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Crise da água no Rio de Janeiro

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Samyra Crespo || Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Samyra Crespo sorrindo – Foto: Ana Huara

A CEDAE deveria suspender a cobrança por um serviço ruim e que foi interrompido.

Acompanhei cheia de reticências as resistências à privatização da CEDAE.

Em princípio tenho para mim que água não deveria ser um “produto” do mercado livre, mas um bem público – por ser essencial à vida humana. Água de má qualidade compromete a saúde. A falta dela é uma calamidade.

É um cenário de calamidade o que se vê no Rio.

Desde os anos 90 militei publicamente contra as insuficiências e falácias da CEDAE. Compareci a debates públicos com o Deputado Carlos Minc para denunciar as mentiras e a falta de transparência na gestão da estatal. Dados sobre a qualidade da água sempre foram ou escondidos ou manipulados.

Todos sabem, há décadas, que a CEDAE funcionava como o “caixa 2” do Governo do Estado.

Todos sabem, há décadas, sobre a crescente poluição do Paraíba do Sul e de seus afluentes.

Bebemos “esgoto tratado” que conseguiu evoluir para esgoto mal tratado.

A cidade já sofre há tempos de um racionamento crônico seletivo – com muitos bairros (em geral pobres) com serviços interrompidos alguns dias por semana.

Mas é periferia ou “comunidades” e a zona Sul ou os hotéis lotados de turistas têm água à vontade.

Tinham.

Agora a realidade – dura – atinge a todos.

Até a água mineral começa a sumir das prateleiras dos mercados – deixando a população, rica ou pobre, numa incerteza cruel.

No passado, cidades inteiras foram abandonadas por falta de água ou por poços envenenados.

Escombros de civilização é o que resta quando as condições básicas de vida são deterioradas.

Vocês poderão contrargumentar que temos tecnologia e dinheiro. Investimentos terão que ser feitos.

Sucederam-se gestões na CEDAE e planos foram engavetados.

Passou a Copa e também as Olimpíadas e oportunidades foram perdidas.

Mesmo que agora o saneamento vire prioridade, quanto tempo teremos que esperar para nos beneficiarmos de seus possíveis resultados?

Quanto tempo vamos aguentar? Hospitais, escolas, creches, asilos, é bem fácil prever o tamanho da tragédia em curso.

Em breve, mais um negócio enriquecerá milicianos: o comércio de carros-pipa carregando água.

Pagamos mensalmente contas de água. Não são baratas. A CEDAE vai suspender a cobrança para que compremos água mineral?

Pagará pelo acúmulo absurdo de pets e garrafas que serão descartados?

E o que nós – consumidores e população vamos fazer?

Engolir mais esse sapo de desgoverno, desvio de dinheiro e péssimo serviço?

É uma pílula amarga – e meus caros, engolida a seco, pior ainda.

—-

Este texto é o primeiro de uma série que passarei a publicar semanalmente no site da revista ECO•21.

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