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Nenhum dia é igual

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Samyra Crespo

Mas tem sido monotonamente igual o descaso com os povos originários do Brasil.

Embora possa se ter o sol brilhando lá no alto, ou a chuva castigando a terra, ou o rio fluindo na direção da vazante, mesmo nas coisas da natureza não há imutabilidade: têm as estações, a erosão, tudo muda de figura e de lugar – ou de tamanho.

Por isso 19 de Abril não é o dia do mesmo índio genérico – do qual se falava na escola, aludindo ao “caldeirão de raças” brasileiro, assim como o próximo dia 21 de Abril não é dia de pensar a liberdade como a pensaram os liberais da Inconfidência.

Cada dia, portanto todo dia, dizia o poeta, carrega uma agonia, ou muitas e fica até difícil escolher qual cantar, lamentar ou exaltar.

Os índios brasileiros tiveram nas últimas décadas algum alívio. Apesar da cobiça por suas terras, tivemos a demarcação da Reserva Raposa do Sol, a estruturação não só de quadros indigenistas na FUNAI, quanto de programas voltados à saúde e educação. Temos hoje líderes indígenas que chegaram ao Congresso e que os defendem com voz própria, altaneira.

Esse alívio, que fez a população indígena do Brasil crescer e prosperar, segundo dados do ISA – Instituto Socioambiental (que realizou importantes censos dessa população), foi interrompido por uma cartilha funesta, retrógrada e genocida, anunciada por um candidato que virou presidente há pouco mais de um ano. Lidera a nação com ódio e menosprezo declarado aos indígenas, às populações tradicionais e aos pobres de uma maneira geral.

Quem votou nele conhecia o programa. Ele sempre foi claro e explícito sobre o seu projeto para o País.

Por isso é tão grave e tão socialmente escabroso o que ocorre nos dias presentes: acuados por grileiros, mortos às dúzias por garimpeiros ilegais, nossos índios agora enfrentarão o Coronavirus em situação precária ou inexistente de saúde.

O famoso antropólogo Eduardo Viveiros de Castro fala em “solução final” – estaria saindo do ovo da serpente aquela mais escura e insidiosa: a que engendra a expropriação e a morte em massa dos povos originários do Brasil.

Confinada, a população urbana, que detém a opinião política e a força de pressão sobre o parlamento e assembleias, está capturada pela pauta do medo. Cidades estão esvaziadas das passeatas e manifestações. Os panelaços não soam pelos que estão nas florestas ou nos grotões. Soam sua desaprovação genérica que ganha segundos no Jornal Nacional.

O 19 de Abril deste ano de 2020 é uma data dramática. Não que não o tenha sido antes.

Mas agora reveste-se de uma mancha que se alarga a cada dia que passa: a nossa omissão diante do crime que deixa em absoluta impunidade os que avançam sobre as terras indígenas e os matam covardemente.

Não é somente o Bolsonaro o culpado. Há milhares que estão com ele. Há milhões que não se importam.

Este é o tamanho da fúria genocida.

O termo “solução final” de Viveiros de Castro não é exagero.

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