Nos dias 1 e 2 de julho, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizou a 8ª edição do Science20 (S20), grupo de engajamento para a ciência e tecnologia de membros do G20, com representantes de cada país do bloco. A cúpula se reuniu no Hotel Windsor, na zona oeste do Rio de Janeiro e anunciou as principais recomendações da área para os chefes de Estado e de governo do G20 em uma coletiva de imprensa na última terça (2). Nesta edição, o tema do S20 foi “Ciência para a transformação mundial” e consolida os cinco eixos debatidos na reunião anterior: inteligência artificial, bioeconomia, processo de transição energética, desafios da saúde e justiça social.
A abertura do evento aconteceu na segunda (2), às 9h e contou com a presença d e autoridades como o embaixador Mauricio Lyrio, Sherpa do G20 no Brasil e de um representante do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A reunião da cúpula será presidida por Helena Nader, Sherpa do G20 e presidente da ABC, que destacou o papel de liderança do Brasil dentro do G20 e a importância de olhar para a Agenda 2030. “Sem ciência, não se tem justiça social.”, afirmou Nader.
Também estiveram presentes representantes das Academias de Ciências da África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Índia, Indonésia, Itália, México, Reino Unido, Turquia e a Academia Europaea, representando a União Europeia. Além de organizações científicas internacionais como como a Parceria InterAcademias (IAP), Conselho Internacional de Ciência (ISC), Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), Associação de Academias e Sociedades de Ciências da Ásia (AASSA) e o Conselho Assessor das Academias Europeias (EASAC).
Recomendações feitas pela cúpula
Maurício Lyrio destacou que, pela primeira vez, as contribuições dos treze grupos de engajamento do G20 serão entregues a tempo para que sejam todas integradas à Declaração a ser encaminhada aos chefes de Estado e governo, na Cúpula dos Líderes, em novembro. “O presidente orientou que queria reforçar a interlocução do ‘G20 governo’ com o ‘G20 sociedade civil’. Antes era uma relação informal, nós institucionalizamos isso. Não é pro-forma, não é receber na véspera quando a Declaração já está negociada, queremos uma contribuição real”, disse o embaixador em entrevista durante o S20.
Dividido entre os cinco eixos temáticos, essas foram algumas das recomendações feitas pela grupo e anunciado à imprensa:
Inteligência artificial:
- Criar políticas em uma economia impulsionada por IA para assegurar a segurança no emprego e os direitos dos trabalhadores. Essas políticas devem ser flexíveis e adaptáveis e fundamentadas em princípios éticos compartilhados, o que garantirá inovação enquanto reduz os riscos sociais;
- Contribuir para estabelecer regulamentações de IA e padrões de governança de dados que beneficiem todos os países de maneira justa e defendam valores humanos;
- Trabalhar em conjunto para criar e compartilhar grandes conjuntos de dados científicos valiosos e bem curados, respeitando a governança de dados;
- Buscar estabelecer estruturas intergovernamentais para supervisionar tecnologias de IA que possam operar além do controle ou supervisão humana.
Bioeconomia:
- Construir Cooperação Internacional e Multilateral Robusta: Os países do G20 devem chegar a um consenso sobre o papel da bioeconomia como uma das estratégias para enfrentar as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a pobreza e a saúde humana e não humana. Formular um quadro de políticas conjuntas que permita aos países implementar programas de bioeconomia, investir em inovações sociais e tecnológicas, compartilhar conhecimentos críticos, melhorar a qualidade de vida e proteger os recursos naturais.
Transição energética:
- Os esforços gerais para reduzir as emissões no processo de transição energética devem se basear no aumento do uso de fontes de energia com baixas emissões, incluindo energias nuclear e renováveis, em uma combinação que varia de um país para outro, avançando para a eliminação progressiva do carvão;
- A captura, utilização e armazenamento de carbono, juntamente com abordagens baseadas no mercado, como precificação de carbono em escala global, devem ser utilizados para minimizar as emissões de CO2 dos combustíveis fósseis à medida que nos afastamos dessas fontes em direção a um futuro energético de baixas emissões.
Desafios da saúde:
- Garantir o acesso global a vacinas, medicamentos e ferramentas de diagnóstico essenciais para todos. Promover produção local e regional sustentável através do desenvolvimento de capacidades em pesquisa, inovação, compartilhamento de conhecimento e transferência de tecnologia;
- Promover estratégias de comunicação eficazes para disseminar informações de saúde, combater a desinformação e conduzir campanhas de saúde;
- Desenvolver políticas para promover estilos de vida saudáveis, incluindo atividade física e nutrição de qualidade, para enfrentar questões como obesidade, tabaco, álcool, abuso de substâncias, alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas;
- Alavancar recursos globais focados nos impactos da saúde das mudanças climáticas e ambientais, com foco em grupos com vulnerabilidades conhecidas, como aqueles expostos a eventos climáticos extremos.
Justiça Social
- Expandir a infraestrutura para acesso universal à internet; aumentar a alfabetização digital para garantir que todos os segmentos da sociedade se beneficiem dos avanços digitais; formular abordagens inclusivas e equitativas para o desenvolvimento digital;
- Abordar a desinformação relacionada à ciência nos meios de comunicação digital para evitar impactos adversos na sociedade, ao mesmo tempo em que se desenvolvem estratégias nacionais, regionais e globais envolvendo comunidades científicas e sociedade civil.
Organizado pela ABC, o S20 tem apoio financeiro da FINEP e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).