Para comemorar o Dia dos Povos Indígenas, celebrado hoje (19), elencamos 4 etnias que se destacam pela sua produção e criação artística
Hoje, o IBGE contabiliza aproximadamente 900 mil indígenas no Brasil, sendo a segunda maior população indígena do mundo e a maior em números absolutos de etnias — são mais de 300 povos, falando 274 línguas diferentes, cada uma com sua cultura e ancestralidade.
Ailton Krenak, primeiro indígena a se tornar ‘imortal’ da Academia Brasileira de Letras, diz que “se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.” E, para muitas dessas etnias, a arte é uma fonte não só de renda, mas de manutenção de sua cultura ancestral.
“O artesanato tradicional transmitido de geração a geração, tem sido uma ferramenta de fortalecimento das suas identidades”, diz Lucas Lassen, diretor da Paiol, marca que trabalha com produtos de cerca de 50 comunidades indígenas. “Por meio do fazer manual que eles têm conseguido não só manter vivas as suas tradições, mas também têm levado educação formal para as aldeias, têm tido mais acesso à saúde e também têm acessado bens e ferramentas que facilitam o dia a dia da aldeia, permitindo que eles tenham mais tempo para seus afazeres tradicionais.”
Muitas etnias possuem reconhecimento para fora do Brasil. “São panelas, redes, bancos e acessórios que continuam fazendo parte do cotidiano deles, mas que também são tidas como grandes obras de artes presentes em galerias, coleções particulares e projetos de decoração”, completa Lassen.
Artistas e artesãos da etnia Mehinaku, que tem uma população aproximada de 300 pessoas divididas em quatro aldeias, conquistaram total autonomia graças à sua extensa produção de bancos, redes e esteiras. “Aprender a lidar com o dinheiro foi uma das formas que encontramos de manter a nossa cultura viva”, revela o artesão e artista Kulikyrda Mehinaku. A aldeia, desde a década de 1990, parou de fazer apenas trocas de suas produções por mercadorias para vender em lojas de grandes metrópoles como São Paulo e Brasília.
Hoje (19), dia em que se celebra a vida e resistência dos povos indígenas, conheça quatro etnias que se destacam pela sua artisticidade.
Baniwa – Cestaria
Localizado no noroeste amazônico, em uma região que se estende pelas fronteiras do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, o povo Baniwa tem a fibra de arumã – uma espécie de cana – como principal matéria-prima. No mundo das artes, eles ganham destaque pelas cestarias, que ganham trançados com grafismos que fazem referência às suas pinturas corporais utilizadas em rituais. Por conta do arumã, que é maleável, mas naturalmente mais seco que outras fibras, as peças ganham uma certa rigidez, o que garante cestos em formatos harmônicos e curvilíneos. Para comercializar seus trabalhos, eles criaram a marca Arte Baniwa, uma parceria da OIBI (Organização Indígena da Bacia do Içana), a FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e o ISA (Instituto Socioambiental).
Mehinaku – Bancos e Redes
Embora o Brasil tenha bancos indígenas produzidos por centenas de etnias, a produção Mehinaku está entre as mais relevantes. Localizados no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, as atividades artesanais da etnia são divididas por gênero. Os homens são conhecidos pelos bancos em formatos zoomorfos, que imitam os animais da floresta. Tatus, macacos, antas, tamanduás, entre outros, ganham vida a partir de troncos de madeira. Já as mulheres, são conhecidas pelas esteiras e redes feitas com a fibra do buriti. Como toda a economia da etnia gira em torno da arte, eles têm diversificado sua produção, com acessórios e até pinturas que remetem aos grafismos da etnia.
Waurá – Cerâmica
Também do Xingu, os Waurá (ou Waujá) têm a produção cerâmica como uma prática milenar que considera a prática como uma metáfora da identidade Waurá, sendo uma espécie de extensão de suas identidades. Suas panelas e potes em diversos tamanhos e formatos – zoomorfos ou não – ganham pinturas gráficas e lúdicas feitas a partir de pigmentos naturais como o urucum e outras plantas. Mesmo sendo consideradas obras de arte, as peças continuam sendo utilizadas no cotidiano das aldeias. “O fogo acaba apagando as lindas pinturas, mas para ele isso não é um problema, é parte do entendimento de que tudo tem um começo, um meio e um fim. Depois, eles fazem outras que, eventualmente, ficam até mais bonitas”, afirma Lassen.
Kayapó – Acessórios
Localizados em uma região que se estende do Mato Grosso ao Pará, às margens de rios afluentes do rio Xingu, os Kayapós têm uma população de aproximadamente 12 mil pessoas, sendo uma das maiores etnias do país. Como o uso de roupas foi um costume adotado apenas recentemente, eles ficaram bastante conhecidos por suas pinturas, adornos e acessórios corporais. Essa característica lhes trouxe destaque na produção de acessórios, sobretudo com miçangas. Colares, brincos, pulseiras e outros acessórios ganham grafismos culturalmente ligados à etnia.