Um mundo que combate a mudança climática e ao mesmo tempo melhora em todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é possível, afirma um novo estudo. Cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) e do Instituto Alemão de Desenvolvimento apresentam uma estratégia integrada que combina ações climáticas ambiciosas com políticas dedicadas ao desenvolvimento, como acesso a alimentos e energia, equidade global e nacional, e sustentabilidade ambiental.
Publicada dia 2 de agosto de 2021 na revista Nature Climate Change, a pesquisa aponta gargalos, mas também sinergias possíveis para impulsionar o progresso em direção às metas climáticas e de desenvolvimento sustentável.
“As políticas climáticas são cruciais, mas por si só não serão suficientes para alcançar a transformação rumo a um mundo sustentável e próspero para todos – uma visão com a qual os legisladores se comprometeram ao adotar o Acordo de Paris e os ODS em 2015.” afirma o cientista do PIK Bjoern Soergel, autor principal do estudo. Ele ressalta que nenhum dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável será cumprido até 2030 se o mundo continuar na atual trajetória, o que já era verdade mesmo antes da pandemia da COVID-19. “Mas a boa notícia é: Nós também temos os meios para mudar isto”.
Roteiro
No novo estudo, os cientistas apresentam um Caminho de Desenvolvimento Sustentável – uma estratégia para proteger as pessoas dos efeitos das mudanças climáticas ao mesmo tempo em que avança em direção aos objetivos de desenvolvimento. A estrutura-modelo utilizada no estudo visa uma ampla cobertura, que vai desde a ausência de pobreza e zero fome até a ação climática e outros objetivos ambientais, já que muitas dessas metas interagem entre si e não podem ser consideradas isoladamente.
Este “roteiro” também inclui medidas adicionais, como nutrição saudável, financiamento internacional para o clima e uma redistribuição a favor dos pobres das receitas obtidas pela precificação do carbono.
“Uma ‘mentalidade de silo’ em relação à mudança climática como uma questão isolada nos levará ao fracasso”, diz Elmar Kriegler, co-autor do estudo. Para o pesquisador, caberia aos formuladores de políticas e à sociedade em geral transformar esta visão em ação tangível. “Precisamos combinar a proteção do clima com uma ampla estratégia de sustentabilidade. Isto implica uma mistura de medidas políticas, com o preço do carbono como uma importante pedra angular, mas também inclui, por exemplo, políticas e medidas redistributivas para promover dietas saudáveis e sustentáveis e reduzir nossa demanda energética”.
Dieta “Saúde Planetária”
Embora as políticas climáticas por si só possam potencialmente aumentar os preços dos alimentos – entre outras razões devido ao aumento da demanda por bioenergia – este não é o caso quando a proteção climática é combinada com outras políticas específicas e uma mudança de estilo de vida.
“Uma mudança em nossos hábitos alimentares para menos proteína animal, como na dieta ‘Saúde Planetária’ recomendada por uma comissão de especialistas, prova ter efeitos positivos de longo alcance”, explica Isabelle Weindl, cientista do PIK e co-autora do estudo.
A dieta ‘Saúde Planetária’ é nutricionalmente equilibrada e contém apenas quantidades modestas de alimentos de origem animal, em comparação à dieta média dos países industrializados. Segundo Weindl, nesse modelo de alimentação, a produção de alimentos exigiria muito menos terra, água e fertilizantes e geraria menos gases de efeito estufa, em comparação com as dietas com uma alta proporção de carne ou laticínios. “Mudar nossos hábitos alimentares ajuda, portanto, a proteger o clima e nossos ecossistemas”, defende a pesquisadora.
Vida decente
O estudo também indica que a transição para um estilo de vida menos intensivo em energia nos países de alta renda pode equalizar os aumentos no consumo de energia necessários para um padrão de vida decente e para a construção de infraestrutura nos países de renda baixa.
“Constatamos que as políticas climáticas também podem reduzir a pobreza no Sul Global. Nossa análise mostra que a precificação das emissões de gases de efeito estufa e o uso de parte das receitas dos países industrializados para apoiar políticas de desenvolvimento sustentável em países de baixa renda beneficia tanto o planeta quanto as pessoas”, conclui Soergel.