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O Clima e uma Nova Revolução Industrial

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Jorge Soto || Professor da EAESP/FGV e Diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem

Prof. Jorge Soto

A última Semana do Clima da Organização das Nações Unidas, realizada em Setembro, em Nova York, confirmou e ampliou a certeza de que estamos diante da necessidade de uma Nova Revolução Industrial, uma na qual a inovação tecnológica seria a protagonista e a eficiência do uso de recursos, com o uso de energia renovável, uma determinante condição de contorno.

Na Semana do Clima da América Latina e Caribe que aconteceu em Salvador (BA) em Agosto passado, isso também ficou evidente. Em vários momentos os desafios climáticos foram associados à Agenda 2030 da ONU e seus Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Está clara a necessidade de uma contribuição diferenciada da indústria e do meio empresarial. Nesta jornada o posicionamento antecipado de empresas líderes é um dos principais pontos para o sucesso da transição.

Tanto em Nova Iorque, como em Salvador, o tom foi o da necessidade do fortalecimento da ambição. Em muitos momentos foi discutida a necessidade de limitarmos o aumento da temperatura a 1,5°C em comparação com a era Pré-Industrial. Para que isto aconteça, estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC, composto por mais de 800 cientistas do mundo inteiro, estimam que será necessário que nos tornemos uma sociedade carbono neutro por volta da metade deste século. Hoje praticamente tudo que fazemos têm emissões, portanto essa mudança parece inimaginável, mas já há países que definiram compromissos nesse sentido. O Reino Unido é um deles (lembremos que foi lá que começou a primeira revolução industrial utilizando o carvão como fonte de energia).

Para que uma sociedade carbono neutra seja alcançada será necessário inovar. Inovar na forma de produzir, de consumir, de descartar… Estamos na era da terceira (alguns chamam de quarta) revolução industrial com a integração entre a tecnologia da informação à tecnologia industrial, com as “Fábricas Inteligentes” e “Internet das Coisas”. Mas de que adiantará sermos mais produtivos se não sobrevivermos às mudanças do clima. Pode ser que essa revolução já seja inerentemente obsoleta se não tiver um propósito, o de oferecer para todos nós produtos e processos que nos levem a essa sociedade carbono neutra. Uma nova revolução industrial já é necessária. Essa consideraria não apenas as restrições advindas das mudanças climáticas, mas também novas formas de satisfazer nossas necessidades sem que impeça às futuras gerações também satisfazerem as suas. Isso é o que se convencionou chamar de um desenvolvimento sustentável.

A ideia de mais uma revolução industrial pode parecer nova, mas já li artigos científicos citando mais uma revolução industrial associada ao uso da inteligência artificial, à nanotecnologia, à humanização da atual revolução industrial entre outros. Essa última seria uma visão próxima à que coloquei, mas ainda parece pouco. Os desafios que a ciência está nos mostrando nas questões climáticas, merecem uma reflexão mais profunda. Entendo que o propósito motivador deve ir além para que justifique uma expressão tão forte como “uma nova revolução industrial”. Essa teria que definitivamente nos colocar no caminho da sustentabilidade.

Pode ser que na Braskem estejamos dando passos no sentido dessa nova revolução industrial. A era “digital” já está em curso, mas também um propósito empresarial de “melhorar a vida das pessoas criando as soluções sustentáveis da química e do plástico”. Estamos envolvidos em diversos fóruns de discussão no meio empresarial, com ONGs e com o setor público trazendo alguns desses pontos. Em 2009, assumimos um compromisso público chamado “É preciso amadurecer para ser verde”, no qual nos comprometemos a melhorar nosso desempenho e intensificar o desenvolvimento de produtos que reduzam emissões ou sequestrem Gases de Efeito Estufa. Em 2010 lançamos o Polietileno Verde, que captura mais de 3 quilos de CO2 para cada quilo de produto.  Ano passado colocamos no mercado outro produto com conteúdo renovável: o EVA Verde. Definimos uma estratégia climática robusta, com metas de redução de emissões arrojadas e aprovadas pela alta liderança da empresa. Já reduzimos mais de 20% da intensidade das nossas emissões em relação a 2008 e já estamos definindo metas mais ambiciosas para 2030. No final do ano passado demos mais um passo lançando nosso compromisso em Economia Circular. Já colocamos no mercado produtos com conteúdo reciclado, que também ajudam na redução de emissões de Gases Efeito Estufa. Isso era impensável no nosso setor apenas uma década atrás. E novos investimentos no desenvolvimento de processos e produtos para fortalecer a “circularidade” estão em curso. Segundo o CDP (organização internacional que avalia práticas empresariais), estamos entre os melhores do mundo nesse assunto. Queremos ser a empresa líder global em trazer soluções para as questões climáticas.

Todo este movimento só foi possível graças ao arrojo das nossas equipes, mas entendemos que é necessário muito mais. Precisamos ganhar escala. Mais empresas precisam se juntar a essa nova revolução industrial. Novos negócios e mais parcerias devem ser feitas. Os mais diversos agentes devem se engajar e trabalhar alinhados com a possibilidade dessa nova situação: centros de pesquisa, academia, ONGs… e os governos, é claro. Esses últimos tem a capacidade de desenvolver políticas públicas que incentivem o engajamento. O desafio é termos todos a clareza de que esse futuro é possível e que buscá-lo pode trazer muitas oportunidades de crescimento para os nossos negócios e para o nosso país.

Há pouco, tomei conhecimento de um relatório da Indústria química europeia. Eles entendem que podem “liderar a transição do setor oferecendo soluções sustentáveis para os desafios globais”. Quando leio isso e sabendo que a matriz energética do Brasil é 45% renovável – a Europeia é apenas 30% – além disso, a pegada ecológica do Brasil é quase 40% menor do que a Europeia; perguntou-me, então, por que não poderíamos, nós, liderar essa nova revolução industrial? Está nas nossas mãos decidir se aproveitamos ou não essa oportunidade.

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