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NÓS E OS ANIMAIS QUE AMÁVAMOS TANTO

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Samyra Crespo *| Ambientalista e colunista da Eco21

Vejo um homem caminhar 17 quilômetros até a fronteira da Polônia, carregando o idoso cão pastor nas costas, temperatura baixa, fugindo dos bombardeios russos.

Tenho fotos de crianças resgatando seus pets nas brutais enchentes de Bangladesh.

Leio a notícia de que no avião brasileiro vieram, além das famílias de refugiados, seus animais.

Em Aleppo, Síria – que gerou outra onda enorme de deslocamentos, no auge da destruição da cidade,  um homem alimentava numa casa em ruínas  – um abrigo improvisado  – mais de 500 gatos, deixados para trás ou com donos mortos.

Na contracena dessa vida real, que nos impacta ou comove, parece vibrar um outro mundo.

Na Índia os pássaros não serão mais condenados às gaiolas.

Em vários estados e cidades brasileiras “maltratar” animais é  crime.

Em diversos países declara-se o direito dos animais e da natureza – num claro vetor de evolução e civilidade.

O jornal televisivo mais visto em nosso país faz reportagem de quase 5 minutos mostrando o nascimento dos filhotes de uma onça resgatada dos incêndios no Pantanal/Cerrado.

Sendo a maioria dos incêndios provocados e sem punição.

A bichinha teve queimaduras tão graves nas patas que perdeu as garras… somente um dos filhotes sobrevive e de novo, nos comovemos…

Até parece que a matança de baleias, golfinhos e tartarugas ficaram no passado… mas não.

Infelizmente, a lista de animais ameaçados de extinção no Brasil mais que dobrou em 8 anos e o PL da caça, no Congresso, foi ressuscitado.

Diminuem os animais silvestres – aumentam os animais domésticos.

Nossa empatia com os animais virou uma economia de trilhões de dólares. Junto com a adoção de animais que “nos dão apoio emocional”  vieram os pet-shops, as rações caras e “específicas ” e os produtos veterinários. E brinquedos, roupinhas para cães e gatos e a mania de “humanização” dos coitados. Muitos já são submetidos a treinos quase militares ou “terapias ” para distúrbios  como ser hiperativo.

Animais que estão concentrados nas cidades têm que sofrer o estilo urbano de viver e as vicissitudes a que estão submetidos seus donos – como pobreza, doenças, maluquices e guerras.

O que deduzir de tudo isto? Somos definitivamente complexos.

Mas uma coisa é  certa: o mundo natural vai perdendo suas forças e suas características.  Tudo vai ficando igual à  nossa carência, dor ou glória. E atrelado a um destino que vamos carpindo de maneira pouco venturosa.

Nosso amor pelos animais é muitas vezes feroz ou irresponsável.

Samyra Crespo

Samyra Crespo | Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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