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Questões ambientais são destaques entre os finalistas do Prêmio Megafone

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Edição de 2024 da premiação chega a número recordes de inscritos e o Meio Ambiente é pauta quente entre os concorrentes

A terceira edição do Prêmio Megafone de Ativismo bateu recorde de inscrições: foram mais de mil iniciativas em defesa dos direitos humanos e meio ambiente que vieram das cinco regiões do país. As obras e ações inscritas traçam um perfil das causas que movimentaram o país no ano passado e mostram como alguns temas ganharam relevância em 2023.

O perfil de quem fez as inscrições também é bastante revelador de quem precisa lutar por seus direitos no Brasil. Mais de dois terços (67%) foram feitas por pessoas não brancas – percentual semelhante (63%) às inscrições que foram feitas por mulheres cis e trans. A juventude entre 16 e 30 anos respondeu por mais da metade (56%) das inscrições. E a região da Amazônia Legal, alvo constante de conflitos, representou 47% do total.

Os trabalhos refletem ainda a criatividade dos ativistas brasileiros, que fizeram uso de inúmeros recursos audiovisuais – de jingles a lambes, de documentários a cartazes – para transmitir de forma eficiente e impactante suas mensagens. Também chamou a atenção o cuidado com a linguagem: embora muitas abordem problemas locais, todas são compreensíveis por brasileiros de qualquer parte do país.

“O Prêmio Megafone é como um grande holofote que lança luzes na encruzilhada entre o ativismo e a arte. Além da relevância das causas abordadas, há muita criatividade para tornar as mensagens atrativas e engajadoras. É essa criatividade, essa emoção, essa garra para lutar por um país melhor que temos homenageado desde nossa primeira edição, em 2022”, afirma Digo Amazonas, da equipe de organizadores do prêmio.

As inscrições ocorreram até o dia 9 de fevereiro e agora 5 finalistas aguardam os resultados, que sairão em abril, no site e redes sociais do prêmio Megafone de Ativismo. Além da divulgação de seus projetos, os vencedores levarão para casa um troféu e brindes da coalizão organizadora. Veja abaixo as categorias e os projetos que levaram o Meio Ambiente até a final da premiação

Ação direta

Na categoria, a coleta de lixo organizada pelo coletivo de comunicadores indígenas, Rede Wayuri, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas – o grupo retirou seis toneladas de resíduos deixados pela seca do Rio Negro. As projeções e protestos feitos em João Pessoa, Paraíba, contra o alargamento da orla da capital e resultaram no projeto sendo arquivado também concorre a categoria. 

No Rio Grande do Sul, o protesto de um grupo de jovens em frente a uma unidade de uma empresa de agrotóxicos – A ação fez parte da 14a Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, que trouxe o lema “Combater o Agro, garimpo e a mineração: Rompendo cercas alimenta a nação!”

Foto: Juventude Sem Terra/ Levante da Juventude

Cartaz em manifestação

Na categoria, uma série de cartazes feitos na Terra Indígena Nawa, Aldeia Novo Recreio,
do Acre, e carregados por crianças em ato em defesa do direito originário das
comunidades indígenas a suas terras.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Cidadão indignado

A fala de Yuri Silva, amapaense diretor técnico do Instituto Mapinguari – que representa a população local na defesa do clima e comunidades tradicionais que seriam atingidas pela exploração petrolífera na costa do estado – em manifestação sobre o tema durante audiência na Câmara Municipal do Macapá chegou a final

Em Paulista, Pernambuco, o movimento Salve Maria Farinha foi às ruas para denunciar o descaso do poder público com uma importante região do município, prejudicada depois que várias empresas licitantes abandonaram a obra de saneamento básico na principal rodovia de acesso às praias. A mobilização chamou a atenção da mídia e das redes sociais e a pressão levou à recuperação da rodovia.

Em Maceió, Alagoas, a Braskem causou o maior desastre urbano na América Latina, com o colapso de uma mina que levou junto parte significativa da capital alagoana. Apesar disso, representantes da empresa pretendiam participar de paineis na Conferência do Clima em Dubai. Graças à denúncia nas redes sociais, foi gerada pressão suficiente para que a empresa cancelasse sua participação.

Documentário

Finalista na categoria Documentário, “Um Cochicho à Resistência” retrata a luta em defesa da Ilha de Boipeba e suas comunidades contra mega empreendimentos turístico-imobiliários. A obra traz relatos e visões de 13 moradores com diferentes idades, mesclando paisagens incríveis, tradições, atividades extrativistas e histórias que perpassam a história do Brasil nos últimos 500 anos. Quilombolas e comunidades tradicionais, praticam a pesca, a agricultura e vivem a natureza de forma intrínseca. Praticam capoeira, religiões e danças afro-brasileiras. Boipeba abriga uma das porções mais preservadas de Mata Atlântica. Parte do arquipélago de Tinharé, a Ilha de Boipeba é um dos principais pontos de turismo ambiental do Brasil. Atualmente, o Nordeste sofre por uma “corrida pela terra” por meio da privatização de terras públicas. Um projeto turístico-imobiliário visa ocupar 20% da Ilha de Boipeba. Além de atropelar diversas legislações ambientais, impactará a vida dos povos tradicionais e da floresta. Se bem sucedido, abrirá precedentes para que outros de mesma proporção aconteçam na ilha.

“Vítimas indígenas lutam por reparação quatro anos após desastre da Vale em Brumadinho” também é um dos curtas finalistas. Ele denuncia a continuidade dos crimes da mineração contra grupos indígenas atingidos pelo crime da Mineradora Vale, na região de Brumadinho (MG), após crime socioambiental ocorrido em 2019, que matou 272 pessoas e trouxe inúmeros problemas ambientais para toda bacia do Rio Paraopeba. O documentário, que foi lançado pelo veículo de mídia norte americano Mongabay, ganhou proporção nacional e internacional. Na época, o veículo de mídia independente Mídia Ninja também publicou e o alcance atingiu mais de 1 milhão de pessoas. A repercussão dessa produção contribuiu para fazer pressão para que as negociações do Ministério Público, FUNAI e os órgãos responsáveis ganhassem celeridade na justiça. Já houve negociações recentes e em breve o recurso de reparação e compensação financeira vai sair para os territórios e grupos indígenas Pataxó atingidos.

Outro finalista é “Relatos de uma Guerra”. Na busca por retomar seus territórios tradicionais no Mato Grosso do Sul, indígenas Kaiowa e Guarani têm sido vítimas de violentos ataques organizados por fazendeiros e forças policiais. Entre 2019 e 2022, incentivados pelo projeto anti-indígena do presidente Jair Bolsonaro, os agressores intensificaram esses ataques, elevando a tensão nas retomadas a níveis alarmantes. Esse documentário percorreu alguns dos territórios mais atacados nesse período para ouvir os relatos dos sobreviventes e reconstruir parte dessa história de violência que transformou a região em uma das áreas mais conflituosas do Brasil.

O documentário “Guardiãs dos Rios – Histórias das Margens” representa uma das iniciativas do projeto “Guardiãs dos Rios”, uma colaboração entre a Rede Jandyras e o Laboratório da Cidade, ambas organizações sediadas em Belém. Sua proposta é realizar um registro visual da história oral das moradoras do Canal São Joaquim. Além disso, o documentário visa compartilhar as experiências, desafios, dores e amores vivenciados por essas mulheres que desempenham o papel de guardiãs no contexto belenense. A produção audiovisual não apenas documenta o passado, mas também serve como uma forma de sensibilização e divulgação das narrativas das mulheres que desempenham um papel tão crucial na proteção dos rios em Belém.

Do Ceará vem outro finalista da categoria Documentário do Prêmio Megafone: Clima de Urgência. O documentário aborda a vida e resistência do povo indígena Anacé de Caucaia, com depoimentos de cientistas e indígenas, diante da invasão de seus territórios por grandes projetos de termelétricas. Confira o documentário na integra pelo link.

Fotografia

Do Amazonas veio a inscrição no prêmio da imagem captada por Edmar Barros, de centenas de peixes mortos no RDS Lago do Piranha, em Manacapuru, devido à falta de oxigênio e às altas temperaturas da água – e que está entre osfinalistas da categoria Fotografia.

Uma indígena segurando uma bandeira do Brasil manchada de vermelho com urucum, em alusão ao sangue derramado desde o início da colonização em um violento processo de apropriação de terras e destruição de povos e culturas – esta é uma das finalistas na categoria Fotografia do Prêmio Megafone de Ativismo, em clique de Juliana Duarte, de Brasília.

O retrato do combate ao fogo feito pela brigada voluntária formada por indígenas do Maranhão é mais um finalista da categoria fotografia. A imagem de Geniilson Guajajara mostra tanto a força de vontade de continuar na proteção territorial como a solidão nessa luta, desfalcada de amparo estatal.

Weslley Souza, de Cametá, no Pará, é autor das imagens do ato político “Banzeiro das Atingidas do Baixo Tocantins: Em defesa da Amazônia, das água e da vida”, que estão entre os finalistas da categoria.

Barqueata - Ato político "Banzeiro das Atingidas do Baixo Tocantins: Em defesa da Amazônia, das água e da vida"
Foto: Weslley Souza

Jovem ativista

Nessa categoria, estão entre os finalistas o jovem Darlon Neres dos Santos, ameaçado de morte por denunciar a exploração de madeira ilegal nos órgãos ambientais que acontece no Assentamento PAE Lago Grande em Santarém (PA) e a jornalista acreana Hellen Lirtêz, afro-índigena que desenvolveu sua carreira na área socioambiental.

Marcha ou Manifestação de Rua

Na categoria Marcha, um dos finalistas é a manifestação feita durante a 34ª Semana Chico Mendes. Os participantes caminharam pelas ruas de Xapuri, da Casa de Chico Mendes até o seu túmulo, entoando gritos como Chico Vive, Floresta em Pé! Algumas paradas foram feitas para que amigos em vida de Chico fizessem suas falas sobre a vida e seu legado.

O protesto da população alagoana nas ruas de Maceió denunciando as ações criminosas da petroquímica Braskem também é um dos finalistas da categoria. Amplamente divulgado pela imprensa em sua fase mais critica, que exigiu a remoção de milhares de pessoas de suas casas, o acidente ambiental provocado pelas atividades da Braskem na capital alagoana já era denunciado há décadas pelos moradores. Neste protesto, a população seguiu em direção à Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, onde reivindicou realocação digna dos moradores que estão na área de risco, revisão dos contratos de indenização e cobrança dos órgãos de controle institucional que possam investigar a Braskem.

No Dia Mundial da Água do ano passado, o Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), realizou uma barqueata – que é uma das finalistas na categoria Marcha do Prêmio Megafone. A ação percorreu por rio o trajeto entre a Vila de Carapajó, em Cametá (PA), até a comunidade Praticaia, onde foi realizado um encontro com o objetivo de denunciar a violação de direitos das mulheres atingidas, fortalecer a organização e luta por direitos e em defesa da Amazônia, fazendo resistência à projetos de morte como a construção da hidrovia Tocantins-Araguaia. O Encontro de Mulheres do Baixo Tocantins que aconteceu teve como lema – “Banzeiros das atingidas do Baixo Tocantins: Em defesa das Águas e da Vida”.

Nos Arquipélagos do Bailique e do Marajó, a realidade da crise energética é uma luta diária para as comunidades locais. A falta de acesso à eletricidade é um problema sério que afeta a vida de todos, sobretudo das mulheres de comunidades tradicionais. Por isso, essa ação foi desenvolvida juntamente com as mulheres dos Arquipélagos do Bailique e Marajó, tendo por inspiração a organização Guardiões do Bem Viver. Ela faz parte da de uma campanha denominada “Te liga, comadre! Mulheres por energia popular” desenvolvida por três organizações da Amazônia que trabalham com comunidades, energia, clima e racismo ambiental: Coletivo Utopia Negra Amapaense, Observatório do Marajó e Associação Gira Mundo. O rabetaço foi um apelo para que todos reconheçam a realidade dessas comunidades e apoiem seus esforços por uma solução justa e participativa na luta contra a crise energética.

Perfil de Rede Social

Também concorre ao prêmio Megafone o perfil em redes sociais da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira. Criada há 34 anos para unir e fortalecer a Amazônia Indígena, a COIAB usa suas redes sociais como um hub com recursos para as populações que representa, notícias, mobilização e captação de recursos.

Meme ou Humor na Internet

Walter Oliveira da Silva, indígena de Santarém (PA) é autor da sátira ao filme Barbie que destaca a importância do reflorestamento como medida de combate à crise climática.

Fernando Henrique de Souza Barreto, da cidade de Paulista, em Pernambuco, gravou um vídeo ironizando a situações que acontecem após 15 minutos de chuva para chamar a atenção para o problema do saneamento básico na cidade.

Do perfil Militante Cansado, de Belém, Pará, veio o meme de humor ativista, criticando a superficialidade com a qual a questão ambiental é tratada por algumas pessoas, a partir de imagem do BBB. Também da capital paraense vem o meme do Zé – José Kaeté ou Zé na Rede é um jovem indígena comunicador que usa do bom humor nas redes sociais para trazer reflexões sobre amazônia, povos originários e ativismos. Baseado nos tradicionais diálogos das centrais de atendimento, ele denuncia não só a dificuldade de acesso ao governo para falar de meio ambiente como também a maior atenção dada a ativistas do Sudeste em detrimento dos ativistas locais.

Por meio de um diálogo baseado nas corriqueiras reclamações sobre o tempo, este vídeo de Rita de Cássia Alfaia Dantas, de Manaus (AM) alerta para a crescente inconstância do clima.

Música ou Videoclipe

Um dos finalistas da categoria música do Prêmio Megafone de Ativismo é o remix do “Brasil do Cocar”, feito pelo DJ Zek Picoteiro e pela APIB e integrando falas poderosas de, Celia Xakriaba e Txai Suruí sobre a importância de derrotar a tese do Marco Temporal e a importância da demarcação de terras indígenas.

Outra música finalista é o jingle “Mar de Lágrimas” – samba criado para incentivar a mobilização de comunidades que podem ser impactadas pela Oferta Permanente de Blocos de Exploração de Petróleo da ANP. A diretora de arte e editora do clipe, Renata Jurkevicz Sembay, de Curitiba (PR), relata que a ação obteve grande adesão de quilombolas e indígenas, além da mobilização nas redes sociais, e conseguiu com que apenas um terço dos 603 blocos disponíveis no leilão de petróleo fossem arrematados e 196 com sobreposição a territórios de povos tradicionais e unidades de conservação foram litigados pelo Instituto Arayara, pedindo a sua retira da Oferta Permanente da ANP.

Maya Dourado e Matheus Venícios são os autores de “O Brasil é Terra Indígena, nosso povo resiste, não a nada que nos pare!” Maya é estudante de artes cênicas/teatro, compositora e vocalista da banda acreana ZINGARE, atriz e a primeira poeta a ganhar o Slam das Minas Acre, artivista e professora de violão/ukulele. Matheus é interprete e compositor e integra o grupo Balseiro, do Acre.

Reportagem de Mídia Independente 

O trabalho de reportagem feito pela APIB para explicar a falácia da tese do marco temporal é outro finalista da categoria Reportagem. Embora o resultado final não tenha sido publicado em um veículo de imprensa, mas no próprio site da associação, trata-se de trabalho notável de apuração e de redação em linguagem clara e acessível.

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