Pesquisa mostra que as ações estão distantes da prática para bancos comerciais brasileiros quando o tema é a agenda socioambiental
De zero a 100, a maior nota foi 29 – e apenas um banco alcançou essa nota
Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander: você já deve ter visto alguma propaganda falando da atuação social e dos cuidados ambientais dos grandes bancos comerciais no Brasil. Mas promessas socioambientais são como os votos de comer direito e praticar exercícios físicos que fazemos diante do médico – ele só vai ter certeza que cumprimos com nossa palavra olhando os exames.
No caso dos bancos, quem examinou foi a associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), em projeto que conta com apoio do ICS (Instituto Clima e Sociedade). Os resultados decepcionaram: se fosse um exame médico, seria como um paciente com pressão alta, diabetes e colesterol fora dos níveis seguros (com diferenças importantes entre eles).
Dos sete principais bancos comerciais brasileiros analisados e listados no Ranking de Atuação Socioambiental (RASA), apenas dois atingiram pontuação acima de 25 em critérios socioambientais. Vale lembrar que a escala vai de zero a 100. Os demais ficaram abaixo de 20 pontos.
Foram avaliadas 10 instituições: os sete maiores bancos, os dois maiores bancos cooperativos (Sicoob e Sicredi) e o banco holandês Rabobank, considerado pela SIS uma referência na agenda da sustentabilidade, embora no Brasil sua atuação seja restrita aos setores de agricultura, pecuária e florestas. Esse foi quem decepcionou menos: a instituição holandesa obteve 29,04 pontos dos 100 possíveis. Os demais foram: BTG Pactual (27,61), Itaú (16,50), Sicredi (16,30), Bradesco (16,27), Santander (12,56), Caixa (10,34), Banco do Brasil (10,22), Sicoob (6,85) e Safra (4,03).
Esta primeira edição do RASA, finalizada em dezembro, avaliou bancos que representam quase 90% do mercado de crédito nacional, mas não se restringiu às informações públicas divulgadas por eles em seus websites, relatórios e questionários apresentados a diversas fontes de informação, como Principles for Responsible Banking, ISE da B3 e Carbon Disclosure Project. A SIS também solicitou informações adicionais às instituições financeiras para que pudessem complementar, mas apenas três (BTG Pactual, SICREDI e Banco Safra) enviaram mais dados.
A SIS levou em consideração critérios que vão do gerenciamento de risco adotado pelas instituições ao perfil de produtos e serviços financeiros ofertados. Foram analisados os seguintes tópicos: temas ASG (ambientais, sociais e de governança) nas Políticas, gerenciamento de riscos ASG, produtos financeiros com impacto ambiental ou social positivo, composição de portfólio (setor econômico, conhecimento sobre a localização e perfil de risco socioambiental das empresas financiadas), governança ASG e envolvimento da instituição em controvérsias socioambientais.
Cada tema tem um peso e se desdobra em indicadores com uma pontuação específica. Não foram consideradas ações relativas às operações diretas (ou seja, de escritórios e agências) dos próprios bancos ou atividades filantrópicas. O relatório completo, com todas as informações e critérios usados, está aqui.
Segundo Luciane Moessa, diretora executiva e técnica da associação SIS, a proposta desse ranking não é apenas mostrar o quanto os bancos brasileiros ainda estão distantes do ideal na agenda socioambiental, mas principalmente estimular avanços nessa área no mercado financeiro. “Sabemos que esse tema tem desafios próprios e exige uma necessária curva de aprendizado, mas sabemos também que os bancos fazem muito menos do que podem e isso se deve muito mais à inércia e à falta de visão, já que a integração robusta de fatores ASG traz, inclusive, benefícios para os resultados financeiros dos bancos, tanto no crédito quanto em investimentos. Queremos gerar uma competição positiva nesse sentido.” A ideia é que o ranking seja divulgado anualmente. A próxima edição em relação a esse universo de bancos deve ser lançada no fim deste ano.