Márcia Régis | Redação Eco21 |
Uma gestão federal publicamente contrária aos princípios da Agenda 2030 e que se nega a cuidar das pessoas e do meio ambiente coloca o Brasil, em 2022, com 33 milhões de pessoas sem comida e com a vergonhosa volta do país, uma potência global na produção de alimentos, ao Mapa da Fome. É um retrocesso total de uma nação que já liderou ações internacionalmente aclamadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A fome é o ápice do quadro de insustentabilidade do Brasil, que incorpora outros dados de difícil aceitação. É a triste constatação da VI edição do Relatório Luz (RL 2022), um detalhado estudo de 108 páginas que tem a realização do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 e organização da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero. As análises técnicas e a sistematização de dados do atual relatório envolveram 101 especialistas de 48 organizações da sociedade civil, entre instituições acadêmicas do Brasil e do Reino Unidos e renomadas organizações não-governamentais.
O relatório avalia cada uma das 17 metas da Agenda 2030: erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e acessível; trabalho decente e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura; redução das desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsáveis; ação contra a mudança global do clima; vida na água; vida terrestre; paz, justiça e instituições eficazes; parcerias e meios de implementação.
Duas metas foram classificadas integralmente como em “retrocesso”: a redução das desigualdades (ODS 10) e a ação contra a mudança global do clima (ODS 13). As demais metas se classificam como em retrocesso, estagnadas, ameaçadas e/ou com dados insuficientes para análise. Nenhuma das metas pode ter seu progresso avaliado como “satisfatório”.
A publicação é dedicada ao jornalista Dom Philips e ao indigenista Bruno Pereira, que foram assassinados na Amazônia em junho de 2022, no cumprimento de suas funções. O patrocínio do estudo é da ACT Promoção da Saúde, Elsevier, Friedrich-Ebert-Stiftung, Oxfam Brasil e Plan International Brasil.
SERVIÇO
O Relatório Luz, documento elaborado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030/GTSC A2030), analisa a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil e mostra o que o país precisa fazer para cumprir o compromisso que assumiu junto à ONU de alcançar as metas globais até 2030.
O GT Agenda 2030 foi formalizado em 9 de setembro de 2014 e é resultado do constante encontro entre organizações não governamentais, movimentos sociais, fóruns e fundações brasileiras durante o seguimento das negociações da Agenda Pós-2015 e seus desdobramentos. Desde então, atua na difusão, promoção e monitoramento da Agenda 2030 e busca divulgar os ODS, mobilizar a sociedade civil e incidir politicamente junto ao governo brasileiro e sistema das Nações Unidas para a sua implementação. O grupo de trabalho tem cerca de 50 membros de diferentes setores que, juntos, cobrem todas as áreas dos 17 ODS da Agenda 2030.