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Acordo de Paris: o mundo está 22 bilhões de toneladas de CO₂ além da meta

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Estudo publicado pela revista Nature Communications, na quarta-feira, 29 de Abril, aponta que, em 2030, a emissão mundial de Gases do Efeito Estufa será 22,4 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente (22,4 GtCO₂eq) acima do limite necessário para que o aquecimento global não supere 2°Celsius acima dos níveis pré-industriais. O artigo “Taking stock of national climate policies to evaluate implementation of the Paris Agreement” é assinado por pesquisadores de vários países, entre eles os professores da Coppe/UFRJ Roberto Schaeffer e Pedro Rochedo, e o pesquisador Alexandre Koberle, Doutor em Planejamento Energético pela Coppe.
Em resumo, se mantidas as políticas climáticas atuais, os países não cumprirão o Acordo de Paris. A situação fica ainda mais crítica se levado em conta a recomendação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de o aquecimento global não superar 1,5ºC. Nesse caso, o gap será ainda maior: 28,2 gigatoneladas de CO₂.
Segundo o professor da COPPE, Roberto Schaeffer, para fechar este hiato até 2030, o uso de energia renovável deveria crescer 6,9%, a eficiência energética deveria crescer 9,6% (cenário de 2°C) ou, respectivamente, 13% e 17,5% (cenário de 1,5ºC). O estudo foi baseado nas bases de dados de políticas públicas dos sete países (Brasil, China, Estados Unidos, Índia, Japão, Rússia e União Europeia) que mais emitem gases causadores de Efeito Estufa (GEE) e uma análise de cenários multimodelos.
Os cenários apresentados pelo estudo servem como um alerta para que todos os países acelerem a implementação de tecnologias renováveis e a eficiência energética. A recomendação vale tanto para países emergentes, como Brasil e Índia, quanto para nações em economias em transição, como a Rússia, quanto para economias mais avançadas como as da União Europeia, Japão e Estados Unidos.
Em 2023, serão avaliados os esforços combinados dos países signatários do Acordo de Paris. De acordo com as estimativas, todos os países avaliados falhariam em atingir as próprias contribuições por eles propostas em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês). Mais distantes ainda estarão de cumprir o necessário para atingir as recomendações do IPCC, uma meta mais ambiciosa que limite o aquecimento global a 1,5°C.
O artigo recomenda um cuidadoso redesenho das políticas climáticas em cooperação internacional para que as emissões de Gases de Efeito Estufa simplesmente não migrem de um setor econômico para outro, ou sejam transferidas de um país para outro. Para isso, é necessário o aumento do poder regulatório dos diferentes governos. Modelos de avaliação integrada (IAMs, em inglês), como o Coffee (IAM global) e o Blues (IAM nacional), desenvolvidos por pesquisadores do Programa de Planejamento Energético da Coppe, podem auxiliar neste redesenho.

Guia para a implementação de políticas públicas

A publicação é resultado da maior compilação de dados de políticas climáticas já feita e transposta para IAMs no mundo. Foram utilizados nove modelos integrados de âmbito global e dez de âmbito nacional. Este é o primeiro estudo, revisado por pares, que avalia o impacto de políticas climáticas nacionais como um inventário destas políticas. Para isso, usam um conjunto de IAMs e o utilizam como guia adicional para implementação dessas políticas. A análise foi feita listando políticas de alto impacto desses sete países e as transpondo como parâmetros para os IAMs.
Os pesquisadores utilizaram nove IAMs globais e dez nacionais. Dois desses modelos (um com foco global, o Coffee, e outro nacional, o Blues) foram desenvolvidos no Brasil, no laboratório Cenergia, coordenado pelos professores do Programa de Planejamento Energético da Coppe Roberto Schaeffer, Alexandre Szklo, André Lucena, Pedro Rochedo e Joana Portugal Pereira. Clique aqui (https://coppe.ufrj.br/pt-br/planeta-coppe-noticias/noticias/em-artigo-na-nature-climate-change-professores-da-coppe-revelam-o) e saiba mais sobre eles.
O objetivo do Acordo de Paris é limitar o aquecimento global em até 2ºC (com referência aos níveis pré-industriais) e envidar esforços para que o aumento da temperatura não passe de 1,5. Embora a meta seja global, o seu atingimento depende de políticas que são implementadas por cada país, e suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que devem ser revistas e atualizadas a cada cinco anos, e não são vinculantes legalmente.
Para os sete maiores emissores, a implementação de políticas nacionais deveria reduzir as emissões nacionais em até 9%. Com uma lacuna de implementação pequena para China, Índia, Rússia e Japão, já que esses países estão mais próximos de atingir as suas NDCs, o que não é o caso para a União Europeia, Estados Unidos e Brasil.
A questão crucial que surge da análise é como acelerar a implementação das NDCs e aumentar a ambição destas, e conseguir que o aquecimento global seja bem inferior a 2°C. As políticas atuais são frágeis, sobretudo para a indústria e transportes, e são fragmentadas em relação aos diferentes setores econômicos e países abarcados.

Créditos:

Sidney Coutinho || Jornalista da COPPE

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