Bianca Ayres | Bioquímica, pós doutora em Bioprocessos na Suécia, especializada em biomoléculas e em tratamento de resíduos industriais no Brasil
Gabriel Estevam Domingos | Engenheiro Ambiental, Sócio-fundador da startup GED Inovação
Quem nunca viu o primeiro balanço suspenso por cordas amarradas em um galho perfeito de árvore como a imagem da infância mais pura e divertida? Quem já subiu na árvore para colher frutos e comer na companhia dos amigos da juventude? Talvez muitos moradores das cidades de concreto não tiveram essa experiência como rotina, mas pelo menos já viveram a expectativa de passar um feriado em um ambiente com grande presença de natureza: praia, chácara, hotéis fazenda ou até mesmo querer ver sucesso ao cuidar de uma plantinha.
E todos já perguntaram ou responderam a famosa pergunta: será que vai chover hoje? Está chovendo aí? Aqui está! Começamos a nos acostumar com a ausência de chuva. O reflexo é observado pelo consumidor quando os alimentos encarecem. E no bolso, para os agricultores. A influência não é só ligada ao dólar, mas à falta de chuva na plantação dos mais de 5 milhões de agricultores no Brasil (CENSO, 2019).
As árvores oferecem alimentos e produtos puros, acessíveis e diversificados. Quem já analisou mercados, buscou empreender, percebe a influência do clima para alcançar resultados nos projetos. O capital natural é a maior riqueza neste Planeta que tem evidenciado mudanças climáticas gigantes.
Protagonista do mercado de carbono, alavancado pelo Protocolo de Kyoto em 1994, as árvores representam uma tecnologia natural de captação do gás CO2, causador do Efeito Estufa. Desde então, as indústrias de países desenvolvidos têm de neutralizar as emissões atmosféricas e os países em desenvolvimento são o foco para receber a transferência de tecnologia para captação de carbono. Com a vantagem da extensão territorial tropical do Brasil, ele é um dos principais players deste mercado.
Como incentivar a preservação e o plantio das árvores? O que mudaria a chave de pensamento das pessoas?
A presença de indústrias nas cidades é sinônimo de emprego, melhoria do padrão de vida, do poder de aquisição e dignidade. E como ficam as questões ambientais? Estas são primordiais para se manter a qualidade de vida e a saúde ambiental. Diante disso, a regularização das operações industriais sustentáveis tem crescido. Por meio do monitoramento obrigatório de emissões atmosféricas, da emissão de ruídos, contaminação de solo, tratamento de resíduos, tratamento de efluentes e de água. Órgãos ambientais estaduais e federais fiscalizam e emitem pareceres sobre os empreendimentos. Na Inglaterra, estima-se crescimento de 85% de empregos relacionados a sustentabilidade nos próximos 10 anos. Os executivos com mentalidade sustentável se destacam. Adequam seus conhecimentos de processo ao desenvolvimento limpo para se manterem na função.
As empresas buscam por lucros crescentes, mas precisam reduzir as emissões de carbono. Para isso, uma das iniciativas é a melhoria dos processos e o desenvolvimento de catalisadores. Outro recurso ascendente é a economia circular, em que um resíduo tratado retorna à cadeia produtiva como matéria-prima.
As emissões individuais e as provenientes das indústrias aumentam conforme o mercado consumidor aumenta. Reduzir as emissões pode vir do reaproveitamento das embalagens, sistemas de refil de preenchimento, consumo de produtores regionais para reduzir emissões do setor logístico, por exemplo. Para tornar o mercado ético, seria necessário um sistema regulatório que centralizasse informações de moradia, deslocamento, valores de mercado entre consumidores e produtores. A concorrência internacional e dentro de casa seria forçada a ser revista quanto aos valores de mercado. O mundo ganharia com esse sistema pois, o consumidor que privilegiasse produtos regionais acumularia créditos de carbono, contribuindo na redução das emissões.
Conforme as avaliações positivas sobre custo-benefício de um determinado fornecedor, ele pode receber produtos oriundos da economia circular. É uma nova moeda, crédito de carbono compra produtos.
Como calcular as emissões?
Cada atividade ou transformação química tem um fator de emissão de gás de Efeito Estufa. Estes fatores são utilizados em plataformas desenvolvidas por engenheiros ambientais como o CarbonZ (www.carbonzapp.com.br) criado pelo Grupo Ambipar, primeira empresa Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e de Governança) – ESG – do mercado. Ao final do cálculo do consumo, o aplicativo oferece o serviço de plantio, instalação de um código QR para monitoramento da localização e a quantidade correspondente de árvores que precisam ser plantadas para neutralizar suas atividades naquele período. Por exemplo, cada árvore neutraliza em média 163,4 kg de CO2.
A seleção de área de plantio das árvores está associada aos programas de recuperação de mananciais, protegendo o Aquífero Guarani e o Grande Amazônia. É um trabalho que tem atraído muitas empresas parceiras que visam entrar no sistema idealizado para atribuição de crédito de carbono ao oferecer vantagens na aquisição de seus produtos.
Com a necessidade de investimento internacional e extensas áreas disponíveis a serem recuperados no Brasil, o mercado de carbono tem aqui o melhor pátio para se desenvolver. A riqueza existente no solo deve ser administrada conforme os programas sustentáveis de plantio.
O governo aumentou a presença militar na Amazônia, colocando no comando do Ministério da Defesa a agenda de proteção do ecossistema. Através do projeto Verde Brasil 2. Um aporte de R$ 530 milhões oriundos dos acordos da operação Lava-Jato foi repassado para o projeto, por determinação do Supremo Tribunal Federal. Está sendo criado o Cadastro Nacional de Serviços Ambientais, que regulamenta o pagamento de conservação da biodiversidade, a proteção do solo e das águas e a regulação do clima, segundo informações da Agência Brasil.
Desde que os investimentos alemães e noruegueses foram suspensos do Fundo Amazônia, em 2019, mais de 68 milhões de euros deixaram de entrar no país. A manutenção dos 103 projetos em andamento continua para controle do desmatamento e preservação do patrimônio mundial, mas não são eficazes diante da imensidão da área. A Petrobrás contribui com 1% do que era investido no fundo e não é suficiente para aprovar novos projetos. Após um ano desta suspensão, aumentou significativamente o quadro de focos de incêndio para abrir áreas de cultivo agrícola e, na maioria dos casos, grilagem em território público.
Em 2019, foram 30.900 focos de incêndio, enquanto que só em Agosto de 2020, surgiram 29.307 focos. O segundo maior número dos últimos dez anos, de acordo com o INPE. O Pantanal apresentou 5.935 focos neste mês, tão alto quanto Agosto de 2005, que teve 5.993 focos. Em área atingida, representa mais de 15% do que desmatou em 2019. O mês de Agosto é conhecido pelos fortes ventos, que alastram ainda mais as queimadas.
A Europa e Reino Unido ameaçam paralisar a importação de produtos agrícolas brasileiros caso o desmatamento não seja reduzido, o que acarretaria uma redução da exportação de mais de 10 bilhões de euros, dos quais 1,5 bilhões provêm da exportação da soja. “De 2004 a 2012, o desmatamento reduziu 80% de acordo com o INPE e, em seguida retrocedeu. Se Alemanha, Noruega e países desenvolvidos estivessem presentes financeiramente e ainda aplicando seus conhecimentos tecnológicos, talvez estaríamos progredindo para biocompostos antichama, aplicados previamente ao mês dos ventos”, afirma a engenheira bioquímica Bianca Ayres.
Outro exemplo de desenvolvimento oriundo de investimento privado é o drone Atobá, de 500 kg, e autonomia de 250 km, produzido pela startup carioca Stella Tecnologia. Trata-se um importante passo para auxiliar na fiscalização das atividades de grilagens. Os investimentos noruegueses e alemães que deixaram de chegar poderiam ser fonte de projetos de progresso como esses, com resultados significantes para o mundo e retornos para o IDH regional.
Os interesses imediatistas de grandes grileiros e o baixo IDH de uma população aproximada de 30 milhões de pessoas na Amazônia Legal é combustível para a degradação da riqueza mundial instalada no Brasil. Enquanto essa gangorra de interesses regionais emperrar iniciativas para a sustentabilidade e preservação, a causa-raiz continuará aumentando os focos de incêndio.
Acordo de Paris e as Contribuições Nacionalmente Determinadas
Em 21 de Setembro de 2016, o Brasil entregou as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, em inglês) para a ONU, comprometendo-se a reduzir as emissões de gases de Efeito Estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, até 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030.
O reflorestamento não está acontecendo na devida proporção e o desmatamento emitindo mais gases de efeito estufa está contribuindo negativamente. Programas associados ao mercado de carbono são um caminho para incentivar a colaboração dos setores econômicos.
As queimadas aceleram as mudanças climáticas. Como reverter isso com compromisso em território brasileiro?
Há flora com 200, 300 anos na Amazônia e preservá-la é infinitamente mais vantajoso do que reflorestar. Florestas nativas contêm valores de enraizamento incomparáveis a florestas replantadas. Mesmo com o solo arenoso da Amazônia, a mata nativa prevalece exuberante. Esse patrimônio incomparável que o Brasil tem, o qual pode gerar riquezas sustentáveis, depende das diretrizes governamentais e das ações e projetos dos movimentos no país.
O processo de proteção de mananciais e reflorestamento inicia com plantio de mudas pioneiras, que crescem rapidamente para que em seguida se plante as mudas mais dependentes de sombra. Perante um cenário de reflorestamento, a umidade relativa do ar é mantida e o ciclo da água garantido.
Recuperar florestas é uma maneira relativamente fácil e altamente eficaz de contribuir para a redução dos efeitos das mudanças climáticas, garantindo os ciclos de chuva e o retorno da biodiversidade que é, sem dúvida, o grande patrimônio nacional. Nesse cenário, é fundamental, portanto, que empresas e cidadãos assumam seu papel de responsabilidade com o futuro saudável. Consumidores devem procurar marcas que primam por políticas sustentáveis, selos nas embalagens que indicam participação em programas de plantio e preservação. E calcular sua pegada de carbono através de aplicativos que mostram quão necessário é uma forma aumentar as árvores no planeta e reduzir seu perfil consumidor, optando por caminhos mais verdes.