Samyra Crespo |
Hoje, 03 de março, é do Dia Internacional da Vida Selvagem.
Fiquei pensando sobre os animais que conheci ao vivo, ao longo da minha vida – em zoológicos, aquários e criadouros, no Brasil e no mundo.
Também os vi, quando criança em circos: antropomorfizados, exibindo habilidades treinadas por ‘domadores’.
Em reserva, livres, só em dois lugares: no Kruger Park na África do Sul, e foi bem emocionante.
Lembro de ter ficado tão encantada com as girafas, com seus grandes olhos e movimentos graciosos. Elas roubam minhas boas lembranças dessa magnífica visita até hoje.
O segundo lugar foi na Antártica: e a vida marinha ali é tão pujante que você não tem dificuldade de imaginar como eram belas as paisagens sem nós…
Como não são caçados, os animais ali são tão amáveis conosco, tão dóceis… aqueles pinguins adoráveis, as focas tomando sol nas placas flutuantes de gelo… são imagens eternas no meu tesouro de lembranças.
Em cada lugar que visitei no mundo – se o evoco, posso trazer à mente animais diferentes: por exemplo, México e Brasil, logo sou inundada por pássaros – de todas as cores, em bandos.
Se penso nos Estados Unidos, vejo aquele urso desengonçado nas Catskills Mountain onde um amigo tem casa. E também nos milhares de pequenos esquilos que proliferam como ratos nas ruas e parques de New York.
Na Argentina jamais vou esquecer dos belos cavalos selvagens que vi no Parque do Ushuaia.
Poderia aqui desfilar por horas as imagens que tenho armazenadas no meu espírito dessa vida selvagem, cada vez mais acuada por nós e nossas ações predatórias.
É verdade que no outro lado da moeda estão as iniciativas de conservação da vida selvagem e de organizações internacionais como o Greenpeace, a Conservation International, o WWF, e as nacionais como SPVS, Fundação com Onça Pintada, e várias outras com robustos e bem sucedidos programas de conservação da Onça, por exemplo, nosso maior felino. Conheço especialmente os do Parque Iguaçu, os do Pantanal e da Amazônia. E tem o icônico projeto Tamar, até hoje conceituado por ser pioneiro e desenvolver estratégias mundialmente conhecidas de conservação das tartarugas marinhas.
Tive o privilégio de ver com os meus próprios olhos a dedicação da equipe do programa e a soltura dos filhotes na praia: muito comovente e essa palavra não expressa tudo o que se sente quando aquelas milhares de criaturinhas correm para o mar.
Só a Onça, um dos meus felinos prediletos, nunca vi em liberdade. Vi em semi-liberdade no Simba Safari (há 30 anos atrás) em São Paulo.
Fiquei uma noite inteira de tocaia com cientistas do Zoo do Bronx norteamericano, numa fazenda, dentro de um barco pequeno no Rio Touro Morto, no pantanal. As onças iam beber água à noite e eram chipadas para estudo de população.
Você fica em silêncio e na expectativa. Por intermináveis horas.
Nada, não deram o ar da graça àquela noite e só pude vê-las por meio das armadilhas fotográficas.
Assim, se penso no pantanal brasileiro vejo pássaros e muitos jacarés, muitos mesmo, nada de onças embora saiba que estão ali.
Tenho o maior carinho e respeito para com os profissionais que se dedicam à conservação de espécies ameaçadas, tanto animais como vegetais.
Vejo nesses naturalistas, conservacionistas, incansáveis exemplos de um amor incondicional.
Amam e cuidam. Comunicam-se com um nível sutil da natureza, da beleza e do mistério da vida.
Samyra Crespo | Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
