Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma crescente intensidade de eventos climáticos extremos, que vão desde secas prolongadas até enchentes devastadoras. Esses fenômenos não só causam destruição imediata, mas também intensificam as desigualdades sociais profundamente enraizadas no país. Um estudo realizado por Ida Brzezinska e Paul Jasper, publicado na Economics of Disasters and Climate Change, destaca o impacto devastador da variabilidade da temperatura sobre a riqueza das famílias em países de renda baixa e média, como o Brasil.
A variabilidade da temperatura — marcada por oscilações abruptas e imprevisíveis — afeta diretamente a capacidade de famílias acumularem e manterem riqueza, especialmente nas regiões tropicais, como a Amazônia e o Nordeste. Nessas áreas, os efeitos das mudanças climáticas são mais severos, afetando de forma desproporcional as populações mais vulneráveis.
A dependência da terra para subsistência nas regiões agrícolas do Brasil torna essas comunidades particularmente suscetíveis às variações de temperatura. A queda na produtividade agrícola, causada pelos ciclos de cultivo interrompidos, tem um impacto direto na renda das famílias, empurrando muitas para a pobreza extrema.
Os impactos não se restringem à agricultura. Áreas essenciais como educação e saúde também são profundamente afetadas. O estudo de Brzezinska e Jasper revela que crianças em regiões vulneráveis à variabilidade climática têm menos chances de concluir sua educação, e as condições de saúde se deterioram devido à exposição prolongada ao calor e à falta de infraestrutura adequada. No Brasil, onde as desigualdades regionais já são acentuadas, esses efeitos aumentam a marginalização de comunidades que enfrentam, diariamente, um ciclo de pobreza difícil de quebrar.
A economista Iana Barenboim, sócia da Muva e especialista em desenvolvimento socioeconômico, ressalta que os efeitos das mudanças climáticas no Brasil estão intimamente ligados às desigualdades sociais, principalmente para jovens e mulheres. “As políticas públicas brasileiras, em especial os programas de proteção social, deveriam ser “climaticamente responsivos”, ou seja, adaptadas para lidar com os efeitos das mudanças climáticas de maneira direta e eficaz, garantindo que as populações mais afetadas — majoritariamente pobres, jovens, negras e mulheres — possam se recuperar rapidamente e construir resiliência”.
É urgente pensar políticas públicas que reconheçam a pobreza acentuada pelas
mudanças climáticas e que ajam para mitigar seus efeitos sobre as populações mais
vulneráveis.