A “Laudato Si” é o rascunho da declaração final da COP-21
por René Capriles e Lúcia Chayb | ECO21
Sem dúvida a Encíclica “Laudato Si” terá um enorme impacto na COP-21, mas a sua importância, amplitude e profundidade vão muito além do seu contexto no tempo tendo provocado um impacto planetário sem precedentes na análise da relação entre o ser humano e a natureza. Edgar Morin considera a “Laudato Si” como “o ato número 1 para uma nova civilização”. Vandana Shiva ao lembrar que a Encíclica se fundamenta explicitamente numa visão denominada “ecologia integral”, isto é, na ligação inseparável da ecologia com a sociedade e com a economia, lembra o parágrafo 49 da Encíclica que diz: “ hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da Terra como o clamor dos pobres”. E Vandana sentencia: “ isto para mim é a democracia na Terra”. Respondendo a sua formação inicial de químico, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, elaborou a Encíclica ao longo de um ano e solicitou a contribuição de um significativo número de cientistas, filósofos e teólogos como o geneticista Werner Arber, que é o Presidente da Pontifícia Academia das Ciências; o climatologista e membro do IPCC, Hans Joachim Schellnhuber; o economista Partha Dasgupta, cujas pesquisas sobre a medição do bem-estar humano ajudaram a compreender quais são as condições necessárias para o desenvolvimento sustentável. Todos eles regidos pela batuta do bispo salesiano Mario Toso, que foi Secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, o Conselho encarregado de elaborar o primeiro esboço da “Laudato Si”. O Vaticano, ao longo do magistério dos três últimos Papas, aprofundou o entendimento de que a Terra estava chegando a um ponto sem volta na exploração dos seus recursos e que o aquecimento global, além de ter uma parte de origem antrópica, é uma realidade que deve ser enfrentada. Apesar dos poderosos interesses que financiam o negacionismo, o Papa Francisco, tomando emprestadas as palavras de um bispo da igreja ortodoxa, diz no parágrafo 8: “O Patriarca Bartolomeu tem-se referido particularmente à necessidade de cada um se arrepender do próprio modo de maltratar o Planeta, porque todos, na medida em que causamos pequenos danos ecológicos, somos chamados a reconhecer a nossa contribuição – pequena ou grande – para a desfiguração e destruição do ambiente.” E o químico e Papa Francisco conclui: “quando os seres humanos comprometem a integridade da Terra e contribuem para a mudança climática, desnudando-a das suas florestas naturais ou destruindo as suas áreas úmidas; quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar… tudo isso é pecado”. Mas, a sua inspiração mais radical foi explicitamente a obra do geopaleontólogo e padre jesuíta Teilhard de Chardin que reconciliou a ciência com a teologia e abriu o caminho para quase chegar ao panteísmo. Como Teilhard, Francisco assume o evolucionismo não só pelas evidências geológicas e fósseis da evolução do planeta e da espécie humana, mas porque acredita que um dia o pensamento humano estará integrado numa única rede inteligente que dará lugar à noosfera, a inteligência recobrindo toda a biosfera terrestre. Isto é, o ponto ômega da COP-21.