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NOSSA SOCIEDADE CIVIL E SUAS ORGANIZAÇÕES

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Samyra Crespo* | Ambientalista e colunista da Eco21

Notas para pensar e superar um período de refluxo

Lembro-me que Georges Soros, bilionário húngaro  (antigamente falávamos milionário), logo que caiu o muro de Berlim investiu parte de sua fortuna em fundar institutos, universidades e organizações da sociedade civil no leste europeu.

Nas ditaduras, sabe-se,  existe o “estado e seus aparelhos”: em geral sindicatos e partidos controlados quando os há; associações doutrinárias de juventude e imprensa oficial.

No período de redemocratização do Brasil, vivemos  entre os anos 80 e 2000 um boom em nossa saúde civil, com milhares de organizações surgindo em todos os cantos do país.

Áreas de atuação diversas: desenvolvimento, combate à  pobreza, meio ambiente e as causas identitárias (racismo, homofobia, feminismo, etc).

Turbinadas por recursos do financiamento dos promotores da “open society”, as ONGs (organizações não  governamentais) e depois OS (organizações sociais) e também as OSCIPs (organizações de interesse público) foram se tornando “empresas sociais”, implementadoras de projetos, “braços do estado”  procurando ampliar sua inserção e capilaridade, numa sociedade cada vez mais urbana e complexa.

Uma evolução que merece mais do que essas poucas linhas para ser explicada.

O fato é  que boa parte das organizações foram perdendo suas colorações de origem e abraçando cada vez mais o perfil de suplentes da ação estatal.

Com o dinheiro do estado via editais públicos, e com as parcerias “governamentais”, o perigo da cooptação.

E é  notório que muitas delas se enroscaram no ideário neo-liberal da “eficiência & resultados”.

Com a promessa da “profissionalização” veio também a parafernália burocrática e a perda da criatividade.

E é  mais perceptível ainda que vivemos hoje um refluxo brutal nos movimentos sociais e no poder de ação e opinião das ONGs,  agora genericamente  denominadas “organizações sociais”: saco de muitos gatos, nem todos pardos ou vermelhos, mas definitivamente colocados no caderninho de inimigos do atual governo federal.

Tempos difíceis, sem dúvida.

Tudo indica a necessidade premente de “fortalecer” a sociedade civil.

Esgarçados estamos atrás de um computador ou celular.

Intimidados pela “pandemia” que ainda não acabou. Traumatizados pela truculência que vem imperando no trato da política.

Tarefas e causas não faltam. Tecnologias sociais também não.

Acho que a coisa pega no que diz respeito ao projeto, com P maiúsculo. Em que direção? Quais as apostas de futuro?

Ou ficaremos nas ações emergenciais? No combate à fome? Atendendo à frente que mais grita?

Vejo com esperança as iniciativas da SOS Mata Atlântica que está oferecendo um curso para fortalecer organizações ambientalistas, especialmente aquelas que poderão ajudar na implementação dos planos municipais de recuperação da Mata Atlântica.

Merece destaque a iniciativa, dentro do programa Niterói Cidadã, do curso de fortalecimento das OSs daquela cidade, promovido pela prefeitura local.

Nos anos 90, Fabio Feldmann, ambientalista e na época secretário de meio ambiente de Covas, patrocinou um curso parecido. Lembro do entusiasmo do saudoso Enrique Svirsky (egresso do ISA) à  frente do curso que teve mais de uma edição em parceria com a CETESB.

Os desafios do presente não são tão diferentes em relação aos do passado.

Questões legais, políticas e de financiamento continuam a torturar o calcanhar da maior parte das organizações da sociedade civil.

Novidade mesmo é  a militância virtual, a comunicação instantânea e o poder da internet de fazer vítimas ou criar heróis.

Enfrentar governantes hostis e um clima beligerante é uma novidade amarga, um dos muitos despropósitos da gestão bolsonarista. Teremos que enfrentar.

Mas o que me parece mais desafiador nos dias que correm é  escolher um projeto de futuro que realmente fortaleça e promova os ideais de solidariedade, justiça e respeito ao meio ambiente.

O resto é uma questão de metodologia e persistência.

E paciência.

* Samyra Crespo | Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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