Mais um símbolo do jornalismo e da defesa do meio ambiente e dos povos indígenas que partiu. Aos 86 anos, morreu o jornalista Washington Novaes, na noite de segunda-feira (24/8), após passar por uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital do estado de Goiás, onde vivia há alguns anos.
A informação, confirmada pelo filho Pedro Novaes, deixou a imprensa de luto, com centenas de mensagens de pesar de amigos e admiradores, enviadas pelas redes sociais.
“Um dos jornalistas mais sérios e competentes da minha geração, com uma carreira brilhante nos vários veículos em que militou. Era um amigo querido e quase um conterrâneo: ele nasceu em Vargem Grande do Sul (SP), vizinha da minha Mococa”, disse Paulo Jeronimo, presidente da ABI. “Deixa um legado de integridade e de visão de mundo”, destacou o jornalista Álvaro Caldas.
“Conheci Washington Novaes na década de 70, na Folha de São Paulo. Sempre brilhante e dedicado às boas causas do Planeta, defensor do meio ambiente, amigo dos índios e da natureza”, completou Suely Caldas.
Washington Novaes foi um dos primeiros jornalistas do país a se dedicar a questões ambientais e indígenas. Referência no jornalismo sobre o tema, recebeu diversos prêmios, como o Esso especial de Ecologia e Meio Ambiente (1992) e o Professor Azevedo Netto (2004).
Em 1981, ele dirigiu o documentário “Amazonas, a pátria da água”, exibido pelo “Globo Repórter”. O programa ganhou medalha de prata no Festival de Cinema e Televisão de NY em 1982.
Na década de 1980, Novaes viveu em completa imersão no universo dos povos indígenas do Xingu. A experiência gerou a série de não-ficção “Xingu, a Terra Mágica”, além do diário “Xingu, uma Flecha no Coração”.
“Chegar perto do índio, da cultura do índio, exige uma mudança radical de perspectiva, como se o olho passasse a ver pelo lado oposto, no sonho, no inconsciente. Entender o índio, entender a sua cultura e respeitá-lo, implica despirmo-nos desta nossa civilização. Porque o encontro com o índio é um mergulho em outro espaço, em outro tempo”, afirmou Washington ao lançar a segunda fase do projeto documental. A citação foi destacada em matéria do G1 publicada nesta terça-feira, 25.
Mais de vinte anos depois, ele retornou para o local para um novo projeto: “Xingu, a Terra Ameaçada”, onde ele mostra o impacto do desenvolvimento econômico, além das mudanças culturais e ambientais. As duas obras renderam prêmios internacionais.
Com enorme talento e sensibilidade, o jornalista foi responsável pela direção e roteiro da série documental “O desafio do lixo”, exibido pela TV Cultura em 2001. Ele também escreveu o roteiro do filme Joana Angélica, lançado em 1979.
Ao longo da carreira, Washington publicou mais de dez livros, grande parte focada no meio-ambiente e povos indígenas. Entre eles, “A década do impasse: da Rio-92 à Rio+10”, de 2002. Em 2004, o jornalista foi o vencedor da categoria Meio Ambiente do Prêmio Unesco. Na ocasião, ele foi homenageado por seu trabalho de mais de 30 anos de intensa divulgação de ideias e alertas aos impactos da degradação ambiental.
Dez anos depois, o jornalista foi promovido para a Classe Grã-Cruz na premiação da Ordem do Mérito Cultural, que prestigia segmentos como música, artes plásticas, audiovisual, literatura, culturas populares, entre outros.
Novaes também foi Secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal entre 1991 e 1992.