* LÉA CHAIB |
Os ritos indígenas são compostos por movimentos sagrados que reúnem os sons, os gestos,e os elementos da pintura e adornos, de modo a colocar seus participantes dentro do “Eixo do Mundo”. Por esse eixo, as verdades e energias espirituais alimentam e mantêm a tradição de um povo. Por isso os ritos devem ser transmitidos de geração a geração. É por meio do rito que há a comunicação com os espíritos criadores e cada tradição tem suas formas próprias de união com o sagrado e contato com a “Luz Primordial”. Cada povo possui a sua própria visão da criação do mundo, sua personificação dos elementos naturais. Normalmente, há diversas entidades sobrenaturais presentes na mitologia indígena. A natureza respira e tem alma. Cada árvore, água, fogo, pedra, vento, animal, cada ser é uma entidade com sua própria identidade que determina alguma coisa. Cabe ao sacerdote interpretar os sinais e transmitir ao seu povo. O sacerdote que tem essa função é chamado de pajé. Em algumas aldeias, o pajé conhece os segredos da cura e as propriedades curativas de algumas plantas e outros elementos. O pajé sonha e nos sonhos ele é orientado pelos espíritos sobre como conduzir e aconselhar o seu povo. Eles são considerados homens sábios, identificam o mal e o combatem com cantos, invocações e rezas. Na peça, o pajé percebe que vai morrer e que precisa ser substituído. Ele é avisado em sonho que a criança que passar pelo ritual da maioridade e trouxer o remédio para curar as pequenas indígenas que estão doentes será o novo pajé.
O casamento indígena varia de acordo com a tribo. Há povos que permitem que um indígena se case com mais de uma indígena. Em contrapartida, há aqueles em que uma indígena pode se casar com mais de um indígeno. A cerimônia varia de aldeia para aldeia, assim como acontece com outras celebrações.
O Ritual da Maioridade é de grande importância para os indígenas. Esse ocorre não apenas para os meninos mas também para as meninas, sempre no início da adolescência. No ritual dos meninos eles são submetidos a provas de coragem e bravura. Muitas vezes precisam suportar um fardo de dor, como atacar uma casa de marimbondos e carregar pesadas toras de madeira ou ter o seu corpo ferido. Esses rituais variam de acordo com as crenças e convicções de cada um. Na peça, os pequeninos, também chamados de curumins, passam por esse ritual, enfrentam situações adversas no meio da floresta e ainda precisam trazer um presente para os mais velhos.
A Cobra-Grande, por sua vez, faz parte das lendas da Amazônia. Em algumas etnias aparece como uma cobra feminina e outras como masculina. Na peça ela é quem realiza a iniciação dos escolhidos da pajelança. Os meninos precisam sonhar, pois para se tornar um pajé é preciso saber sonhar e resgatar a memória dos antepassados.
Para tal, aparece O SOL, um grande guerreiro e O LUA, outro grande guerreiro, seus antepassados.
Vencer a Onça Pintada é parte da vida na floresta e voar nas asas do Gavião Real é fundamental para que se possa sonhar.
Sobre a autora
* Léa Chaib trabalha em cinema e teatro como atriz, roteirista, dramaturga e diretora. “AMAZÔNICA” estreou no SESC BELENZINHO foi indicada para o prêmio Coca-cola FEMSA Brasil, nas categorias: Pesquisa e Releitura dos Rituais Indígenas; Cenário; Iluminação e Autora Revelação.
No cinema estreou com o curta “Inpsy Out, vencedor do prêmio “South Film And Arts Academy” Chile; e foi finalista do “Oniros Film Awards” NY.
Amazônica trata do ritual da maioridade indígena. Ulê e Amborê fazem a trajetória do herói; saem da infância e se transformam em grandes guerreiros e pajés. Para que isso ocorra ele vencem diversos desafios. Apagam o incêndio na floresta, trazem o remédio para a cura das curumins que estavam doentes com a ajuda dos seus antepassados. Os mitos da Amazônia aparecem e eles resgatam suas histórias.
