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A adaptação é sobre as pessoas

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Lucia Scodanibbio || Gerente de Projetos da Universidade do Cabo

À medida que as temperaturas globais continuam aumentando e as mudanças climáticas afetam um número crescente de pessoas, a adaptação se torna imperativa, principalmente nas regiões semiáridas, que sofrerão agudamente com os extremos climáticos.

Muitas vezes, as intervenções de adaptação se concentram apenas em soluções técnicas ou de engenharia, como a construção de infraestrutura de proteção (muros no mar), o fornecimento de sistemas de irrigação ou extração de águas subterrâneas ou a exploração de novas variedades de plantas tolerantes à seca. Muitas vezes, elas são implementadas de cima para baixo, ignorando o quão relevante ou culturalmente aceitável podem ser para os usuários e desconsideram questões como estruturas de poder que impedem uma participação significativa ou as da má governança, injustiça de gênero e desigualdade. As perspectivas das comunidades e indivíduos afetados raramente são levadas em consideração e, se a consulta ocorrer, geralmente se concentra naqueles que – mesmo entre os grupos mais afetados – têm mais voz, reconhecimento ou poder. Isso pode levar a consequências negativas para grupos marginalizados, diminuindo sua capacidade de adaptação e também diminuindo a eficácia de tais ações e dos recursos de adaptação.

Para serem planejadas e implementadas com sucesso, as soluções técnicas precisam ser combinadas com a participação efetiva dos diferentes atores locais que precisam acessar o suporte financeiro, técnico, institucional e político necessário. Novas abordagens à governança climática são necessárias para permitir que numerosas e diversas opiniões sejam ouvidas, especialmente aquelas tipicamente excluídas. Abordagens como processos de construção de cenários, avaliações participativas de vulnerabilidades ou o teatro dos oprimidos, por exemplo, envolvem a criação de plataformas que permitem às pessoas opinar sobre as decisões que as afetam e, também, reconhecer os diferentes fatores que contribuem para o bem-estar das pessoas.

Embora as soluções técnicas sejam fundamentais, os tomadores de decisão devem considerar como a dinâmica estrutural subjacente pode criar vencedores, mas também perdedores em seu design e implementação. Um primeiro passo para uma adaptação eficaz é reconhecer que as intervenções afetam diferentes grupos de pessoas de maneiras diversas. A diferença entre pessoas diferentes e até membros da mesma família em responder aos riscos varia, dependendo de fatores como idade, estado civil, etnia, gênero, classe, percepção das pessoas e disposição de correr ou evitar riscos. Essas diferentes dimensões da identidade das pessoas interagem com fatores como normas sociais, sinais de mercado, leis e políticas, para moldar – e muitas vezes limitar – a ação de uma pessoa e como ela é impactada e pode responder às mudanças climáticas.

Para projetar intervenções eficazes de adaptação, precisamos entender como as pessoas podem ou não podem – e como vão ou não escolher – acessar soluções de adaptação devido às estruturas de poder dominantes, crenças e valores socioculturais. Não somente essas barreiras devem ser abordadas ao projetar intervenções, mas se a adaptação prestar mais atenção ao bem-estar das pessoas é provável que seja mais eficaz.

Uma abordagem de bem-estar ajuda a humanizar os esforços de adaptação, tornando-os menos tecnocráticos e mais próximos do que as pessoas precisam. A medição de uma boa adaptação deve ir além das métricas tradicionais, como aumento de renda, impactos biofísicos reduzidos a choques “bancáveis”. Em vez disso, deve enfatizar a relevância das necessidades humanas, aspirações e – claro – felicidade. Ela precisa reconhecer os diferentes recursos e capacidades que as pessoas têm; e como elas moldam as opções de subsistência, a satisfação com a vida e a resiliência. A adaptação nem sempre pode ser “financiável”.

Os tomadores de decisão da adaptação, em todo lugar, precisam entender que as pessoas têm diferentes aspirações nas suas vidas e que elas mudam com o tempo. As aspirações geralmente determinam o que é mais importante para os indivíduos e podem fornecer pontos de referência para o que os motiva a realizar escolhas dos meios de subsistência e gerenciamento de riscos, incluindo emprego, migração ou adoção de certas práticas de adaptação.

É importante compreender o contexto cultural, social e ecológico, único de cada comunidade; os diferentes fatores que influenciam a vulnerabilidade e a capacidade das pessoas de responder aos riscos. O que influencia seu bem-estar é crucial para a formulação de políticas eficazes. É fundamental trabalhar mais de perto com as partes interessadas para projetar e desenvolver intervenções de adaptação, pois no final, a adaptação é sobre as pessoas.

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