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Produto químico ameaça áreas marinhas protegidas

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Claudia Mazzeo | Jornalista especializada em ciência, tecnologia e meio ambiente

– Em áreas marinhas protegidas, eles detectam resíduos de poluentes usados na pintura de navios e docas.

– O produto foi proibido no mundo em 2008, porém seu uso nem sempre é ilegal.

Tributil estanho (TBT), produto utilizado em todo o mundo desde a década de 1960 para prevenir a adereça de organismos marinhos às superfícies e prevenir seu crescimento, foi detectado em áreas marinhas protegidas da América Latina em níveis suficientes para alterar o normal funcionamento da biota local.

A presença de resíduos desse poluente, utilizado como aditivo em tintas de navios e docas, pode comprometer os objetivos de conservação de certas áreas protegidas da região, como reservas da biosfera, Sítios Ramsar e Parques Nacionais, alerta estudo que foi publicado no Journal of Environmental Management.

Embora o uso de TBT tenha sido proibido globalmente em 2008, níveis moderados a altos em sedimentos e organismos foram relatados na última década.

“O TBT é um produto químico extremamente perigoso para a saúde pública e ambiental. Esses compostos podem afetar o equilíbrio ecológico em áreas marinhas protegidas, pois é um poderoso desregulador endócrino: há exemplos de populações de gastrópodes que se extinguiram em certas áreas da Inglaterra como resultado da exposição ao TBT”, disse ao SciDev.Net o autor da pesquisa, Ítalo Braga Castro, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Utilizando uma metodologia que incluiu delimitação de áreas, levantamento bibliográfico, inserção de dados em Sistema de Informação Geográfica, avaliação de resultados e determinação de impactos com base em normas de qualidade ambiental, os pesquisadores encontraram 259 registros de TBT e seu efeito biológico sobre 53 áreas marinhas protegidas.

“O artigo faz um gerenciamento de dados muito bom, com georreferenciamento e programas que tratam os dados estatisticamente”, disse ao SciDev.Net Adriana Rosso, professora de engenharia ambiental nas carreiras de Engenharia Industrial e Engenharia de Alimentos da Universidade Nacional de San Martín, em Buenos Aires.

“Mas é preciso lembrar que essas áreas protegem de intervenções antrópicas atuais e futuras, e não de más práticas ambientais do passado, principalmente no que diz respeito à má gestão de substâncias químicas como o TBT e outros poluentes persistentes que estão dispersos por todo o Planeta e apenas eles podem ser mitigados com remediações apropriadas do local e remoção da fonte”, acrescentou.

Mas Braga Castro destaca que uma parte importante dos dados reflete os recentes efeitos biológicos adversos e contaminação e explica que o uso atual de tintas à base de TBT nem sempre é ilegal.

“Para ser ilegal, um país deve ser signatário da convenção da Organização Marítima Internacional (IMO) sobre sistemas antivegetativos e ter legislação a esse respeito. O maior problema é que poucos países latino-americanos são signatários dessa convenção”, observa.

Este acordo só é aplicado integralmente na região pelo Panamá, México, Brasil e Uruguai. Por outro lado, tintas antivegetativas à base de TBT são proibidas no Brasil pela autoridade marítima e existem duas diretrizes sobre os níveis ambientais de TBT para águas naturais e sedimentos.

Na Argentina essas tintas são proibidas pela Prefeitura Naval e, no Chile, o Instituto Nacional de Padronização regulamenta os valores do estanho metálico apenas na água, segundo trabalho publicado por Braga Castro na Chemosphere, revista científica sobre química ambiental, publicada desde 1972 pela Elsevier.

Os organismos afetados incluem 18 espécies de caracóis marinhos com uma anormalidade chamada imposex, um mecanismo que leva as fêmeas a desenvolverem características sexuais masculinas como resultado da exposição ao TBT. A presença de TBT também foi detectada nos tecidos de seis espécies de bivalves, uma espécie de crustáceos e três espécies de peixes em áreas marinhas protegidas do Brasil, Argentina, Equador, Peru, Chile e Venezuela.

Algumas dessas espécies são utilizadas para alimentação, como os moluscos Stramonita brasiliensis, no Brasil, e Odontocymbiola magellanica e Adelomen ancilla, na Argentina, destaca Braga Castro.

“Essas descobertas demonstram que os objetivos de conservação dessas zonas estão ameaçados e que as áreas marinhas protegidas na América Latina não estão protegidas da exposição a produtos químicos e seus impactos”, afirmam os autores na publicação.

O TBT não é o único produto que coloca em risco as áreas protegidas da região, mas é um dos poluentes mais estudados. A variedade de produtos químicos em uso (> 100.000 moléculas) que podem ser potencialmente liberados no ambiente aquático tornam a prevenção virtualmente impossível, de acordo com o estudo.

“Atualmente, os fabricantes de tintas argentinos afirmam em suas fichas técnicas que não possuem TBT. A estratégia a ser adotada no mundo é para substituir o TBT, não prejudicial para os compostos ecossistema de silicone, que conferem a mesma propriedade tintas anti-incrustantes , “disse um SciDev.Net Monica Pinto, um especialista em pinturas de Argentina e um membro da a Society for Protective Coating (SSPC).

Para Mónica Primost, integrante do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico em Aquicultura e Pesca da Universidade Tecnológica Nacional, Colégio Regional de Chubut, na Argentina, apesar dos inúmeros trabalhos citados na pesquisa, “há muito pouca informação disponível e o número de compostos com efeitos desconhecidos é muito grande”.

“Se esta análise representa apenas o impacto de um composto como o TBT [tributilestanho], devemos pensar que ele coexiste com outros tipos de substâncias, podendo gerar, ou potencializar, diversos efeitos deletérios sobre os organismos, e até mesmo afetar os humanos”, diz ele à SciDev.Net.

Ítalo Braga Castro considera que face à ameaça aos objetivos de conservação que os poluentes representam “é importante rever as atividades que podem ser desenvolvidas nestas áreas para proteger a biodiversidade”.

> Link para o estudo completo no Journal of Environment Management

FONTE:

https://www.scidev.net/america-latina/news/contaminacion-amenaza-areas-marinas-protegidas-de-la-region/?utm_source=SciDev.Net&utm_medium=email&utm_campaign=12084919_2021-01-09%20Daily%20Email%20Digest%20-%20Template&dm_i=1SCG,770S7,WVDDF0,T5F5M,1

07/02/2021

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