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Da negação do clima ao criminoso incêndio planetário

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As consequências planetárias da injeção de mais de 910 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera estão ocorrendo em tempo real.

O Círculo Polar Ártico está sofrendo um número sem precedentes de incêndios florestais significando o último sinal da crise climática. Com fogo numa área do tamanho de 100.000 campos de futebol, vastas áreas da Sibéria, Alasca e Groenlândia estão dominadas pelas chamas. A Organização Meteorológica Mundial disse que esses incêndios emitem tanto dióxido de carbono num mês quanto a Suécia num ano. O mundo está literalmente pegando fogo; então, por que isso é normal para os políticos?

A recente onda de incêndios regionais em diversos continentes, no Brasil, Sibéria, Califórnia, Sul da Europa, Austrália (Queensland) e em outros lugares, representa aumentos de temperatura nas regiões secas da Terra, onde as florestas do Mediterrâneo, por exemplo, originalmente desenvolvidas para condições climáticas subpolares, são atingidas por ondas de calor associadas à migração das áreas polares para as zonas climáticas tropicais e subtropicais. Durante mais de 40 anos, plenamente conscientes, mas ignorando as severas advertências dos cientistas climáticos, os “poderes políticos”, incluindo os chamados “governos progressistas”, continuaram a permitir e comumente aprimorar a fatal sobrecarga de Gases de Efeito Estufa (GEE) da atmosfera, levando a incêndios globais e um estado climático que destrói a habitabilidade de grandes partes da Terra para uma infinidade de espécies, incluindo o Homo sapiens.

Os incêndios no Ártico frequentemente queimam longe dos centros populacionais, mas seus impactos são sentidos em todo o mundo. Do trabalho de campo e de laboratório às campanhas e satélites no ar. Foto: NASA

Como o Globo aquece a uma média de perto ~1,5°C , ou ~2,0°C quando os efeitos de encobrimento de dióxido de enxofre e outros aerossóis são considerados, e a uma media de ~2,3°C nas regiões polares, a expansão das latitudes tropicais quentes e a migração das áreas polares centrais para a borda polar ocorrem secas em larga escala em latitudes subtropicais, como no interior da Austrália e no Sul da África. Uma tendência semelhante está ocorrendo no Hemisfério Norte, na África, onde o Deserto do Saara está se expandindo para o Norte, com consequentes ondas de calor no Mediterrâneo e na Europa.

Efeitos térmicos da queima de biomassa na forma de aerossóis na Sibéria e no Ártico. Arte: CopernicusEU

Desde 1979, os trópicos do Planeta vêm se expandindo de 56 a 111 quilômetros por década nos dois hemisférios. Um importante estudioso a chamou de “cintura inchada da Terra”. As futuras projeções do clima sugerem que essa expansão provavelmente continuará, impulsionada em grande parte pelas emissões de GEE e carbono preto, além do aquecimento na atmosfera mais baixa e nos oceanos. Essa expansão está associada ao aquecimento e à seca custando caro aos hábitats originalmente temperados, ricos em flora e fauna.

Transformando a Terra numa câmara de gás.

Considerando que, nos “bons e velhos tempos” medievais, o envenenamento de poços constituía uma grave agressão; hoje em dia, apesar das esmagadoras evidências científicas e empíricas, a sobrecarga da atmosfera com dióxido de carbono que leva à acidificação da água é totalmente legal e constitui a base da grande economia do petróleo gerando impérios cuja influência política é decisiva.

A resistência humana a essa realidade é fraca. Independentemente dos rótulos políticos, duas forças fundamentais que operam nas sociedades podem ser identificadas:

1 – Ideologias, políticas e ações destinadas a melhorar a vida.

2 – Ideologias, políticas e ações que equivalem ao contrário.

Não é por acaso que movimentos que promovem a injustiça, o racismo e a guerra são geralmente alheios à proteção da natureza ou promovem o poder envenenando, incluindo a sobrecarga de carbono da atmosfera e a disseminação de isótopos radioativos na biosfera, apesar de suas graves consequências. Por outro lado, esses objetos objetivam a limpeza da energia solar e eólica somente por razões “econômicas”; mas, não é possível que haja “economia” num mundo de +4 graus Celsius.

Esse nexo é consistente. No entanto, existe um terceiro grupo, aqueles que pagam os custos de uma realidade que é a da calamidade climática global; mas, quando se encontram no poder, raramente colocam limites ou tratam de reverter os efeitos deletérios da devastação ambiental.

Infelizmente, num mundo aquecido, incêndios perigosos só podem se tornar uma norma, exigindo uma defesa de combate aos incêndios numa escala não inferior à dos militares atuais. No mundo todo, porém, os poderes estão ocupados demais criando os chamados “inimigos” e desviando recursos para a defesa militar, visando mais uma catástrofe.

Andrew Glikson || Cientista Climático e da Terra do Instituto de Mudanças Climáticas e de Ciências Planetárias da Australian National University (ANU)

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