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DIA DO MEIO AMBIENTE

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Samyra Crespo | Ambientalista. Ex-Presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Se em um dia coubesse.

Se um dia bastasse, se cada hora fosse uma era, aí sim seria um dia denso, capaz de contar com alguma fluência todo o esforço que a humanidade tem feito, ainda que mergulhada em suas contradições e contramarchas, para compreender o que a atual geração chama de crise ambiental.

O ápice dessa compreensão nos é conhecida como ‘crise climática’. Nela cavalga o Apocalipse, imagem bíblica, milenarista, assombrosa.

Desde que lá atrás, nos anos 70′, acreditamos ser possível tomar o conceito de ‘carrying capacity’ – capacidade de suporte – de um ramo específico da ‘biologia vegetal’, especialmente de estudos de populações, e o extrapolamos para as sociedades humanas, vivemos o pesadelo da pergunta crucial: os recursos do Planeta são suficientes para abrigar e alimentar 9,5 bilhão de pessoas (projeção da ONU para 2050)?

A primeira resposta há 50 anos, com o Clube de Roma, sinalizava esgotamento dos recursos e um iminente desastre.

Mas o que é ‘iminente’ no tempo da cultura humana? Uma década? Um milênio?

Com o nível que assistimos de agressão (extração de recursos não renováveis como os minérios, o petróleo e a contaminação de rios, ar e solos) haverá possibilidade de assegurarmos a nossa sobrevivência na escala demandada?

Vieram as Conferências de Cúpula da ONU de 70, 92, 2002, 2012 e 2022.

De 10 em dez degraus, mais conhecimento, mais tecnologia e mais discursos contundentes. Também mais iniciativas, ainda que não na envergadura necessária.

Com o conhecimento que temos hoje de manejo, conservação, restauração de ecossistemas degradados, seremos capazes de conter a destruição acelerada da paisagem, das populações animais e vegetais, da erosão do ‘estoque genético’ que ganhou velocidade sistêmica?

Com a certeza científica obtida, ainda em meados dos anos 90′, via IPCC (International Panel of Climate Change), que reúne o maior time de cientistas e climatologistas já visto – de que o ‘efeito estufa’ já ocorre e é irreversível, sendo que nos cabe impedir que piore… seremos capazes de deter esse tsunami de efeitos e impactos, aparentemente incontroláveis?

Uma vez que em 1987, um relatório chamado ‘Nosso Futuro Comum’ já constatava que o atual modelo de produção econômico, intensivo em materiais e energia e não renováveis é a locomotiva do desastre, estamos realmente empenhados na substituição desse modo de produzir e consumir?

Desde que todos os relatórios globais sobre o ‘estado do ambiente do mundo’ indicam redução na população de abelhas, pássaros, estoques pesqueiros e outros animais essenciais à manutenção da biodiversidade alimentar, estamos fazendo algo significativo para reparar ou impedir que as consequências venham em forma de doença, escassez e fome?

Desde que os últimos remanescentes florestais da Terra são apontados como essenciais ao pouco que resta de equilíbrio dinâmico do regime de chuvas e da biodiversidade que elas estocam, estão os governos em nível internacional, nacional e sub nacional, cumprindo seu papel de proteção?

Desde que sabemos ser necessário ‘descarbonizar’ nossa economia e nossa sociedade, estamos tocando nos aspectos essenciais da mudança de estilo de vida?

Eu poderia prosseguir com as perguntas ‘adnauseum’ e possivelmente, a primeira resposta a cada uma dessas perguntas pode ensejar um cenário pessimista e uma perspectiva desalentadora de futuro.

Desesperar ou esperançar (verbo inventado por Paulo Freire)?

Amanhã retomarei para demonstrar que só nos resta ser otimistas e esperançosos e que o ‘ecocídio’ é uma metáfora que se fortalecida, sonhada e alimentada, pode sim virar realidade.

Como disse Carl Jung, tudo que é realidade hoje, foi sonhado um dia. Projetamos e somos parteiros do nosso futuro.

Para cada desafio, tivemos e temos esforços e respostas.

Há muita gente fazendo o ‘dever de casa’. Mais do que supomos.

Há muita energia positiva nesse caldeirão onde se consomem esperanças e desesperanças.

Há muito acúmulo e aprendizado.

Amanhã continuo.

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