Luísa Santiago | Diretora da Fundação Ellen MacArthur para a América Latina
Em meio à pandemia de Covid-19, a humanidade parece ter despertado, de maneira inédita, para a importância de adotar práticas realmente sustentáveis, que garantam a preservação dos recursos naturais. Dentro dessa nova mentalidade, a economia circular tem ganho cada vez mais força entre empresários, ambientalistas e governantes.
A economia circular oferece novas e melhores oportunidades de crescimento e responde alguns dos maiores desafios atuais, como poluição, mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, com base nos princípios de eliminação de resíduos, bem como a manutenção de todos os produtos e materiais em uso e a regeneração dos sistemas naturais, gerando benefícios para a sociedade, o meio ambiente e a economia.
Importantes empresas como Natura, Unilever, Ikea e Coca-Cola assumiram o compromisso de repensar por inteiro o seu modo de produção, priorizando o uso de materiais reciclagem em suas embalagens e incentivando o reuso. Governos em diversos níveis – municipal, estadual e nacional – também desenvolveram políticas para impulsionar a economia circular.
Além disso, grandes fundos de investimento aderiram a essa causa. De acordo com o estudo Financiamento da Economia Circular, desenvolvido pela Fundação Ellen MacArthur, foram criados, entre 2019 e 2020, dez fundos de ações focados nesta modalidade, totalizando mais de 2 bilhões de dólares em ativos.
Esse ano também se encerra com números interessantes do Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico, criado em 2018. Das 500 empresas signatárias que participam da iniciativa, pelo menos 25% diminuíram o consumo de plástico. Pelo menos 22% das embalagens utilizadas por estas empresas, hoje, são feitas de material reciclável. Há muito o que avançar no que diz respeito ao reuso de materiais, embora iniciativas nesse sentido estejam ganhando terreno rapidamente.
Na produção de alimentos, a economia circular também tem dado contribuições decisivas, como o estímulo à agricultura regenerativa e ao combate ao desperdício. Atualmente um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado, um número alarmante quando 9% da população mundial sofre de desnutrição.
Para diminuir esse impacto, durante 2020 a fundação continuou seu trabalho com cidades pioneiras, líderes da indústria e parceiros filantrópicos para desencadear uma transformação do sistema alimentar onde nada se transforma em desperdício e as empresas em toda a cadeia de valor alimentar podem prosperar. De acordo com um levantamento feito pela Fundação Ellen MacArthur, a integração de um modelo circular de práticas agrícolas ajudará a obter ganhos financeiros equivalentes a US$ 10,5 bilhões por ano até 2050.
Neste turbulento 2020, a economia circular despontou como uma oportunidade de repensar a forma como consumimos recursos e gerenciamos resíduos. Nos próximos anos, a fundação pretende aprofundar a parceria com governos e empresas, para que avancemos no combate às mudanças climáticas, à perda de biodiversidade e às desigualdades social e econômica.