Arthur Soffiati |
Não apenas os ambientes úmidos e superúmidos formam biomas. Os secos e os supersecos também. No Holoceno, fase atual da história da Terra, por enquanto, existem biomas aquáticos doces e salinos e biomas terrestres úmidos e secos, como as florestas tropicais e os desertos. Podem ser considerados biomas nas extremidades de uma escala que engloba florestas frias, florestas temperadas, florestas tropicais, savanas, estepes e suas combinações. É claro que a biodiversidade de um deserto é mais reduzida que a da floresta amazônica, por exemplo, ou de qualquer outra floresta. Mesmo assim, os desertos não se constituem apenas de grandes extensões arenosas sem vida.
É necessário chamar a atenção para os processos de desertificação, que resultam de ações humanas, geralmente o uso excessivo do solo para agricultura e pastagem e a absorção de água em excesso. Os desertos estão mais secos e se expandindo. Hoje, podemos identificar uma grande superfície desértica que se estende da Mongólia ao Saara Ocidental; outra que se se situa na costa do oceano Pacífico, na América do Sul, entre o deserto de Atacama e a costa peruana, e mais uma na costa do Pacífico entre o México e o Canadá. No Brasil, a Caatinga é uma savana estépica em pleno processo de desertificação. Enfim, o bioma deserto deriva naturalmente de baixa precipitação pluviométrica anual com grande variação de temperatura em 24 horas, mas pode resultar de ações humanas.
Mesmo assim, existem concentrações de umidade nos desertos. São os oásis. No deserto de Atacama existem áreas com lagos. O rio Nilo é, naturalmente, um longo oásis na extremidade oriental do Saara. A vegetação é constituída por plantas arbustivas e herbáceas com grande capacidades de retenção de água (xerófitas). Na África e na Ásia, algumas espécies alcançam grande porte, como as palmeiras. Nas Américas, desenvolveu-se uma grande família de plantas com caule e folhas modificadas para acumular água e reduzir a evapotranspiração: as cactáceas.
A fauna também foi selecionada por essas condições extremas ou se adaptou a elas. Geralmente, é constituída por animais pequenos. Invertebrados, répteis (cobras e lagartos), pequenos mamíferos (ratos, marmotas). Mas também mamíferos grandes desenvolveram adaptações a esse bioma extremamente seco, como dromedários, lhamas, alpacas, vicunhas e guanacos. Na sua maioria, eles têm hábitos noturnos para melhor enfrentar a alta insolação e as temperaturas diurnas.
O aspecto árido dos desertos, os mais secos biomas da Terra, induzem a pensar que eles consistem em ambientes inabitáveis para humanos em caráter permanente por não terem suficiência quanto a alimentos. Por mais secos que se apresentem, ainda há oásis neles que propiciam a vida sedentária ou semissedentária. Quando os europeus chegaram à América, o deserto de Atacama era habitado pelos atacamenhos. Esse povo deixou várias obras de vulto, demonstrando elevada organização social. No Atacama, a flora é rala e constituída por pequenas árvores, como a pimienta e o algarrobo, e arbustos, como o chanhar, a anhanhuca e a brea. Abundam os cactos. Embora deserto, existem alguns lagos quase perenes, fornecendo água para os seres vivos. Mesmo escassa, a vida era uma fonte de alimento para os povos nativos, que viviam numa economia de subsistência. Pode-se até falar numa gastronomia atacamenha atualmente. Até mesmo o cultivo de plantas é praticado nesse deserto, considerado o mais seco do mundo. É nítida a influência incaica.
O chanhar é uma pequena fruta que fornece adoçante e com a qual pode-se fazer inclusive sorvete. A rica-rica cresce em altitudes acima de 3.000 m, e é usada como tempero. O algarrobo é uma leguminosa com a qual se faz uma farinha muito alimentícia. A quínoa é típica dos Andes e conta com alto valor nutricional. É usada em vários pratos. Existe uma grande variedade de batata conhecida como “inglesa”, mas que é nativa dos Andes. A carne de lhama também é muito apreciada.