Ministério do Desenvolvimento Regional e Polícia Federal apreenderam credencial ao saber que jornalista era ligado a ações de comunicação de movimentos populares do Pará
A reunião ministerial do G20 em Belém, nesta sexta-feira (01º/11), foi marcada pela repressão a jornalistas de movimentos sociais que tentaram participar da coletiva de imprensa sobre o encontro.
Ativistas, comunicadores e artistas se reuniram no estacionamento do Hangar, centro de convenções onde ocorria o evento, para realizar uma ação artivista. O ato consistiu em uma perfomance drag da artista local Tristan Soledade, enquanto um grupo segurava cartazes pedindo por transição energética justa e popular, pelo fim do Marco Temporal e pelo reajuste da Tarifa Social.
A ação fazia parte do lançamento da campanha Energia dos Povos, apoiada por organizações da sociedade civil como Observatório do Marajó, 350.org, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Aliança Jovem por Governança Energética e Grupo Rede Energia e Comunidades (saiba mais sobre a campanha).
Após o protesto, completamente pacífico, o grupo se dirigiu então para dentro do Hangar, onde os manifestantes participariam da programação oficial do evento, mas foram seguidos a todo momento por seguranças, que deixavam claro que a sua presença ali, mesmo com crachás credenciados, não era bem-vinda.
Em determinado momento, quando um dos jornalistas, um representante das organizações Observatório do Marajó e 350.org, se afastou do grupo para obter mais informações a respeito da coletiva de imprensa que ocorreria a seguir, aproveitando que ele estava sozinho, um delegado da Polícia Federal e um membro do Ministério do Desenvolvimento Regional o cercaram e o expulsaram, ao tomarem conhecimento de que ele fazia parte de iniciativas ligadas a grupos populares.
De forma arbitrária, eles obrigaram o jornalista – que estava adequadamente credenciado com informações verídicas e aprovadas pela equipe do evento – a devolver o crachá que permitia participação na coletiva de imprensa e barraram a sua entrada.
Ao serem questionados sobre o motivo da violência arbitrária contra o comunicador, eles disseram que haviam checado o seu perfil e que o credenciamento dele havia sido um erro, porque ele não seria jornalista.
Questionados pelo jornalista sobre o que motivou a checagem de sua credencial, visto que nenhuma outra pessoa teve sua credencial checada mais de uma vez, e qual seria o critério para definir quem é jornalista e por que o credenciamento desse jornalista fora aceito previamente e agora estava sendo negado, os funcionários não deram resposta.
O profissional em questão trabalha há anos no Observatório do Marajó com ações de comunicação popular, que incluem a divulgação de notícias sobre temas ambientais e sociais de interesse da população ribeirinha. Também escreve regularmente para blogs e já teve artigos publicados em veículos de abrangência nacional, como Carta Capital e Projeto Colabora.
Na inscrição para o evento, o jornalista informou explicitamente que estaria presente à coletiva para construir materiais de comunicação e informação para as audiências e públicos da ONG Observatório do Marajó, que são majoritariamente homens e mulheres de comunidades tradicionais do arquipélago
O Observatório do Marajó e a 350.org lamentam profundamente o autoritarismo e falta de transparência com que agiram a Polícia Federal e o Ministério do Desenvolvimento Regional e questionam que concepção de desenvolvimento regional tem o ministério em questão, se considera que informar comunidades tradicionais sobre acontecimentos relevantes “não é jornalismo”.
Em resposta, o porta-voz do Observatório do Marajó aponta que o Governo Federal não quer responder às perguntas das comunidades tradicionais:
“Reduzir riscos é demarcar as terras indígenas, titular territórios quilombolas e investir em energia limpa e popular e não explorar petróleo na Amazônia. Reduzir riscos também é investir para que grupos da sociedade civil, especialmente da Amazônia, tenham acesso a esses debates que tanto afetam nossas vidas. Quando o governo vai se comprometer com a demarcação e titulação de terras tradicionais e o fim da exploração de petróleo na Amazônia? Essa é a pergunta que o governo não quer responder!”
As organizações esperam uma resposta do governo federal sobre as providências que tomará diante dessa atitude. Fica a pergunta: o que farão as autoridades para esclarecer o ocorrido e garantir que o acesso de comunicadores populares a coletivas de imprensa sobre temas relevantes para a população seja permitido, assim como o de todos os outros jornalistas?