A Antártica, o único continente desabitado do planeta, possui cerca de 107 mil hectares de vegetação. É o que revela o mais novo levantamento do MapBiomas, com base em imagens de satélite obtidas sobre a Antártica entre 2017 e 2025. Os dados sobre as áreas livres de gelo e as que são cobertas por vegetação durante os meses do verão antártico estão disponíveis gratuitamente no site www.mapbiomas.org a partir de 1º de dezembro, o Dia da Antártica, quando se comemora a assinatura do tratado, firmado em 1959 estabelecendo o continente como área internacional e de pesquisas científicas, com participação de 58 países.
O levantamento mostra que as áreas livres de gelo ocupam 2,4 milhões de hectares, ou menos de 1% da área total da Antártica, que é de 1,366 bilhão de hectares. Destas áreas livres de gelo, aproximadamente 5% estão cobertas por vegetação, totalizando pouco mais de 107 mil hectares. A vegetação na Antártica se desenvolve nas áreas livres de gelo que ocorrem principalmente nas ilhas, na região costeira e na Península Antártica, mas também são identificadas no topo das cadeias de montanhas do interior do continente.
“Mapear áreas livres de gelo e cobertas por vegetação é crucial para o monitoramento dos impactos das mudanças do clima no ambiente antártico. O mapa de áreas livres de gelo é essencial para o monitoramento da fauna do continente, pois os ninhos e o nascimento dos filhotes das espécies animais ocorrem nessas áreas durante o verão. O mapa de vegetação, por sua vez, fornece informações essenciais para avaliar a produtividade dos ecossistemas, permitindo monitorar as mudanças ambientais e regiões sensíveis”, explica a professora Eliana Fonseca que coordenou o mapeamento. “Acompanhar a dinâmica natural do continente antártico também se justifica por sua influência direta sobre o clima do hemisfério sul, atuando como um regulador térmico global e sendo o local de nascimento das frentes frias, que também influenciam a precipitação pluvial no sul do planeta Terra”, completa a cientista.
A Antártica não tem incidência de radiação solar nos meses de inverno, o que significa que as áreas livres de gelo só podem ser identificadas no verão, após o derretimento da neve e do gelo acumulados, permitindo a exposição de solos e rochas. A vegetação, portanto, surge apenas nesse período, nas áreas onde há maior incidência de radiação solar e em terrenos planos onde há acúmulo de água líquida. Com o retorno do inverno, toda essa vegetação morre, ficando apenas os esporos, sementes e estruturas vegetativas que irão brotar novamente no verão seguinte nas mesmas áreas.
“A questão da incidência solar foi um dos desafios deste mapeamento”, ressalta a professora. “Além de só podermos identificar áreas livres de gelo no verão, nessa época ocorre também o fenômeno conhecido como “sol da meia-noite”, que é quando o sol circunda o continente, causando a projeção de uma grande quantidade de sombras feitas pelas cadeias de montanhas existentes no interior. Por isso não foi possível mostrar a dinâmica ao longo dos anos, como em outros mapeamentos do MapBiomas, mas sim compor um mosaico de imagens livres de nuvens e com pouca influência de sombras com base no que o satélite capturou nos meses de verão ao longo de vários anos”, detalha.
“Esta é a primeira versão (beta) do mapeamento e esperamos que as próximas coleções envolvam mais cientistas e grupos de pesquisa da Antártica trazendo não só melhorias no mapeamento das áreas sem gelo e cobertas por vegetação, mas também agregando outras variáveis e contribuindo para o monitoramento e a compreensão das mudanças climáticas e ambientais no continente”, acrescenta Júlia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas.
As temperaturas na Antártica variam ao longo do ano e conforme a região. Enquanto nas ilhas antárticas a temperatura máxima mensal média entre 1958 e 2024 é positiva (entre 1 e 3 °C) nos meses de verão, no interior do continente (ex. Ellsworth Mountains, a cadeia de montanhas mais alta da Antártica) as temperaturas máximas variam entre -15 e -30 °C e as mínimas entre -20 e -35 °C, com valores negativos durante todos os meses do ano.
O mapeamento da Antártica em escala continental só se tornou viável recentemente, pois os satélites ambientais foram historicamente planejados para cobrir regiões tropicais e temperadas. O mapeamento do MapBiomas utilizou as imagens dos satélites Sentinel-2, com resolução de 10 metros, adquiridas entre 2017 e 2025. O mapeamento das áreas livres de gelo em todo o continente utilizou algoritmos de machine learning e processamento em nuvem, devido ao grande volume de dados. O mapeamento da vegetação foi feito por meio da detecção da atividade fotossintética pelo Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), calculado a partir das imagens de satélite sobre as áreas livres de gelo previamente mapeadas.
PDF com mapas e gráficos aqui.



