das Nações Unidas para a Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Assim, a revista Scientific American Brasil e a Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, vinculada à Universidade de São Paulo (USP), através dos seus institutos Oceanográfico (IO-USP) e de Estudos Avançados (IEA-USP), tomaram a iniciativa de realizar anualmente em São Paulo, o SP Ocean Week, com o objetivo de celebrar o oceano e discutir as questões cruciais para o seu futuro.

São Paulo, a maior metrópole das Américas, localizada a 80 km da orla, possui uma dinâmica e histórica ligação com o mar, que precisa ser resgatada e vivenciada. O estado abriga o maior porto da América Latina e um dos principais institutos oceanográficos do país; seu litoral, com ricas e diversificadas belezas naturais, biodiversidade e culturas tradicionais, é destino de lazer e de trabalho de milhões de paulistas e brasileiros, que interagem continuamente com o mar.

ECONOMIA AZUL – vamos colocar o mar no mapa do Brasil?

Segundo dados da ONU, a economia oceânica movimenta entre US$ 3 e 6 trilhões por ano. Indústrias importantes ao redor do mundo dependem da saúde do oceano e têm impacto sobre ela.

A área em azul que você vê no contorno do mapa do Brasil é conhecida como Zona Econômica Exclusiva (ZEE). A ZEE equivale a uma distância de 200 milhas náuticas (cerca de 370 km) a partir da costa, que vai além das águas territoriais, distante 12 milhas (a 22 km da costa). Segundo a Marinha Brasileira, “a Zona Econômica Exclusiva brasileira é uma área oceânica de mais de 3,6 milhões km², os quais, somados aos cerca de 2,1 milhões km² de extensão, que o Brasil reivindica junto à ONU sobre os Limites da Plataforma Continental, de solo e subsolo marinhos que o país poderá explorar, perfazem um total aproximado de quase 6 milhões km². Trata-se de uma extensa área oceânica, adjacente ao continente brasileiro, que corresponde a, aproximadamente, 52% da nossa área continental e que, devido à importância estratégica, às riquezas nela contidas e à imperiosa necessidade de garantir sua proteção, passou a ser chamada de “Amazônia Azul”, cuja área é um pouco menor, porém em tudo comparável à “Amazônia Verde”. O patrimônio brasileiro no mar”. 

O mar é uma fonte de riquezas para a humanidade. Sob o ponto de vista econômico, cabe ressaltar que aproximadamente 95% do nosso comércio exterior é realizado por via marítima, envolvendo, no recorte que considera o período de 2020 a 2040, uma projeção de alta acumulada de US$ 49,2 bilhões nas exportações brasileiras. Desse total, US$ 45,5 bilhões por via marítima e US$ 3,7 bilhões, via aérea, entre exportações e importações. É importante considerar também os números expressivos que estão concentrados em até 200 km do litoral e nos 8.500 km de costa, onde se localizam 17 estados, 16 capitais, cerca de 90% do PIB, 80% da população, 85% do parque industrial, 85% do consumo de energia e em torno de 80 portos e terminais organizados, entre públicos e privados.

Diversas iniciativas têm sido propostas e aplicadas com vistas a explorar direta ou indiretamente os benefícios providos pelo oceano ou derivados dele. Segundo dados da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), estima-se que a produção mundial de peixes atingiu cerca de 179 milhões de toneladas em 2018, com um valor total de vendas estimado em US$ 401 bilhões. As tendências de aumento, no entanto, esbarraram na crise gerada pela pandemia, que levou a uma queda de 6,5% na produção pesqueira. Em 2022, a produção brasileira de peixes de cultivo chegou a 860, 3 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Esse número representa um aumento de 2,3%, em relação a 2021. Da mesma forma, o segmento lazer, com destaque para o turismo sustentável e os esportes náuticos, tem elevadas possibilidades de fomento. Além disso, é possível aproveitar a energia maremotriz e a energia eólica em alto-mar (offshore). 

Outro exemplo de sucesso são as fazendas marinhas que miram o indicador de crescimento populacional e, consequentemente, o aumento no consumo de proteína animal. Elas se mostram uma alternativa sustentável e vantajosa, uma vez que reduzem os riscos de extinção de espécies pelo consumo predatório. As espécies de interesse são cultivadas e criadas em gaiolas lançadas no mar, ou ainda podem ser feitas em criadouros no ambiente terrestre. 

Segundo estudos realizados, o melhor modelo de fazenda marinha é o que se baseia em sistemas multitróficos, que consistem na criação de espécies diferentes no mesmo ambiente. A vantagem desse modelo é o aumento da biodiversidade, o que não acontece em monoculturas. A fazenda Redemar Alevinos, por exemplo,  fornece alevinos para programas de repovoamento da Garoupa Verdadeira em locais onde ela já desapareceu ou onde suas populações já estão seriamente impactadas. Até o momento, 20 mil garoupas foram soltas na natureza.

Nas fazendas marinhas são criados peixes, camarões, ostras, mexilhões e outros animais marinhos consumidos pelos humanos. Exemplos práticos são a piscicultura (criação de peixes), a malacocultura (criação de ostras) e a carcinicultura (criação de camarões).

Dentre os variados exemplos de caminhos futuros da economia azul destaca-se a demanda por uma visão estratégica da ciência e abordagens inovadoras e disruptivas, que fortaleçam colaborações existentes e criem parcerias e/ou aplicações, considerando uso de ferramentas arrojadas como satélites, supercomputação e robótica, criando empregos de alta qualidade e diversificando a economia. Os aspectos ambientais enfatizam a necessidade da preservação do bioma marinho e da exploração racional do oceano, de acordo com o desenvolvimento da ciência e a evolução tecnológica, sempre buscando desvendar a diversidade biológica, o potencial biotecnológico e as províncias minerais. Considera-se, inclusive, o desenvolvimento de novos produtos, negócios e serviços, bem como novas interfaces com os usuários, valendo-se do potencial das redes sociais. 

A economia do mar é um manancial de possibilidades para se produzir sustentavelmente e promover justiça ambiental e social. 

COMUNICAR O OCEANO – um desabafo desesperado!

Escrever sobre a importância do oceano para o planeta virou questão de honra, para informar e educar o quanto antes. Relatar o tamanho da urgência que nós jornalistas conhecemos, que a Academia conhece, que os biólogos conhecem, é meu trabalho todo santo dia.

Traduzir o que a ciência escreve, o que os arranjos de governança falam, e tudo isso num linguajar acessível para informar as pessoas, não é tarefa fácil, pois é bem provável que o acesso a essas informações mais específicas (do Jornalismo Científico e Ambiental) se restrinja apenas aos conhecedores e amantes do tema (no nosso caso, o Oceano). Mas o grande problema é que o tema agora é urgente e engloba todos nós. Então, o COMO atingir a massa  também é um grande desafio. 

É preciso que haja mais núcleos de Jornalismo Científico/Ambiental, seja em workshops, seja nas empresas ou na Academia, porque nós da área de comunicação também precisamos aprender a falar a língua científica. 

Eventos como o SP Ocean Week são fundamentais para que todos (sem exceção, vivam perto ou longe do mar!) se conscientizem de que, cada vez mais, os impactos de ações cotidianas sobre a saúde do oceano são altamente negativos. Urge, cada vez mais, colocarmos o oceano em pauta e dar luz a todas as variáveis que surgem a partir do que esta por trás da questão: QUAL OCEANO QUE QUEREMOS?

FONTES

SP Ocean Week

IOUSP

COMANDO GERAL DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS – MARINHA DO BRASIL

ONU

WORLD RESOURCES INSTITUTE

CLIMA INFO

BBC Brasil

Portal da Indústria

Notícias relacionadas

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Últimas notícias

- Advertisement -spot_img