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Investir em florestas é solução para economizar água

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Estudo do WRI Brasil mostra que a sustentabilidade econômica e a segurança no
fornecimento de água das concessionárias estão diretamente ligados à restauração de florestas

Um dos históricos e mais persistentes problemas brasileiros, o fornecimento de água potável e de qualidade, ainda avança a passos lentos no país. Porém esse desafio pode ter um aliado de peso: a própria natureza. É o que mostram estudos do WRI Brasil, reunidos em uma publicação lançada esta semana. Investir na chamada infraestrutura verde alavanca a restauração ambiental ao mesmo tempo em que favorece o equilíbrio das contas das concessionárias de água, sejam elas públicas ou privadas.
O documento “Estado da Arte da Infraestrutura Natural para Água” analisou a implementação de Soluções Baseadas na Natureza (as SBNs) em cinco regiões metropolitanas do Sudeste brasileiro: São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. As SBNs consideradas envolvem a conservação, manejo e restauração de florestas, paisagens e ecossistemas. Conheça um pouco mais aqui.

Saúde dos reservatórios

Muitas vezes as áreas de captação de água estão em terrenos degradados, nos quais uma grande carga de sedimentos – terra e sujeira, por exemplo – acaba entrando no sistema de tratamento por causa da erosão. Isso gera mais custos nas operações de tratamento da água, incluindo maior uso de produtos químicos. A restauração florestal dessas áreas reduz a erosão, criando uma barreira natural que impede que os sedimentos cheguem aos cursos de água que abastecem os sistemas de tratamento. Pode parecer um simples detalhe, mas esse cuidado gera economia de milhões. No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, seriam economizados R$338 milhões ao longo de 30 anos; na cidade do Rio de Janeiro, a economia seria de R$156 milhões no mesmo período. Em Belo Horizonte, foi possível aferir que os Sistemas Agroflorestais (SAF) em áreas de captação podem aumentar a renda de pequenos agricultores em até 28%.

Assegurar água e saneamento para todos, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, está entre um dos objetivos do desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas), que enfrenta desafios como o aumento de secas extremas causadas pela mudança climática. Além disso, a poluição da água é um problema significativo em muitas partes do Brasil e pode ser causada por diversos fatores, como escoamento agrícola, despejo industrial, esgoto não tratado e resíduos urbanos. É nesse cenário que as práticas de conservação atuam, já que essa poluição pode afetar diretamente a qualidade da água consumida e com boas práticas, evitada.

A restauração florestal também fortalece a biodiversidade e beneficia o microclima: as árvores liberam vapor d’água que ajuda a regular a periodicidade das chuvas, e com isso manter a saúde dos reservatórios. Florestas ajudam na absorção de nutrientes e protegem o solo de erosão e de tempestades que possam causar deslizamentos. Manter as florestas saudáveis reduz a utilização de produtos químicos e energia elétrica tornando mais barato o tratamento de água para abastecer populações urbanas.

“Os resultados dos nossos estudos mostram que a restauração de florestas e paisagens é uma solução baseada na natureza que gera não só retorno econômico, mas também segurança hídrica, alimentar e social para as populações rurais”, diz Luciana Alves, coordenadora de pesquisa do programa de Florestas do WRI Brasil.

Números

São Paulo – O relatório “Infraestrutura Natural para Água no Sistema Cantareira, São Paulo” trouxe a abordagem inovadora de trazer para a restauração florestal os mesmos cálculos que empresas de saneamento fazem quando querem saber o retorno de seus investimentos em obras de infraestrutura convencional. O estudo mostra que restaurar 4 milhas de florestas em áreas prioritárias do sistema Cantareira reduz a descarga de sedimentos nos reservatórios, melhora a qualidade da água e ainda gera economia no tratamento aplicado pelas concessionárias. Os cálculos indicam, para isso, investimentos de cerca de R$119 milhões. Ao longo de 30 anos, no entanto, a restauração florestal gera economia de R$338 milhões: um retorno de 28%.

Além disso, a restauração dessa área florestal reduz 18.160 toneladas de sedimentos que entram nos reservatórios a cada ano. Na prática, essa economia se dá pela redução de produtos químicos para o tratamento da água e menos operações de dragagem, por exemplo.

Sistema Cantareira / GovBR

Rio de Janeiro – O projeto explica os benefícios de restaurar a bacia do Guandu, que abastece 92% da população da região metropolitana. A restauração de 3 mil hectares em áreas prioritárias reduz 33% dos sedimentos. Ao longo de 30 anos isso evita o uso de 4 milhões de toneladas de produtos químicos e 260 mil MWh de energia elétrica. A população também ganha com isso: ao reduzir o uso de produtos químicos e energia na ETA Guandu, a restauração permite economizar dinheiro no bolso do consumidor. Em 30 anos, a restauração gera economia de R$156 milhões, com retorno de investimento de 13%, compatível com obras de infraestrutura tradicional no setor. Além dos resultados financeiros, a restauração gera benefícios que não entraram nos cálculos do estudo, como sequestro de carbono, refúgio de fauna, entre outros.

Rio Guandu / Filipo Tardim

Belo Horizonte – Na capital mineira, o estudo ainda indicou um diferencial: a geração de renda para agricultores. Os Sistemas Agroflorestais (SAF) podem aumentar a renda de pequenos agricultores em até 28%. Além disso, a restauração de 900 ha de áreas prioritárias evita descarga de 200 toneladas de sedimentos nos rios; reduz de 26,5% no uso de químicos para tratamento de água e representa uma economia de R$2 milhões no sistema de abastecimento.

Vitória – Além dos problemas já citados nas outras cidades, Vitória sofre com o agravante de uma paisagem ameaçada por secas e estiagens severas nos últimos anos. É por isso que a restauração de áreas prioritárias nas bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória pode garantir segurança hídrica para todo o Estado. Além disso, na prática, a união da infraestrutura natural com a convencional gera 50% mais benefícios econômicos do que investir apenas nas infraestruturas tradicionais.

O estudo avaliou a restauração de 2.500 hectares de florestas, que gerariam uma economia de R$ 93 milhões. E as ações já estão acontecendo com iniciativas como o Fundágua (Fundo Estadual de Recursos Hídricos e Florestais), o Programa Reflorestar e o Projeto Florestas para a Vida. Há, ainda, mais benefícios: redução da poluição e do gasto energético – o suficiente para iluminar 130 mil casas. É como se 40 caminhões-caçamba deixassem de ser jogados nos rios todos os anos.

Rio Jucu / Cláudio Paiva

Campinas – Em Campinas, o estudo mostra que é urgente conservar os 78 mil hectares de vegetação nativa, que atualmente seguem ameaçados pelo desmatamento. Há 14 mil hectares degradados. A restauração gera economia de R$1,7 milhão por ano, além de garantir redução de R$6,6 milhões com produtos químicos para o tratamento de água por ano. A boa notícia é que as ações já começaram com o Plano para corredores de biodiversidade; Compensação da infraestrutura tradicional e o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais e Plano Conservador da Mantiqueira.

O estudo como aliado

O documento pode funcionar como grande aliado dos tomadores de decisão dos setores público e de empresas privadas de abastecimento e saneamento. Em São Paulo o estudo se tornou referência para políticas de Pagamentos por Serviços Ambientais e Soluções Baseadas na Natureza. No Rio de Janeiro, apoiou a implementação do plano diretor florestal, que prioriza a infraestrutura natural. Em Vitória, a metodologia do estudo foi replicada pelo estado em outras bacias hidrográficas e o trabalho subsidiou um plano de monitoramento da restauração. Em Campinas, conectou a agenda da restauração com outras políticas públicas, como de desenvolvimento urbano, biodiversidade e água.

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