por Samyra Crespo
Leio com preocupação hoje, no O Globo de domingo, a denúncia da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) de que os milicianos estão exigindo participar dos negócios.
Trocando em miúdos: quando um terreno é identificado para a implantação de uma usina ou fazenda (no caso rural) solar, o empreendedor é procurado e começam as negociações para alinhar o lícito com o ilícito.
Um empresário que recusou recebeu numa caixa uma cabeça, que tal?
Mario Puzo? Coppola? Não. Vida real por aqui.
Não estamos falando da Amazônia distante e suposta ou presumidamente assolada por ‘organizações criminosas internacionais’.
Estamos falando da cidade do Rio de Janeiro, e do nosso estado.
Os milicianos avançam na ocupação criminosa do território: não respeitam áreas protegidas, constroem ilegalmente em terrenos vulneráveis, extorquem comerciantes, e cobram taxas sobre serviços como telefonia, energia, transporte e outros.
A olhos vistos, e ante a aparente impotência das autoridades, o ‘estado paralelo’ vai ampliando sua ação ilegal sobre tudo e todos.
Estão à frente de vários crimes ambientais graves, tais como dragagem de areia ilegal, avanço sobre reservas e APAS, roubo de água e de nascentes em terras privadas, extorsão agora de quem está a duras penas tentando fazer a transição energética no nível sub nacional (estados e municípios).
O Rio adotou desde 2021, como outros estados, a isenção do ICMS para a aquisição de sistemas fotovoltaicos solares.
Tal medida tem feito a demanda crescer. Mas, ao contrário de outros estados que promoveram a mesma medida, por exemplo, Minas Gerais, a curva de crescimento das plantas tem sido menor, tímida até.
Em outras palavras, a transição energética, a conservação do nosso patrimônio ambiental estão ameaçados por um novo poder: o das milícias.
Lembrando que, aos poucos, esse poder mafioso e tentacular vem ocupando espaços no legislativo e na governança da cidade.
Como no próximo ano teremos eleição de vereadores e prefeitos, estes temas aqui mencionados deverão esquentar.
Mas, devemos lembrar que a questão da segurança está sobretudo no âmbito estadual e da esfera federal.
No Rio, nós vivemos um desassossego crescente.
Tiroteios e chacinas viraram ‘fato cotidiano’.
A indignação foi encolhendo diante de uma escalada sem precedentes do crime.
E o nosso verde vai virando uma lama marrom, pútrida, cada vez mais mal cheirosa e sufocante.
É com lancinante tristeza que escrevo essas palavras.