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Amazônia e Cerrado possuem 86% da área queimada nos últimos 40 anos 

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Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

Juntos, biomas tiveram 177 milhões de hectares atingidos pelo fogo ao menos uma vez desde 1985; 45% da área do Cerrado e 21% da Amazônia queimaram nesse período.

* Por Lucas Guaraldo

Cerrado e a Amazônia, juntos, tiveram 177 milhões de hectares queimados pelo menos uma vez nos últimos 40 anos, uma área semelhante à do México queimada em apenas dois biomas. O acumulado equivale a 86% de toda a área atingida pelo fogo nas últimas quatro décadas. Os dados foram publicados nesta terça-feira (24) de forma inédita no Relatório Anual do Fogo do Brasil com dados da quarta coleção do MapBiomas Fogo de mapas de cicatrizes de fogo do Brasil desde 1985 a 2024, coordenado por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e outras instituições que compõem a rede.
 

Na Amazônia, 2024 foi um ano recorde em extensão de área queimada, com 15 milhões de hectares atingidos, um aumento de 85% em relação a 2023 e o maior total registrado desde 1985. Desde então, o bioma já acumula 87 milhões de hectares queimados, o que corresponde a 21% da área total do bioma.
 

No Cerrado, o aumento foi de 75% em comparação ao ano anterior, com 10,5 milhões de hectares queimados em 2024. No total acumulado desde 1985, 45% do bioma já foi queimado pelo menos uma vez, cerca de 89 milhões de hectares.

Em todo o território brasileiro, o fogo atingiu 206 milhões de hectares ao longo das últimas quatro décadas, o equivalente a 24% do país. Essa área supera o território de países como Irã e Indonésia, e é oito vezes maior que o estado de São Paulo. Somente em 2024, foram queimados 30 milhões de hectares, um salto de 87% em relação a 2023, quando 15,9 milhões de hectares foram atingidos. O total de 2024 ficou 62% acima da média histórica desde 1985.

Figura: Área queimada acumulada em milhões de hectares entre 1985 a 2024 no Brasil

“Embora o desmatamento tenha diminuído, o uso do fogo na conversão florestal e no manejo agropecuário, associado à intensificação de condições climáticas adversas, como períodos mais longos de seca e aumento das temperaturas, tem intensificado os incêndios, tornando-os mais frequentes e difíceis de controlar, especialmente na Amazônia. Esse uso do fogo, associado ao avanço da fronteira agrícola no país, tem contribuído para a alta incidência de queimadas, especialmente em estados como Mato Grosso, Pará e Maranhão — os três que mais queimaram desde 1985”, destaca Felipe Martenexen, pesquisador do IPAM e coordenador do mapeamento da Amazônia.
 

O aumento da área queimada também foi observado em outras regiões do país. Dos seis biomas brasileiros, quatro registraram alta na ocorrência de fogo em 2024. A Amazônia e a Mata Atlântica, em particular, atingiram a maior área queimada dos últimos 40 anos.
 

Estados e Municípios
 

Nos últimos 40 anos, quase metade da área queimada no Brasil esteve concentrada em apenas três Estados: Mato Grosso, Pará e Maranhão. Juntos, somam mais de 96,6 milhões de hectares atingidos pelo fogo pelo menos uma vez — o equivalente a 47% de toda a área queimada no país no período.
 

Os demais Estados que compõem a região do Matopiba — fronteira agrícola formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — completam as seis primeiras posições. No total, os Estados do Matopiba concentram mais de 64 milhões de hectares acumulados queimados desde 1985.
 

Figura: Área queimada acumulada (em hectares) por estado entre 1985 e 2024

O recorte municipal também mostra cenário parecido de concentração. Apenas 15 municípios, sendo sete localizados no Cerrado, seis na Amazônia e dois no Pantanal, foram responsáveis por 10% de toda a área queimada no Brasil nas últimas quatro décadas. Corumbá (MS) e São Félix do Xingu (PA) lideram a lista, inclusive no ano de 2024, e são os únicos a ultrapassarem a marca de 3 milhões de hectares queimados cada. Juntos, os 15 municípios concentram 22 milhões de hectares atingidos pelo fogo desde 1985.
 

Tabela: Área queimada acumulada (em hectares) por municípios mais afetados pelo fogo entre 1985 e 2024

Vegetação nativa em chamas

Nos últimos 40 anos, 69,5% das queimadas no Brasil ocorreram em áreas de vegetação nativa, enquanto os demais 30,5% atingiram áreas antrópicas, como pastagens e lavouras. Em biomas como Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, cerca de 80% da área queimada corresponde a ecossistemas nativos. Entre os tipos de cobertura mais afetados, destacam-se as formações savânicas, típicas do Cerrado, que foram as áreas naturais mais queimadas nas últimas décadas.

“O Cerrado, embora tenha evoluído com a presença de fogo, enfrenta desafios devido à intensificação dos incêndios nos últimos anos. O aumento da frequência e intensidade dos incêndios, impulsionado por práticas inadequadas e mudanças climáticas, têm impactado a capacidade de regeneração natural do bioma. Em 2024, 86% da área queimada no Cerrado foi em vegetação nativa, tornando urgente a implementação de ações de adaptação climática e políticas públicas, como o MIF [Manejo Integrado do Fogo], para mitigar os danos e restaurar a resiliência do Cerrado, protegendo tanto o meio ambiente quanto as comunidades que nele vivem”, comenta Vera Arruda, pesquisadora do IPAM e coordenadora técnica do MapBiomas Fogo.

Em 2024, quase três quartos da área queimada no país (72,7%) ocorreu em áreas de vegetação nativa, enquanto 27,3% atingiram áreas já antropizadas. Esse aumento foi impulsionado principalmente pela alta do fogo em regiões de floresta (formação florestal e floresta alagável), com 7,7 milhões de hectares queimados em 2024 – um salto de 287% em relação à média histórica. No ano passado, pela primeira vez em toda a série histórica, a Amazônia queimou mais floresta do que pastagem. Historicamente, a pastagem era a classe de cobertura e uso da terra mais afetada pelo fogo no bioma.

Sazonalidade e recorrência do fogo
 

Os dados da Coleção 4 do MapBiomas Fogo revelam que o uso recorrente do fogo é um padrão no Brasil: 64% da área atingida pelo fogo nos últimos 40 anos foi queimada mais de uma vez. Ainda, cerca de 3,7 milhões de hectares foram queimados mais de 16 vezes desde 1985.

O fogo também segue um padrão sazonal marcado pela seca no centro do país. Aproximadamente 72% das áreas queimadas ocorreram entre os meses de agosto e outubro, período em que a vegetação está mais seca e vulnerável. A redução da umidade favorece a propagação do fogo e amplia os danos ambientais, especialmente em regiões como o Cerrado e a Amazônia.

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