Por Arthur Soffiati
Vários cientistas vêm advertindo que as águas doces das geleiras e dos continentes estão fluindo para o mar, cujo nível se eleva progressivamente. Estudo recente efetuado por um grupo de cientistas liderados por Ki-Weon Seo e publicado na revista “Science” mostra que os continentes perderam água abruptamente entre 2000 e 2003. Operou-se acentuada queda no volume médio de rios e lagos, assim como no lençol freático. A perda foi orçada em 20 milímetros, enquanto os oceanos sofreram uma elevação de 4,4 milímetros.
A Groenlândia, que Trump quer anexar por razões geopolíticas, perdeu 900 bilhões de toneladas de água nos anos citados, enquanto os continentes perderam 1,6 trilhão de toneladas no mesmo período. A perda de água no aquífero Guarani, o segundo maior do mundo, vem perdendo água conforme estudos da Universidade Estadual Paulista. A retirada para consumo público e irrigação não está sendo reposta pelas chuvas devido à rapidez da retirada. Até mesmo o eixo de rotação da Terra foi afetado por esse desequilíbrio. É a chamada oscilação de Chandler.
Mas o que está acontecendo? Trata-se de um fenômeno natural ou provocado por ação da economia de mercado? Embora os cientistas não tenham chegado ainda a uma explicação clara, pode-se pensar, primeiramente, no descomunal processo artificial de drenagem em todos os continentes. Essa drenagem jogou ao mar água doce acumulada em rios e lagos. Contudo, não se afirma que um elemento mineral pode apenas ter seu volume transformado e não esgotado? Por esse raciocínio, pode-se concluir que a água doce corra para os oceanos, seja evaporada (mesmo nos continentes), transforme-se em chuva e se precipite novamente nos continentes e no mar.

Acontece que, ao retornar aos continentes na forma de chuva, a água doce não encontra mais reservatórios naturais e não tenha tempo de se infiltrar no lençol freático. Rapidamente, ela escoa para o mar. A parte que fica sofre poluição por esgoto e por resíduos físicos e químicos.
A divisão, assim, é clara: muita água no mar e pouca água nos continentes. Muita água salgada e pouca água doce, ambas poluídas. Entra em cena o aquecimento planetário, que aquece tanto a água dos oceanos quanto a água dos continentes. O aquecimento provoca evaporação. A água salgada e doce transforma-se em vapor e sobe para a atmosfera. Mas diz o ditado popular que o que sobe desce. De fato, na atmosfera, o resfriamento condensa o vapor, que se precipita na forma de chuva. A água cai nos continentes e nos oceanos. Como a superfície dos continentes é menor que a dos oceanos, chove mais sobre os oceanos que sobre os continentes.

E, de novo, o aquecimento planetário absorve a água precipitada. Nos continentes, a questão é mais grave porque a água é doce e encontra pouco lugar que possa retê-la. A que fica na superfície sofre poluição. A que se infiltra no solo ou não tem tempo de chegar ao destino ou é retirada por grandes empreendimentos, como o agronegócio. Assim, podemos concluir que o volume hídrico continua o mesmo, mas não está nos continentes nem nas geleiras, mas sim no mar e na atmosfera, sendo que as águas continentais sofrem com o consumo crescente para abastecimento público, para a agropecuária e para a indústria.