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PASSANDO A BOIADA NO JARDIM BOTÂNICO

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Liszt Vieira | Defensor Público e Ex-Presidente do Jardim Botânico

Fabio Scarano | Professor da UFRJ e Ex-Diretor de Pesquisas do Jardim Botânico

Segundo publicado na coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo de 6/12 passado, o Ministro Ricardo Salles quer transformar o Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro em hotel, numa cidade onde a taxa de ocupação hoteleira já era inferior a 50% antes da pandemia.

A criação do Museu do Meio Ambiente foi um trabalho em equipe que exigiu um esforço enorme. Um prédio condenado a desabar, fechado há décadas, foi todo restaurado e adaptado para funcionar como Museu, que ofereceu à sociedade inúmeras exposições de conteúdo ambiental e cultural.

Apesar de todas as dificuldades orçamentárias, conseguimos realizar parcerias que viabilizaram a instituição do Museu do Meio Ambiente, com um programa educativo e de divulgação, que recebeu crianças de escolas públicas e particulares, especialistas e o público em geral. Ele se notabilizou também pelas exposições que ofereceu, como o Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli, Darwin Origens e Evolução, Diversidade do Artesanato Brasileiro, Obras Raras do Jardim Botânico, 200 Anos da Expedição de Spix e Martius pelo Brasil, Rede Abrolhos, Gênesis – Jornada Fotográfica de Sebastião Salgado, Portinari, Metamorfose, Mata Atlântica – Ciência e Arte, Orquídeas etc. 

De um lado, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro é o instituto de pesquisa do Ministério do Meio Ambiente, que oferece ciência de qualidade e de padrão internacional. Essa ciência se aplica diretamente às ações de conservação da flora brasileira. Do outro lado, o Jardim é um dos três lugares mais visitados do Rio de Janeiro por pessoas de todas as partes, da cidade, do Brasil e do mundo. Isso porque essa instituição bicentenária guarda, em meio às suas aleias de plantas, prédios e obras de arte, a memória histórica do Brasil. Ela guarda também as memórias de muitos de nós que, ali, tivemos os nossos primeiros contatos, ainda na infância, com a força sagrada da biodiversidade brasileira e tropical. O Museu é a ponte entre esses mundos: o da ciência com o da cultura, com os jovens, com o povo. O Museu permite uma percepção do todo indivisível que o Jardim Botânico representa: ciência-arte, natural-cultural, passado-presente-futuro.

O atual governo demonstra, em palavras e ações, não ligar para nada disso. Tem se notabilizado pela destruição do patrimônio ambiental, cultural e científico do Brasil. O desprezo e ignorância em relação à cultura são marcas registradas desse governo, além de outras marcas talvez mais óbvias: a necropolítica liberticida e autoritária, o conservadorismo reacionário em valores e costumes, a exaltação da violência e uso desmedido de metáforas de guerra. O governo Bolsonaro está levando à prática o lema fascista “Abaixo a Cultura” apimentado com uma gestão desastrosa e criminosa da pandemia.

Mesmo diante de todas as evidências e determinações legais e históricas acerca do que é o papel de um Jardim Botânico, será que os setores que apoiam esse governo endossarão mais um crime de responsabilidade?

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