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Maricá, por Samyra Crespo

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

* Samyra Crespo

Fiz uma visita de horinhas. Ouvi quem trabalha lá, quem mora neste município que está inserido no sistema lagunar mais interessante do estado e que a gente chama de ‘Região dos Lagos’.

Pra começar é um município pequeno e pobre. Não é pobre de ‘marré derci’ mas não tem a vibração de prosperidade das cidades litorâneas como Búzios, Saquarema, Arraial. Fica bem perto do Rio, menos de hora e meia.

O turismo lá é ‘fraco’, e os atrativos para o ‘povo de fora’ (não nascidos ali ou na região) são as melhorias que vêm acontecendo desde que recursos de compensação de atividades da Petrobrás e os royalties do petróleo vêm trazendo um fluxo de caixa considerável para investimentos.

Não vou fazer uma radiografia do município, não caberia aqui nem tenho competência para tal.

Mas alinhar algumas informações que nos dão uma fotografia de por que os municípios litorâneos têm problemas estruturais para se desenvolver, e quando o fazem, tomam o rumo torto de predar seus recursos naturais e a paisagem, um dos seus maiores ativos.

Qual o meu intento? Tenho interesse em fomentar os votos progressistas nas próximas eleições municipais.

Estou convencida de que uma base municipalista progressista poderá resistir à onda da extrema direita e se tornar uma barreira política à investida bolsonarista nas eleições presidenciais de 2026.

Por que visitei Maricá? Porque ali estão acontecendo coisas interessantes à nossa reflexão e ao desenho de estratégias que devemos ter.

Vou portanto, abordar alguns tópicos que considero de crucial importância numa agenda progressista para os nossos municípios.

Maricá me parece um ótimo exemplo, já que tem implementado uma série de projetos inovadores que visam melhorar a qualidade de vida da população.

Vamos lá: uma coisa que choca quando vamos a Maricá é ver em quase toda edificação geradores de energia: e ficamos rapidamente sabendo que a cidade sofre apagões constantes. O déficit de energia é palpável.

Com a mesma rapidez, ficamos cientes de que a água é um bem escasso na cidade e em boa parte da região. Maricá não tem fontes próprias e o abastecimento do sistema da agora gestora Águas do Rio não atende à demanda.

Terceira informação importante – e triste de constatar: a CEDAE ficou 52 anos na cidade e só 3% do esgoto foi tratado. Jogado in natura nas lagoas, com estações mínimas e sucateadas de tratamento, o esgoto polui o que há de mais bonito na paisagem.

Passando pela Lagoa de Araçatiba, não há como não sentir o cheiro do cocô.

Conversando com os técnicos da Sanemar, agência local de saneamento, ficamos sabendo que com 500 milhões de investimento já garantidos para a ampliação e modernização do sistema de saneamento, até 2030 teremos entre 30 e 40% do esgoto tratado, e a universalização só em 2040.

Então, economicamente falando, como uma cidade sem água, sem energia e com graves problemas de saneamento pode se desenvolver?

Esta é a resposta estrutural a ser dada pelos próximos gestores municipais, nos próximos anos.

E vamos examiná-las de perto no meu próximo texto, amanhã.

Tenho certeza de que, falando de Maricá estarei falando de vários municípios semelhantes.

Onde o legado de problemas é histórico e tem uma magnitude considerável, mas que com criatividade, zelo pela democracia e pelos mecanismos da gestão participativa se pode avançar.

Aguardem!

* Samyra Crespo é ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

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