Num momento em que a maior floresta tropical do mundo enfrenta problemas imensos de desmatamento fato que ameaça sua condição de maior reserva de oxigênio do mundo, destacamos três Ministros do Meio Ambiente dos países da região amazônica.
Na Colômbia, um Ministro especialista em desmatamento
Ricardo Lozano, Ministro do Meio Ambiente colombiano desde Agosto de 2018, chegou a seu cargo em um momento crucial. O segundo ano de implementação do histórico Acordo de Paz, firmado com as FARC em 2016 veio acompanhado de uma terrível notícia: as taxas de desmatamento dispararam na Amazônia, e muitas regiões onde a antiga guerrilha marxista mantinha controle do território e de negócios como o das drogas.
O geólogo Lozano, é o primeiro Ministro do Meio Ambiente com ampla experiência no setor há mais de uma década, é conhecido por ter dirigido durante 5 anos o IDEAM, o Instituto Meteorológico da Colômbia, que criou em 2012, sob sua liderança, um robusto sistema de monitoramento de coberturas florestais que publica alertas de risco de desmatamento a cada três meses.
Este é precisamente seu maior desafio agora, num momento em que a Colômbia perde 219.973 hectares de floresta anualmente, e em meio a um governo – do Presidente Iván Duque – que chegou ao poder com a bandeira de oposição ao Acordo de Paz e de impulsionar o setor agropecuário. Durante sua carreira, Lozano – cuja nomeação foi bem recebido no setor ambiental – trabalhou extensamente em temas importantes para a Colômbia e a Amazônia, como mudanças climáticas, gestão de risco (em um país que contribui pouco em emissões de Gases do Efeito Estufa, mas que é muito vulnerável aos efeitos de eventos climáticos extremos como inundações e deslizamentos) e manejo de recursos hídricos.
Contudo, o Ministro acredita que estes problemas devam ser compreendidos de forma transversal. “O desmatamento não é um problema somente do Ministério do Meio Ambiente, nem de um Ministro, mas sim do Estado,” ele tem dito em diversas ocasiões.
No Equador, um Ministro vindo do setor petroleiro
Marcelo Mata Guerrero, o Ministro do Meio Ambiente equatoriano, chegou ao cargo em meio às mudanças em ministérios feitas pelo Presidente Lenin Moreno e sua nomeação tem gerado preocupação entre os que trabalham com a Amazônia.
Como advogado fez uma carreira gerenciando questões ambientais, mas quase sempre dentro do setor de hidrocarbonetos: foi o responsável por meio ambiente na petroleira Repsol Equador e assessor de questões ambientais e sociais da empresa estatal Petroecuador. Além disso, teve vários cargos ambientais no Ministério de Minas e Petróleos, onde foi o Diretor Nacional de Proteção Ambiental e coordenador de participação social e relações comunitárias.
Sua designação despertou duras críticas do setor ambiental, que sente que sua trajetória foi a serviço do setor extrativista e não do ambiental. Em especial, questionam seus vínculos com empresas ligadas à exploração de petróleo dentro do Parque Nacional de Yasuní, na Amazônia equatoriana, um tema que dividiu fortemente a sociedade equatoriana. “É inaceitável que hoje se ponha à frente do Ministério do Meio Ambiente um antigo funcionário da primeira empresa petroleira a explorar este Parque Nacional, o mais diverso do Equador, onde existem povos de isolamento voluntário,” disse Elizabeth Bravo da Ação Ecológica, uma das ONGs ambientais mais conhecidas do país. Ela continuou: “Ele participou, além disso, de processos de políticas públicas na área de mineração, então os movimentos ecologistas do país tememos que sua nomeação facilite a operação mineira em zonas de fragilidade ambiental”.
No Peru, uma Ministra que cuida de florestas
Fabiola Muñoz Dodero chegou ao Ministério do Meio Ambiente peruano junto com o Presidente Martín Vizcarra em Abril de 2018, depois de uma década de trabalho no setor florestal. Antes de se tornar Ministra, a advogada dirigiu durante 4 anos o Serviço Nacional Florestal e de Fauna Silvestre (SERFOR), uma agência que depende do Ministério de Agricultura, e que é a autoridade máxima na gestão de florestas no Peru. Antes disso, liderou o programa de cooperação do Serviço Florestal dos Estados Unidos com o Peru.
Durante boa parte de sua trajetória, Muñoz esteve ligada à luta contra as atividades ilegais que vêm dizimando a Amazônia e outros ecossistemas peruanos. No SERFOR, concentrou-se na exploração madeireira e no comércio ilegal de madeira, se somando ao Pacto Nacional de Madeira Legal, que luta para que toda madeira comercializada no Peru tenha origem legal e verificada até 2021. Como Ministra, está se concentrando na mineração ilegal e no desmatamento, dando ênfase à necessidade de criar alternativas para comunidades. “Temos de reconhecer que no Estado não costumamos ser eficientes em gerar condições para que a atividade legal seja mais barata, mais rápida do que a atividade ilegal”, declarou.
Em todo caso, o Governo de Vizcarra quer uma Ministra que seja capaz de fazer pontes com o setor privado. “Precisamos de uma Ministra do Meio Ambiente que entenda que a melhor maneira de preservar o meio ambiente é gerando investimento no país, mas de maneira responsável para o setor onde este investimento seja feito”, disse o Primeiro-Ministro César Villanueva antes de nomeá-la. Nisso, Muñoz pode ajudar, já que foi gerente de relações comunitárias na filial peruana da empresa Anglo American, que opera minas de cobre em Quellaveco.