Estudo inédito do WRI Brasil mostra com números como investimentos rumo a uma economia de baixo carbono farão o país crescer mais na próxima década do que o modelo de desenvolvimento atual
Um estudo inédito mostra que o Brasil poderá gerar 2 milhões de empregos e adicionar ao seu PIB um valor equivalente ao PIB de países como Argentina ou Bélgica até 2030. Esse montante de R$ 2,8 trilhões poderá ser acrescido à economia brasileira mediante a efetiva implantação de políticas já existentes e o correto aproveitamento do capital natural do Brasil.
O estudo “Uma Nova Economia para uma Nova Era: elementos para a construção de uma economia mais eficiente e resiliente para o Brasil” destaca políticas capazes de reduzir a pobreza e a desigualdade, contribuir para o cumprimento de metas econômicas e setoriais, estimular o crescimento econômico sustentável e tornar o Brasil mais resiliente a futuras pandemias e a outros riscos, como as mudanças climáticas e a destruição de ecossistemas. “Adotar uma economia mais verde não é uma ruptura. O Brasil já tem boas práticas que, se incentivadas, podem gerar mais emprego e renda ao mesmo tempo que tornam o país mais justo, resiliente e sustentável”, diz Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil.
O estudo se desenvolve em duas partes complementares. A primeira parte de uma extensa revisão bibliográfica para analisar os benefícios e oportunidades de políticas em três setores principais: infraestrutura, indústria e agricultura. A segunda parte apresenta novos resultados macroeconômicos e de longo prazo a partir de uma modelagem econômica caso sejam adotadas medidas associadas a uma transição para uma economia de baixo carbono. Adicionalmente, o estudo apresenta uma análise transversal sobre o acesso e financiamento do mercado.
O trabalho foi coordenado pelo WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy, e conduzido em parceria com especialistas de diversas instituições como CEBDS, Coppe-UFRJ, CPI, Febraban, Ipea e PUC-Rio. O estudo foi desenvolvido no Brasil por pesquisadores brasileiros, dados locais e considerando políticas públicas que, se adotadas, podem alavancar um crescimento superior ao modelo de desenvolvimento atual. “A transição econômica para um modelo de baixo carbono é mais que uma opção real de recuperação econômica pós-pandemia: é a melhor opção para o desenvolvimento do país nos médio e longo prazos”, diz Roberto Schaeffer, pesquisador de Economia da Energia da Coppe-UFRJ e um dos autores do estudo.
O relatório compara as perspectivas de crescimento do país em três diferentes cenários: 1. Business as Usual (BAU), com a manutenção do modelo de desenvolvimento tradicional e atual, consolidado no século passado; 2. Nova Economia para o Brasil (NEB), o qual envolve uma série de medidas de baixo carbono, como veículos híbridos e elétricos, redução da perda e desperdício de alimentos, manutenção da produtividade agrícola e redução do ritmo de desmatamento; e 3. Nova Economia para o Brasil plus (NEB+), um cenário semelhante ao anterior, mas com aumento da produção agrícola e menor pressão por desmatamento.
A análise revela que melhores resultados econômicos são sentidos imediatamente, podendo ser parte importante de um pacote para reconstruir um Brasil melhor após a crise da Covid-19.
Infraestrutura, indústria e agricultura
Os resultados do estudo mostram que a retomada verde é uma vantagem competitiva para setores-chave tradicionais do país, como infraestrutura, indústria e agricultura.
Na área de infraestrutura, a aposta é em incluir componentes de sustentabilidade e mudanças climáticas já na fase de planejamento e análise de viabilidade dos projetos, para uma infraestrutura de qualidade. “Com projetos de qualidade, o Brasil pode atrair mais recursos internacionais e executar obras resilientes e eficientes”, diz Ana Cristina Barros, consultora do WRI Brasil e uma das autoras do capítulo de infraestrutura do estudo.
Na inovação industrial, o estudo mostra que o Brasil já tem tecnologias nacionais que podem crescer em escala, como nas áreas de cimento, energias renováveis e veículos elétricos.
Na agricultura sustentável, os resultados apontam para a vantagens econômicas da intensificação da pecuária e da restauração de pastagens degradadas. O estudo mostra que é possível recuperar 12 milhões de hectares de áreas degradadas gerando um retorno de investimento de R$ 19 bilhões em dez anos e arrecadação de R$ 742 milhões em impostos em dez anos, além de diminuir significativamente a pressão por desmatamento. “A recuperação das áreas degradadas e a proteção do capital natural do país podem aumentar a competitividade, produção e confiança do mercado”, diz o pesquisador José Feres, do Ipea, um dos autores do estudo.
Atração de investimentos
O crescimento verde pode colocar o país em posição de liderança global dentro de um novo modelo de desenvolvimento que ganha corpo e tende a se tornar prevalente. A emissão e os empréstimos de títulos verdes se expandem rapidamente e atingiram um recorde global de US$ 202 bilhões em 2019. A emissão de títulos verdes no Brasil acompanhou as tendências internacionais positivas, mas atingiu apenas uma fração de seu potencial.
“O Brasil tem a chance de redefinir a economia do país para que ela forneça um crescimento sustentável de longo prazo e muitos outros benefícios. O que é verdade para o Brasil é verdade para todo o mundo – a ação climática é cada vez mais um motor de crescimento econômico, inovação, resiliência e eficiência, além de ser um gerador de empregos”, diz Helen Mountford, vice-presidente de Clima e Economia do World Resources Institute.
O estudo conclui que a economia verde é uma situação ganha-ganha para o Brasil: além de bons indicadores econômicos, a transição para uma economia de baixo carbono pode trazer inúmeros benefícios para a sociedade como a melhora da qualidade do ar, a redução do desmatamento, o legado de uma infraestrutura resistente a enchentes e eventos extremos e maior acesso a energia. O resultado seria uma melhoria de qualidade de vida e bem-estar para os brasileiros.
Para acessar o PDF do estudo completo Clique aqui