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VERÃO

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Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

* Por Samyra Crespo

CHOVE E OS MONSTROS SE CHAMAM

NEGLIGÊNCIA, IMPRUDÊNCIA E IMPREVIDÊNCIA.

Uma semana chuvosa e ventosa nos aflige no Rio de Janeiro.

No alto do bairro da Glória, onde resido, a névoa cobre o morro do Pão de Açúcar e praticamente toda a baía. Durante toda a noite a chuva não poupou ruído e presença. Tudo está úmido e desconfortável.

As notícias sobre estragos causados por ela não cessam: rádio, TV, redes sociais.

Quando digo que a chuva nos aflige, não é uma metáfora.

Com ela, constante e acompanhada de ventos, há tantos dias, materializam-se as tristes imagens de deslizamentos, alagamentos, e desastres em escala cada vez maior e mais dolorida.

As chuvas de verão são como as ‘monções ‘ na Índia: sazonais e implacáveis, aqui marcadas, até há pouco, pelos temporais de verão.

Mas nem bem entrou o famigerado verão e a chuva já causa estragos consideráveis em boa parte do país: quando não é o El Nino, é o La nina, os sistemas de baixa pressão e outras explicações que em geral ‘a moça do tempo’ nos dá.

Há três décadas, pelo menos, os cientistas vêm alertando sobre as mudanças climáticas.

Seguramente, desde o início dos anos 90′ se fala do que já se concretizou: chuvas intensas, torrenciais, com mais frequência. Chove mais e mais forte.

Há mais gente nas cidades, habitando encostas e fundo de vales: mais desastres à vista, vitimando uma população cada vez maior.

Esta realidade só vai piorar nos próximos anos.

O que os governos, autoridades e lideranças estão fazendo? Onde estão as providências?

Além de abrigar pessoas em estádios e escolas, pedir por nossa solidariedade e maldizer a sorte?

No início da década de 2.000 já se falava de ‘mitigação ‘ (redução dos danos) e prevenção (evitar riscos desnecessários).

A ONU HABITAT, agência das Nações Unidas que se ocupa das cidades, desenvolveu uma metodologia de ‘alerta temprano’ (antes que o fenômeno extremo aconteça) com o mapeamento de áreas de risco e identificação tanto de responsabilidades (municipal? estadual?) como de recursos necessários para obras, equipamentos, compensações.

Tive oportunidade de participar deste esforço que reuniu o MMA, e sua extinta Secretaria de Qualidade Urbana (gestão do Ministro Sarney Filho), IBAMA com o seu Relatório de Qualidade Ambiental (que parou de fazer há mais de 15 anos, não se sabe por que) e pela sociedade civil, no caso o ISER e o IBAM (Instituto Brasileiro de Administração Municipal).

O objetivo do programa GEO CIDADES era claro.

Não houve contudo interesse maior das autoridades brasileiras.

O ICLEI, instituição mandatada para ajudar os municípios a implementar programas voltados para reduzir danos causados pelas mudanças climáticas vai na mesma direção, mas o número de municípios que aderem a seus esforços ainda é muito pequeno.

Enquanto isso, seguimos como ‘vítimas ‘ – lamentando o azar. Ou a ‘inclemência’ da natureza.

Em muitos países, como os EUA por exemplo, a população é treinada para ajudar em desastres (devido à grande ocorrência de tornados e furacões). Aqui, um indivíduo não sabe acionar sequer um tanque de oxigênio.

Legamos essas tarefas à defesa civil, aos bombeiros e agimos todos como crianças que nada sabem fazer.

Amigos e amigas, a situação é clara:

a caixa de Pandora foi aberta por nós mesmos.

As profecias se realizaram e os monstros se chamam negligência, imprudência e imprevidência.

Não há outro jeito, senão recuperar esforços como as metodologias de prevenção de desastres – agora mais sofisticadas e apoiadas por tecnologia de última geração.

Devemos exigir que os relatórios de qualidade ambiental urbana sejam retomados.

Treinar a população para enfrentar desastres, incentivar a formação de equipes de voluntários.

Estamos vivendo tempos excepcionais.

Entender isso vai diminuir sofrimento futuro e dar mais sentido à esse presente que nos parece tão difícil.

As soluções não são simples, mas existem.

E agora que a área ambiental está sendo

recuperada do desmonte recente, sob ‘nova direção ‘, é preciso olhar com urgência não só o que faremos com as florestas, mas também com as cidades.

Nelas, afinal, vive a maior parte da população brasileira

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