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Agrotóxicos na água não é novidade, mas há outros compostos que também preocupam

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Recentemente, uma matéria jornalística repercutiu importantes informações sobre problemas na qualidade da água bruta envolvendo agrotóxicos, também preocupada com a grande liberação de novos agrotóxicos no Brasil em curso em 2019 e a eventual potencialização da degradação da qualidade de nossos mananciais com estes novos compostos lançados nos cursos de água.

Há de fato inúmeros problemas relacionados à qualidade da água bruta no Brasil para o consumo humano e, como apontado na imprensa, o agrotóxico é um dos compostos responsáveis pelo aumento da degradação de sua qualidade. Mas há também preocupações com nitrogênio e fósforo, cianotoxinas, metais, drogas ilícitas, como cocaína, ou mesmo com remédios diversos e hormônios, e mais recentemente com nanopartículas e plásticos. Para nitrogênio, fósforo, cianotoxinas e metais o tema há mais tempo é debatido e também mais estabelecido.

Para minimizar o impacto desses compostos na qualidade da água bruta e na saúde pública há soluções. Primeiro, controlar os usos dos espaços, pois não se deve permitir qualquer uso em qualquer micro bacia, já que o descontrole no uso potencializa o comprometimento na qualidade da água. Em conjunto, deveria ser realizado o monitoramento da qualidade da água bruta, com ampliação do número de compostos que hoje se estuda e tem avaliado sua concentração.

Complementam os estudos testes de toxicidade com organismos, a serem realizados no laboratório, bem como em campo, no próprio manancial, o que de fato comprovará a toxicidade potencial desses compostos em situação de campo. Neste caso, é necessário alterar a legislação vigente para ampliar a lista dos compostos que hoje são monitorados e dos testes de toxicidade com organismos que também são realizados, já que muitos dos compostos listados acima, apesar de sua toxicidade potencial conhecida, não são contemplados no monitoramento oficial.

Concomitantemente, baseado em estudos de campo, é também fundamental proteger e conservar o manancial considerado em bom estado e manejar e recuperar aquele manancial que hoje se apresenta em pior qualidade. Meios para se fazer isso existem. Deve-se também coletar e tratar o esgoto de modo adequado, conforme a carga e qualidade do esgoto gerado, para que este atinja nível de qualidade de lançamento que minimamente comprometa o manancial.

Isto implica na ampliação do que hoje se pratica de modo rotineiro nas estações de tratamento de esgoto (ETEs), com aplicações de técnicas mais sofisticadas, como as terciárias e quaternárias, mas normalmente mais custosas. Mas a quantidade de ETEs também deve ser ampliada em número para se atingir a universalidade no tratamento de esgoto no Brasil, hoje muitíssimo aquém do adequado.

Esse conjunto de ações (disciplinar, monitorar, manejar, tratar e universalizar) se bem planejados e executados, sem dúvida contribuirão para minimizar e reverter a degradação da qualidade de nossas águas, com sustentabilidade, além de reduzir riscos de contaminações e de doenças. Há histórico de sucesso no Brasil.

No entanto, caso a gestão dos recursos hídricos siga como hoje, no futuro não haverá o que comemorar e esperar melhora na qualidade da água e do sedimento de nossos mananciais. Pelo contrário, seguiremos jogando e contaminando nossos rios e reservatórios com agrotóxicos, remédios, drogas, metais e outros novos compostos produzidos pelo homem, contribuindo para o aumento da degradação do meio ambiente como um todo.

Cabe ao poder público realizar as ações para, na prática, cuidar do manancial, da água bruta, e de instalar ETEs, bem como realizar todas as análises e testes necessários, atestando a qualidade da água bruta para o uso humano, quando comparada com padrões internacionalmente aceitos. Mas também cabe a todos fiscalizar e cobrar ações da Prefeitura e do Estado, visando garantir os interesses e a saúde da população. Vale reforçar que a presença desses compostos nas águas brutas abre a possibilidade real de suas presenças nas águas entregues em nossas torneiras, como já detectados, o que deve ser evitado a todo custo, decorrente das incertezas de seus efeitos na saúde humana no longo prazo, mesmo em baixíssimas concentrações.

Marcelo Pompêo || Professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociêncas da USP

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