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Pantanal tem redução de 75% na frequência anual de áreas alagadas

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Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

Perda de cobertura vegetal no Planalto da Bacia do Alto Paraguai agrava a seca no bioma

O Pantanal, a maior planície alagável do mundo, vive o período mais seco das últimas quatro décadas. O levantamento, feito pelo MapBiomas a partir da Coleção 10 de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil, cobrindo o período de 1985 a 2024, revela que a área anual que permanece alagada no bioma diminuiu 75%, passando de 1,6 milhão de hectares na primeira década (1985-1994) para 460 mil hectares na última (2014-2024). O ano de 2024 foi o mais seco de toda a série histórica; a área alagada ficou 73% abaixo da média. A última grande cheia, registrada em 2018, foi 22% mais seca do que a primeira grande cheia da série, em 1988. O bioma tem enfrentado períodos de cheias menores e secas mais severas a cada década.

As mudanças na Planície Pantaneira se correlacionam com as transformações ocorridas no Planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP), onde nascem os rios que abastecem o Pantanal. A BAP abrange áreas de Mato Grosso (48% da BAP, 17,4 milhões de hectares, representando 19% do estado) e Mato Grosso do Sul (52% da BAP, 18,6 milhões de hectares, representando 53% do estado). O bioma Pantanal corresponde à Planície, enquanto o Planalto é dividido entre o Cerrado (83%) e a Amazônia (17%).

As alterações da cobertura vegetal foram mais intensas no Planalto, o que impacta diretamente no fluxo hídrico entre Planalto e Planície. A área natural do Planalto caiu de 72% para 46% em Mato Grosso e de 59% para 36% em Mato Grosso do Sul, o que representa uma perda total de 5,2 milhões de hectares (37%) de vegetação nativa entre 1985 e 2024. No mesmo período e no Planalto, a agricultura aumentou 3,8 vezes (1,4 milhão de hectares), com a soja representando 80% das áreas agrícolas. A pastagem aumentou 4,4 milhões de hectares sobre a vegetação nativa, intensificando as áreas antrópicas no Planalto. 

As variações climáticas e precipitação na BAP determinam o pulso anual de cheias no Pantanal. A perda de Florestas e Savanas fragiliza a proteção dos solos nas cabeceiras do bioma, o que interfere no fluxo de água que chega na Planície. Em 1985, 33% do Planalto, ou sete milhões de hectares, já eram de uso antrópico. Em 2024, praticamente 60% do Planalto é antropizado”, explica Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas. 

A condição das pastagens no Planalto também é um fator agravante que chama a atenção. Em 2024, 63% das pastagens apresentavam baixo ou médio vigor vegetativo. Do total de 8,6 milhões de hectares de pastagem no Planalto, a porção na Amazônia (2.068.850 hectares) apresenta 52% de baixo vigor e 40% de médio vigor, enquanto a porção no Cerrado (6.620.165 hectares) tem 14% de baixo vigor e 41% de médio vigor.

Na Planície Pantaneira, as mudanças também foram significativas. A área natural caiu de 96% para 84% entre 1985 e 2024, com uma perda total de 1,7 milhão de hectares de vegetação nativa, sendo 0,7 milhão de hectares na porção em Mato Grosso (onde a área natural caiu de 96% para 84%) e 1,1 milhão de hectares na porção em Mato Grosso do Sul (onde a área natural caiu de 96% para 85%).

A conversão de vegetação nativa para pastagem foi de  1,7 milhão de hectares em 40 anos no Pantanal. A pastagem passou de 563 mil hectares em 1985 para 2,2 milhões de hectares em 2024. O dado de condição de vigor das pastagens mostra que em 2024, 85% das pastagens da Planície tinham baixo ou médio vigor vegetativo. A mineração foi a atividade antrópica que mais cresceu proporcionalmente na última década no Pantanal, com um aumento de 60%.

No conjunto da Bacia do Alto Paraguai, as áreas agropecuárias aumentaram de 21% em 1985 para 40% em 2024, somando 7,5 milhões de hectares convertidos de vegetação nativa em quatro décadas. Desse total, 84% (12 milhões de hectares) da agropecuária estão no Planalto e 16% (2,3 milhões de hectares) na Planície. 

A análise por décadas detalha a dinâmica na Planície e no Planalto:

•1985–1994: A maior conversão de formação savânica para pastagem  ocorreu nesta década. A pastagem dobrou a área existente (592 mil hectares). Foram convertidos 341 mil hectares de formação savânica, 166 mil hectares de formação florestal, 57 mil hectares de vegetação campestre e 28 mil hectares de campo alagado. O Planalto perdeu 12% de sua vegetação nativa (2,6 milhões de hectares).

•1995–2004: O desmatamento avançou para o interior do bioma Pantanal, com perda de 527 mil hectares de vegetação nativa, o que representa perda de 3% da vegetação nativa no bioma. No Planalto, a perda de vegetação nativa foi de 9%. 

•2005–2014: Foi observado pela primeira vez a redução da frequência de alagamentos e o adensamento lenhoso, com 350 mil hectares de formações savânicas se expandindo sobre campos e pastagens. As perdas de vegetação nativa proporcional, na Planície e no Planalto, foram de 1,5% em cada região.

•2015–2024: A década mais seca, com a redução de 1,2 milhão de hectares (em relação à primeira década) na área anual que permanece alagada na Planície. Nesta última década, a Planície Pantaneira perdeu mais vegetação nativa (450 mil hectares) do que o Planalto, que mantém, em 2024, 42% de áreas naturais, enquanto o Pantanal tem 84% do bioma com áreas naturais.

Sobre a Coleção 10: mapas anuais de cobertura e uso da terra cobrindo todo o território brasileiro entre 1985 e 2024, com 30 classes mapeadas, de florestas a vegetação herbácea e arbustiva, diversas classes de agropecuária, além de áreas urbanizadas, mineração, entre outras. Em um módulo à parte apresenta-se a classe de recifes costeiros. A cada ano é gerada uma nova coleção de mapas, com atualização do último ano, melhorias e inclusão de novas classes. Esta coleção, a nova classe, foi usina fotovoltaica (beta).

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