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Tecnologias digitais no combate às mudanças climáticas

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Roberta Roberta Cipoloni Tiso | Diretora de marketing e sustentabilidade da green4T

Na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU, dia 21 de setembro, em Nova York, o Secretário-Geral da entidade, António Guterres, destacou a tecnologia como um dos vetores essenciais de transformação do futuro do planeta pós-Covid. Segundo ele, é absolutamente necessário, por exemplo, que o acesso à internet seja amplificado, chegando a todos os povos até 2030 – a fim de permitir o desenvolvimento sustentável das nações mais vulneráveis. Ao chamar a atenção para a questão da expansão da conectividade, Guterres trouxe também aos holofotes a discussão sobre o papel das tecnologias digitais no enfrentamento dos desafios do mundo depois da pandemia. Dentre as grandes e mais emergenciais tarefas para os próximos anos está a mitigação dos efeitos adversos das mudanças climáticas, diante das quais a tecnologia tem imensa contribuição a dar.

O Secretário-geral pediu aos 193 chefes de Estado reunidos no encontro que fossem mais audaciosos em suas medidas e estratégias de contenção das emissões de gases do efeito estufa. Ele sugeriu ainda criação de mais empregos “verdes” ligados à sustentabilidade e economia circular, o fim dos subsídios para os combustíveis fósseis e a tributação de empresas poluentes. “Nós devemos levar isso a sério e devemos agir rápido”, declarou ele na plenária. O sentido de urgência de Guterres encontra eco ainda no relatório “Climate Change 2021: The Physical Science Basis”, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), publicado em agosto. Pelo estudo, a temperatura média da Terra já se elevou em 1,1ºC desde o período pré-industrial, no século 19, em razão da atividade humana e precisa ter o seu ritmo desacelerado. Confiante, disse ainda ser possível que as nações reduzam em 50% todas as emissões de carbono até 2030, bem como a sua completa eliminação até a metade deste século. E mencionou estarmos próximos de efetivar um fundo anual de US﹩ 100 bilhões para ajudar os países mais vulneráveis a mitigar os impactos do aquecimento global.

A tecnologia e o meio ambiente

Além da função de desenvolvimento sustentável do acesso à internet mencionada por Guterres, as tecnologias digitais também podem contribuir no atendimento à emergência climática. É o que aponta o estudo “Digital With Purpose – Delivering a SMARTer2030”, realizado pela Deloitte em parceria com o GeSI (Global e-Sustainability Initiative).

Segundo o relatório, a inovação tecnológica exerce um papel relevante na viabilização dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Blockchain, tecnologia IoT, cloud computing, inteligência artificial e 5G, por exemplo, podem influenciar diretamente as metas ESG de companhias, governos e organizações, com reflexos imediatos na sustentabilidade do planeta. A utilização de ecossistemas de IoT, a internet das coisas, nas empresas têm aumentado a produtividade da indústria 4.0, melhorado a qualidade dos serviços e potencializado a experiência do cliente – tudo isso sem elevar demasiadamente o consumo de energia elétrica, cumprindo parte importante da agenda sustentável das companhias.

No caso da mobilidade urbana, por exemplo, plataformas digitais permitem gerenciar as ofertas de transporte, reduzindo consumo de combustível e a emissão de CO2. Em termos práticos, significa deslocamentos mais inteligentes, acessíveis, híbridos na combinação de modais e de menor impacto ao meio ambiente. Reflexos importantes também são verificados na gestão da mobilidade urbana. Cidades que adotaram ferramentas digitais de gerenciamento de oferta de frota de ônibus, por exemplo – como é o caso da plataforma Trancity, desenvolvida pela Scipopulis -, observaram redução nas aglomerações de passageiros nas paradas, aumento na velocidade média dos veículos e diminuição no tempo das viagens – o que reduz também as emissões de carbono. Isso porque o painel cruza dados diversos, estáticos e em tempo real, para oferecer um panorama de cada linha, incluindo velocidade, dados de emissões de poluentes, além da oferta e demanda de ônibus, facilitando a tomada de decisão.

O estudo da Deloitte-GeSI ressaltou ainda que o uso de inteligência artificial pode ajudar na prevenção de catástrofes naturais, como os incêndios florestais. Softwares sofisticados já trabalham neste sentido, combinando imagens de satélites, históricos de incidentes e modelos de simulação que alertam as autoridades quanto ao risco iminente de fogo. Neste contexto, a indústria de TI tem atuação fundamental. Como a tendência é de aumento de demanda por processamento de dados em todos os segmentos econômicos e sociais, o desenvolvimento de infraestruturas digitais mais resilientes, seguras, com máxima disponibilidade e, sobretudo, eficientes energeticamente é essencial para a diminuição da pegada de carbono das empresas, cidades e propriedades rurais, contribuindo para uma gestão mais eficiente e tomadas de decisão mais assertivas.

A transformação das empresas

Em uma era de economia data centric, cuidar para que o processamento de dados das empresas seja eficiente energeticamente é o primeiro passo para a inserção dos negócios neste modelo Net-Zero. Esta transição passa necessariamente por data centers e infraestruturas de TI que garantam baixo PUE (Power Effectiveness Usage), sem que haja perda de performance.

A questão energética é central para quem depende de dados. Como o consumo de energia dos data centers está em ascensão por conta da explosão da demanda – a estimativa do governo da Dinamarca é chegar a 15% do grid mundial em dez anos -, crescem também os investimentos em pesquisa para resolver o problema. Algumas soluções, aliás, já estão disponíveis no mercado. A implantação de serviços de IT Performance Green Efficiency , por exemplo, que atuam no ambiente físico e lógico do data center, pode resultar em uma redução de até 60% do consumo energético da infraestrutura.

Cidades mais sustentáveis

O impacto positivo da inovação nas cidades é visível sob diversos aspectos. Centros de dados que realizam a integração de informações coletadas no ambiente urbano e junto aos seus moradores oferecem suporte excepcional para a tomada de decisão por parte do gestor público.

Um exemplo é o Centro de Operações Rio (COR), inaugurado em 2010 para realizar o monitoramento em tempo real de todo o município do Rio de Janeiro. O ambiente reúne diversas agências de serviços públicos e autoridades diante de um painel repleto de informações geradas a partir da análise de dados captados por sensores, câmeras e satélite.

Em resumo, o espectro de atuação das tecnologias digitais na mitigação dos impactos gerados pelas mudanças climáticas é bastante amplo. Seja nas empresas, na agricultura, nas cidades, as ferramentas digitais diminuem as emissões de carbono, tornam mais eficientes a gestão dos insumos oriundos da natureza, eliminam gastos energéticos desnecessários e amplificam o acesso a serviços de qualidade por parte dos cidadãos. É preciso, contudo, que iniciativa privada e gestores públicos apertem o passo.

Como bem frisou Guterres em seu pronunciamento na ONU, não há mais tempo a perder. Empresas, cidades e pessoas têm um objetivo comum: definir o destino do planeta e das próximas gerações. Para tanto, é vital ter 100% disponibilidade ao diálogo, dar segurança aos mais vulneráveis e garantir maior resiliência ao planeta para enfrentar os desafios que estão porvir. É hora de acelerarmos todos juntos para um futuro mais sustentável.

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